Laboratório
Ibirapuera
A prefeita
Marta Suplicy está encontrando resistências por
ter decidido valorizar uma área abandonada do parque
Ibirapuera, hoje frequentada apenas por gays, que, à
noite, transitam em suas margens, encarados por moradores
da vizinhança como uma ameaça à moral
e aos bons costumes.
Silenciosamente,
porém, a fonoaudióloga Selma Reyes atrai para
o parque habitantes da cidade que vivem na fronteira da marginalidade,
possivelmente vistos naquelas redondezas (de bairros de elite)
como seres ainda mais "ameaçadores" do que
os gays.
Apesar
das críticas por estar supostamente estimulando a "anomalia"
sexual, a prefeita pediu às associações
de defesa dos homossexuais que elaborassem um código
de convivência no parque. O objetivo dela é que
aquele trecho abandonado venha a ser iluminado e a ganhar
um jardim. "É um espaço a ser utilizado
por todos, sem distinção", defende Stela
Goldenstein, secretária municipal do Meio Ambiente,
também alvo dos ataques. Selma conseguiu evitar a desconfiança
dos vizinhos.
Com o
apoio do poder público, Selma Reyes começou
a usar o Ibirapuera para trabalhar com portadores de doenças
mentais. Depois, transformou o parque numa espécie
de laboratório para experimentos de inclusão
com idosos e portadores de deficiência física.
Nas oficinas ao ar livre, percebia crianças e adolescentes
que pediam esmolas ou tramavam furtos; muitos iam só
para dormir.
Entre
os casos mais difíceis estavam os jovens entre 15 e
20 anos. "Eles não estudam nem trabalham. A probabilidade
de consumirem e traficarem drogas, assim como de praticarem
assaltos, é muito grande", conta a fonoaudióloga.
Daí o projeto Crer-Ser - ao mesmo tempo em que, antes
zanzando desocupados, cuidam dos jardins, os jovens ganham
dinheiro e aprendem jardinagem. "Eles aprendem e, ao
mesmo tempo, cuidam da área verde."
Por meio
de convênios, os jovens, depois de treinados em jardinagem,
saem para outros empregos. Muitos deles não sabiam
nem sequer ler as instruções nos sacos de terra
e pediram que os encaminhassem à escola. "Ninguém
era obrigado a estar na escola para fazer nosso curso".
E, assim, escaparam da marginalidade - e da irritação
dos vizinhos do Ibirapuera.
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