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20/09/2005
-
09h10
CLÁUDIA TREVISAN
da Folha de S.Paulo
Representantes do setor privado embarcam hoje para a China divididos sobre a atitude que deve ser adotada na negociação que tentará levar o país asiático a autolimitar as exportações ao Brasil.
A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) lidera o grupo dos céticos e intransigentes. No extremo oposto, está o Conselho Empresarial Brasil-China, que reúne empresas com investimentos no país asiático. Entre ambos, o Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), que defende uma posição conciliadora, apesar de ter dúvidas quanto ao cumprimento de um acordo pelos chineses.
A missão que viaja hoje a Pequim vai preparar os encontros que o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, terá nos dias 28 e 29 com o ministro do Comércio da China, Bo Xilai.
Comandada pelo secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Armando Meziat, a missão será integrada por setores que se consideram prejudicados pela elevação das exportações chinesas ao Brasil, como calçados, têxtil, máquinas e pneus. O objetivo é chegar a acordos que coloquem limites às vendas da China para o Brasil.
O diretor do Departamento de Comércio Exterior do Ciesp, Humberto Barbato, tem uma lista de 99 itens que sofreram aumento médio de importação da China de 88,5% em 2005.
As negociações foram propostas pelo governo de Pequim, que tenta evitar a aplicação de salvaguardas por parte do Brasil. Esse instrumento permite a imposição de tarifas ou cotas que restringem a importação de certos produtos durante um prazo definido.
Quando entrou na OMC (Organização Mundial do Comércio), em 2001, a China aceitou a imposição de salvaguardas específicas para suas mercadorias, que facilitam a aplicação do mecanismo. Mas, para usar esse procedimento, os países-sócios da OMC precisam regulamentá-lo, o que ainda não foi feito pelo Brasil.
A Fiesp defende que o ministro Furlan só viaje para a China depois que forem publicados os decretos com a regulamentação das salvaguardas, o que já foi descartado por integrantes do governo.
Amadorismo
A Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas) bate na mesma tecla e vai mais longe, ao afirmar que o setor não está disposto a fechar nenhum acordo com os chineses nessa negociação. "Essa missão foi organizada de maneira amadora e improvisada, e o governo não tem dados para negociar", diz o vice-presidente da Abimaq, Carlos Pastoriza.
O Ministério do Desenvolvimento rebate e afirma ter dados de 20 setores envolvidos na negociação. A assessoria do ministério afirma que foram solicitadas informações à Abimaq no dia 29 de agosto, sem estabelecimento de prazo limite para seu envio. A resposta foi encaminhada no dia 2 deste mês, quando o ministério solicitou dados adicionais.
Além disso, técnicos do governo lembram que a regulamentação das salvaguardas vem sendo debatida desde maio. Nesse período, os setores que se julgam atingidos deram declarações reiteradas de que estavam prontos para iniciar os processos contra a China.
O principal defensor da negociação é o Conselho Empresarial Brasil-China, que tenta evitar decisões que azedem a relação bilateral, classificada de "estratégica" pelos presidentes de ambos os países no ano passado.
"Há várias empresas brasileiras que estão ganhando dinheiro na China e não há interesse em hostilizar um país que está contribuindo para o crescimento do Brasil", diz Renato Amorim, secretário-executivo do Conselho.
Nos últimos cinco anos, ressalta Amorim, as exportações brasileiras para a China cresceram de maneira "extraordinária". Além disso, a demanda chinesa provocou o aumento de preço no mercado internacional das commodities vendidas pelo Brasil.
Amorim acredita que a regulamentação das salvaguardas na véspera da reunião de Furlan e Bo Xilai vai passar aos chineses uma mensagem de confronto, posição compartilhada pelo Ciesp.
"Não é porque temos interesses na China que podemos negligenciar os riscos que a relação apresenta ao Brasil", diz Rafael Benke, gerente do Departamento de Relações Internacionais da Fiesp.
