São
Paulo, de Lula
A partir
de hoje, com a posse de Luiz Inácio Lula da Silva,
São Paulo ganha o status não-oficial de segunda
capital do Brasil -um cenário onde, informalmente,
as grandes decisões federais serão tramadas
e articuladas. Nunca, em toda a sua história, a cidade
foi residência e ponto de encontro de tanta gente politicamente
influente.
Assemelha-se
agora ao que foi o Rio de Janeiro por algum tempo, depois
de transferida a capital do país para Brasília.
Por muito tempo, e com certa razão, os cosmopolitas
cariocas desdenharam os paulistanos, que, deslocados das intimidades
da corte, eram vistos como provincianos. E até hoje
existe quem defenda a volta da capital para o Rio, local supostamente
com mais história para abrigar a cúpula da política
brasileira.
São
Paulo é o ponto de confluência natural ou de
passagem obrigatória do presidente e dos ministros
da Fazenda, da Casa Civil, do Desenvolvimento, da Agricultura,
da Previdência, da Justiça e do Planejamento,
além do presidente do Banco Central, um goiano cuja
vida profissional está ligada à cidade, onde
mantém uma casa.
Aqui moram
ou passam com destino ao interior do Estado o assessor de
imprensa, o porta-voz e o chefe da comunicação,
assim como o presidente do PT, o futuro líder do governo
no Senado e o responsável pelo programa contra a fome,
a mais importante bandeira social da primeira fase da administração
de Lula. Não é só.
Além
dos novos donos do poder federal, São Paulo abriga
o quartel-general de Fernando Henrique Cardoso, candidato
a principal formador de opinião do país. Já
conta com o mais poderoso governador e a mais poderosa prefeita,
além dos principais líderes sindicais e empresariais.
Eventualmente um acordo social poderá ser anunciado
em Brasília, com pompa e circunstância, mas,
certamente, terá sido articulado na cidade.
Essa confluência
de tanta gente poderosa em somente uma cidade é uma
ironia. Nem o mais ferrenho e esnobe dos quatrocentões
paulistanos, fluente em francês e íntimo da cultura
européia, sonharia em fazer politicamente pela cidade
o que fez um migrante nordestino.
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