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14/11/2005 - 09h30

Edemar é acusado de desviar US$ 27 mi

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MARIO CESAR CARVALHO
da Folha de S.Paulo

Levantamento feito pela Wolfe Associates, empresa especializada em rastreamento de dinheiro, descobriu que o banqueiro Edemar Cid Ferreira desviou para gastos pessoais US$ 26,8 milhões da Alsace-Lorraine, uma "offshore" que manteve nas Ilhas Virgens Britânicas.

Esse montante, correspondente a R$ 58 milhões quando corrigidos pelo câmbio atual, teria sido desviado exclusivamente de uma conta que a Alsace mantinha no Bank of Europe entre 2001 e 2004.

No sábado, a intervenção do BC no Banco Santos completou um ano. O rombo deixado é de R$ 2,29 bilhões, segundo os números da autoridade monetária.

O rastreamento feito por Barry Wolfe, advogado inglês que já trabalhou para a empresa de consultoria KPMG, mostra que Edemar usou os recursos para comprar obras de arte e pagar gastos pessoais como o seu cartão de crédito e contas de limusine. "Há indícios muito fortes de que ele tenha pago esses gastos com dinheiro dos clientes", afirma.

Saíram da Alsace os dólares que Edemar usou para pagar o arquiteto que cuidou da decoração de sua casa, o norte-americano Peter Marino, e casas de leilão como a Sotheby's e a Christie's, sempre de acordo com o levantamento.

Marino, um decorador que trabalha para grifes como a Chanel e Louis Vuitton, recebeu US$ 5,95 milhões (R$ 12,9 milhões, atualmente), segundo os dados de Wolfe. O valor é superior ao lançado em uma auditoria sobre os gastos na casa do banqueiro, revelada pela Folha em 9 de outubro --R$ 8,9 milhões.

A Alsace pagou US$ 2,7 milhões para a casa de leilões Christie's e US$ 1,27 milhão para a Sotheby's. A "offshore" gastou US$ 66,8 mil entre 2001 e 2003 com o aluguel de limusines em Nova York.

Edemar obtinha recursos para a Alsace por meio da venda de certificados de participação dessa "offshore" para clientes do Banco Santos.

Funcionava assim: o certificado era uma espécie de ação da empresa, a qual renderia até o dobro das aplicações internacionais, segundo o banco.

Foi dessa maneira que passou pela Alsace cerca de US$ 1,5 bilhão, entre recursos que entravam e saíam. A Alsace funcionava como uma conta centralizadora das diversas "offshores" que Edemar mantinha no exterior, de acordo com Wolfe.

Desse montante, a conta da Alsace no Bank of Europe recebeu US$ 450 milhões. Os US$ 26,8 milhões que o banqueiro teria desviado saíram daí.

O desvio era facilitado porque Edemar controlava tanto a Alsace como o Bank of Europe, segundo o procurador da República Silvio Luis Martins de Oliveira defende na ação penal que corre na Justiça federal contra o banqueiro --ele nega ter sido o dono do Bank of Europe. Na ação, o banqueiro é acusado de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta de instituição financeira e de manter ilegalmente contas no exterior.

O levantamento de Wolfe joga luz sobre a forma pela qual o dinheiro chegava à Alsace. Uma das contas que remetiam dinheiro para a "offshore" era operada pelo doleiro Helio Laniado, preso em agosto deste ano em Praga (República Tcheca) pela Interpol.

A conta, batizada Braza, era do Merchantes Bank de Nova York. Laniado é acusado pela Justiça Federal de ter movimentado US$ 1,2 bilhão entre 1995 e 2002.

A conta Braza enviou US$ 24,4 milhões para a Alsace e recebeu US$ 16,1 milhões da "offshore".

Wolfe diz que Edemar passou a ameaçá-lo depois que fez o levantamento. O banqueiro pediu à polícia que instaurasse um inquérito para apurar "possível extorsão" por parte do advogado. "A ação é para intimidar. Sou advogado inglês e represento clientes estrangeiros que perderam dinheiro no Banco Santos."

Outro lado

Edemar Cid Ferreira informou, por meio de Ricardo Tepedino, um de seus advogados, que não reconhece como dele nenhum dos pagamentos feitos pela Alsace. Os pagamentos eram ordenados pelos clientes da Alsace, diz o advogado.

A Alsace tinha por objetivo administrar recursos de terceiros até ser liquidada no início deste ano, relata Tepedino. Nenhum dos clientes da empresa era brasileiro ou residia no Brasil, afirma.

Os recursos administrados pela Alsace eram aplicados no mercado internacional e no Brasil. Foi com dinheiro da Alsace, exemplifica Tepedino, que uma empresa chamada Finsec comprou créditos de difícil recebimento do Banco Santos. A Alsace esperava ter lucros ao receber esses créditos.

O banqueiro diz que fundou a Alsace, mas nunca foi o seu administrador, segundo o advogado.

Tepedino diz que o autor do levantamento sobre os pagamentos da Alsace, o advogado inglês Barry Wolfe, "já fez todo tipo de pressão" sobre Edemar.

Tanto que o banqueiro já solicitou à polícia que instaure inquérito para apurar "extorsão e exercício ilegal da advocacia no Brasil", segundo ele. A polícia ainda não decidiu se o inquérito será instaurado.

Especial
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