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Empresas divergem ao negociar com China
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da Folha de S.Paulo
Representantes do setor privado embarcam hoje para a China divididos sobre a atitude que deve ser adotada na negociação que tentará levar o país asiático a autolimitar as exportações ao Brasil.
A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) lidera o grupo dos céticos e intransigentes. No extremo oposto, está o Conselho Empresarial Brasil-China, que reúne empresas com investimentos no país asiático. Entre ambos, o Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), que defende uma posição conciliadora, apesar de ter dúvidas quanto ao cumprimento de um acordo pelos chineses.
A missão que viaja hoje a Pequim vai preparar os encontros que o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, terá nos dias 28 e 29 com o ministro do Comércio da China, Bo Xilai.
Comandada pelo secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Armando Meziat, a missão será integrada por setores que se consideram prejudicados pela elevação das exportações chinesas ao Brasil, como calçados, têxtil, máquinas e pneus. O objetivo é chegar a acordos que coloquem limites às vendas da China para o Brasil.
O diretor do Departamento de Comércio Exterior do Ciesp, Humberto Barbato, tem uma lista de 99 itens que sofreram aumento médio de importação da China de 88,5% em 2005.
As negociações foram propostas pelo governo de Pequim, que tenta evitar a aplicação de salvaguardas por parte do Brasil. Esse instrumento permite a imposição de tarifas ou cotas que restringem a importação de certos produtos durante um prazo definido.
Quando entrou na OMC (Organização Mundial do Comércio), em 2001, a China aceitou a imposição de salvaguardas específicas para suas mercadorias, que facilitam a aplicação do mecanismo. Mas, para usar esse procedimento, os países-sócios da OMC precisam regulamentá-lo, o que ainda não foi feito pelo Brasil.
A Fiesp defende que o ministro Furlan só viaje para a China depois que forem publicados os decretos com a regulamentação das salvaguardas, o que já foi descartado por integrantes do governo.
Amadorismo
A Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas) bate na mesma tecla e vai mais longe, ao afirmar que o setor não está disposto a fechar nenhum acordo com os chineses nessa negociação. "Essa missão foi organizada de maneira amadora e improvisada, e o governo não tem dados para negociar", diz o vice-presidente da Abimaq, Carlos Pastoriza.
O Ministério do Desenvolvimento rebate e afirma ter dados de 20 setores envolvidos na negociação. A assessoria do ministério afirma que foram solicitadas informações à Abimaq no dia 29 de agosto, sem estabelecimento de prazo limite para seu envio. A resposta foi encaminhada no dia 2 deste mês, quando o ministério solicitou dados adicionais.
Além disso, técnicos do governo lembram que a regulamentação das salvaguardas vem sendo debatida desde maio. Nesse período, os setores que se julgam atingidos deram declarações reiteradas de que estavam prontos para iniciar os processos contra a China.
O principal defensor da negociação é o Conselho Empresarial Brasil-China, que tenta evitar decisões que azedem a relação bilateral, classificada de "estratégica" pelos presidentes de ambos os países no ano passado.
"Há várias empresas brasileiras que estão ganhando dinheiro na China e não há interesse em hostilizar um país que está contribuindo para o crescimento do Brasil", diz Renato Amorim, secretário-executivo do Conselho.
Nos últimos cinco anos, ressalta Amorim, as exportações brasileiras para a China cresceram de maneira "extraordinária". Além disso, a demanda chinesa provocou o aumento de preço no mercado internacional das commodities vendidas pelo Brasil.
Amorim acredita que a regulamentação das salvaguardas na véspera da reunião de Furlan e Bo Xilai vai passar aos chineses uma mensagem de confronto, posição compartilhada pelo Ciesp.
"Não é porque temos interesses na China que podemos negligenciar os riscos que a relação apresenta ao Brasil", diz Rafael Benke, gerente do Departamento de Relações Internacionais da Fiesp.
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