Home
 Tempo Real
 Coluna GD
 Só Nosso
 Asneiras e Equívocos 
 Imprescindível
 Urbanidade
 Palavr@ do Leitor
 Aprendiz
 
 Quem Somos
 Expediente
  

Dia 28.11.02

Laboratório Ibirapuera

A prefeita Marta Suplicy está encontrando resistências por ter decidido valorizar uma área abandonada do parque Ibirapuera, hoje frequentada apenas por gays, que, à noite, transitam em suas margens, encarados por moradores da vizinhança como uma ameaça à moral e aos bons costumes.

Silenciosamente, porém, a fonoaudióloga Selma Reyes atrai para o parque habitantes da cidade que vivem na fronteira da marginalidade, possivelmente vistos naquelas redondezas (de bairros de elite) como seres ainda mais "ameaçadores" do que os gays.

Apesar das críticas por estar supostamente estimulando a "anomalia" sexual, a prefeita pediu às associações de defesa dos homossexuais que elaborassem um código de convivência no parque. O objetivo dela é que aquele trecho abandonado venha a ser iluminado e a ganhar um jardim. "É um espaço a ser utilizado por todos, sem distinção", defende Stela Goldenstein, secretária municipal do Meio Ambiente, também alvo dos ataques. Selma conseguiu evitar a desconfiança dos vizinhos.

Com o apoio do poder público, Selma Reyes começou a usar o Ibirapuera para trabalhar com portadores de doenças mentais. Depois, transformou o parque numa espécie de laboratório para experimentos de inclusão com idosos e portadores de deficiência física. Nas oficinas ao ar livre, percebia crianças e adolescentes que pediam esmolas ou tramavam furtos; muitos iam só para dormir.

Entre os casos mais difíceis estavam os jovens entre 15 e 20 anos. "Eles não estudam nem trabalham. A probabilidade de consumirem e traficarem drogas, assim como de praticarem assaltos, é muito grande", conta a fonoaudióloga. Daí o projeto Crer-Ser - ao mesmo tempo em que, antes zanzando desocupados, cuidam dos jardins, os jovens ganham dinheiro e aprendem jardinagem. "Eles aprendem e, ao mesmo tempo, cuidam da área verde."

Por meio de convênios, os jovens, depois de treinados em jardinagem, saem para outros empregos. Muitos deles não sabiam nem sequer ler as instruções nos sacos de terra e pediram que os encaminhassem à escola. "Ninguém era obrigado a estar na escola para fazer nosso curso". E, assim, escaparam da marginalidade - e da irritação dos vizinhos do Ibirapuera.

 

 
                                               Subir    
   ANTERIORES
c
  Hospital de brincadeira
  O professor Manelão
  Três estrelas esquecidas do PT
  Aprendiz de urbanista
  Procura-se uma escola
  FHC, o sem-garagem
  O artista da violência
  Salvos pela mágica
  A praça do patriarca Chiquinho
  O Ibirapuera inacabado de Niemeyer
  Passado presente do futuro
  A música que virou biblioteca
  Museu da antidecoração
  Escola da vida
  O poeta da motocicleta
  O rabino e as prostitutas judias
  O palácio de Genoíno
  Vivendo na própria pintura
  Jardim dos gays
  O jardim dos sonhos de Cafu
  Das prostitutas aos arquitetos