Direito
à paisagem
O movimento
de resistência começou silenciosamente quando
os moradores dos chamados "predinhos" de Pinheiros
descobriram que uma construtora, reverente ao estilo neoclássico,
tinha comprado um estacionamento nas imediações.
Além
do desgosto estético de viver ao lado de um monstrengo
neoclássico, sentiram-se vulneráveis: mais cedo
ou mais tarde, viriam para os proprietários dos "predinhos"
as propostas de compra dos seus imóveis. Os terrenos
ali atraem, há muito tempo, a cobiça de especuladores
e de construtores.
Erguidos
na década de 40, aqueles 21 prédios de três
andares - dois apartamentos por andar - transformaram-se numa
espécie de oásis urbano. Os apartamentos são
silenciosos, amplos, iluminados, com pé-direito alto,
cercados de jardim. Com um generoso recuo da rua, não
exibem muros, como se não se rendessem ao pânico
paulistano.
É
uma rara paisagem provinciana, apesar de os prédios
estarem localizados entre a avenida Rebouças e a rua
Teodoro Sampaio - uma barulhenta região na fronteira
com a Vila Madalena. "É refúgio",
conta o morador Daniel Annenberg. Essa cumplicidade facilitou
os encontros informais para que se tramasse a resistência
imobiliária.
O problema
é que os simpáticos "predinhos" não
têm valor arquitetônico nem histórico.
Não se sabia como garantir sua conservação.
Apelaram, então, para Paulo Bastos, um dos mais famosos
arquitetos paulistanos - é o responsável pela
restauração da catedral da Sé e está
fazendo os planos da revitalização do gasômetro,
no Brás, e da "cracolândia". De resto,
ele mora na região. "Aquele conjunto faz parte
da paisagem paulistana e, por isso, merece ser preservado",
justificou, dizendo que os "predinhos" são
exemplo de bom gosto e respeito ao trânsito das ruas.
Montou-se,
então, um arrazoado técnico com base no direito
à paisagem, apresentado pelos moradores às entidades
de preservação do patrimônio. Ganharam
a simpatia do arquiteto Jorge Wilheim, secretário municipal
do Planejamento. "Gosto da idéia", afirma.
Nesta
semana, o movimento de resistência recebeu a notícia
de que está prestes a vencer a guerra: o conselho municipal
que cuida do patrimônio da cidade deu indicações
de que os pequenos edifícios serão tombados
- e farão parte para sempre da paisagem paulistana.
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