Mulher
ensina homem a pilotar
Tânia Marques tem seis irmãos
homens que se apaixonaram pela velocidade das motos. Nenhum
deles escapou da fatalidade: dois morreram e os demais sofreram
acidentes. Um deles submeteu-se, recentemente, a uma transfusão
de sangue.
Apesar de testemunharem os perigos, os sobrinhos
contaminaram-se da paixão pelo motociclismo. "Não
sei se alguém no mundo já sentiu tanto ódio
das motos como eu."
Ela seria uma das últimas pessoas a
ganharem dinheiro com motocicletas - afinal, nenhuma invenção
lhe trouxe tantas desgraças. Mas está conseguindo
- e cada vez mais.
Depois que seus dois irmãos morreram
- um dos quais vítima de uma mulher que dirigia um
automóvel enquanto conversava ao celular -, Tânia
desenvolveu a raiva da moto e, ao mesmo tempo, a compaixão
pelo motociclista. Andar pelas ruas e presenciar a acrobacia
selvagem dos motoboys significa para ela a lembrança
permanente da catástrofe familiar.
Da mistura de raiva com compaixão,
nasceu um negócio: ela lançou neste ano a profissão
de "motogirl". "Talvez algum psicólogo
me ajude a entender por que abri esse negócio."
As "motogirls" são obrigadas a respeitar
as normas do trânsito, estão proibidas de fazer
acrobacias e devem vestir-se com elegância. Ganham,
no mínimo, R$ 900 mensais. Como devem cuidar da aparência,
recebem ajuda para ir ao cabeleireiro ou para comprar produtos
de beleza.
Apostando na civilidade urbana, o marketing
feminino, pelo jeito, pegou. A empresa começou com
dez motogirls e pretende, até o fim do ano, quadruplicar
o número de funcionárias. Mesmo sendo o slogan
da empresa "rapidez com um toque feminino", homens
se candidatam a trabalhar lá. "Eles saem daqui
revoltados porque não aceitamos homens. Mas, se entrar
um aqui, acho que estraga."
Além da satisfação financeira,
Tânia comemora o fato de, até agora, não
ter ocorrido nenhum acidente com suas funcionárias.
Quem sabe esteja aí a sua motivação psicológica.
Pelo menos em sua empresa, ao contrário do que ocorre
em sua família, ela consegue colocar ordem nos motociclistas.
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