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15/01/2006 - 09h13

Mestrado dobra renda do trabalhador

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ANTÔNIO GOIS
PEDRO SOARES
da Folha de S.Paulo, no Rio de Janeiro

Apesar da queda generalizada na renda em todos os níveis de escolaridade de 1995 a 2004, ter um diploma, de preferência acrescido de mestrado ou doutorado, continua fazendo muita diferença no mercado de trabalho. Em contrapartida, nesse mesmo período, diminuiu muito o diferencial de quem tinha completado apenas o ensino médio, já que foram esses os trabalhadores que mais perderam renda.

Esses dados são de uma tabulação da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE, feita a pedido da Folha pelo sociólogo Álvaro Comin, do departamento de sociologia da USP e do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).

Em 2004, a Pnad indicava que o trabalhador com mestrado ou doutorado completo tinha renda média de R$ 4.599. Esse valor é 96,3% maior do que o verificado entre os que tinham completado apenas o ensino superior, que era de R$ 2.342.

Apesar de a renda média de quem tem doutorado e mestrado ter caído 24% de 1995, quando chegava a R$ 6.062, a 2004, a distância que separa esses trabalhadores ultra-escolarizados dos que haviam parado de estudar após completar a universidade aumentou no período. Em 95, a diferença na renda média entre os dois perfis de trabalhador era de 84,2%. Isso ocorreu porque os que tinham nível superior tiveram queda maior do que os com mestrado e doutorado (28,8%).

No entanto, nenhum trabalhador viu sua renda cair tanto no período quanto o que possuía apenas o diploma de nível médio. Por essa razão, o grande degrau de rendimento continuava sendo do ensino médio para o ensino superior. A renda média dos que conseguiram passar pelo funil da universidade era 173,3% maior do que a dos que haviam parado no ensino médio.

O período de 1995 a 2004 é marcado por perdas sucessivas na renda média dos trabalhadores em todos os níveis de escolaridade. Esse quadro, no entanto, é mais acentuado para os que tinham apenas diploma de nível médio. Em 1995, a renda média deles era de R$ 1.335. Em 2004, caiu 35,8% e chegou a R$ 857.

Como a queda foi menos intensa no nível de escolaridade logo abaixo (aqueles que completaram apenas o ensino fundamental), o diferencial desse trabalhador no mercado de trabalho foi o que mais diminuiu. Em 1995, ter diploma de nível médio significava uma renda média 71,2% maior em relação ao ensino fundamental completo. Nove anos depois, essa diferença caiu para 46,6%.

O trabalhador que teve a menor perda em sua renda foi o de baixíssima escolaridade (menos de quatro anos de estudo), cujo rendimento caiu 19%, ao passar de R$ 488 para R$ 395.

A segunda menor perda ocorreu entre os que completaram quatro anos de estudo, com queda na renda de 22%. Esse segmento, no entanto, foi o único a ter apresentado aumento na renda quando se compara 2003 com 2004. Enquanto todos os outros trabalhadores tiveram queda de um ano para o outro, esses conseguiram aumentar seu rendimento médio em 2,4%.

Grande degrau

"Sem dúvida, o nível superior continua sendo o grande degrau. O ensino médio é que já apresenta claramente sinais de perda de importância, tanto que, quando olhamos os dados de desemprego para os últimos 15 anos, vemos que é nesse segmento que ele mais cresce", afirma Comin.

O economista Cláudio Dedecca, da Unicamp, afirma que a queda do rendimento entre os trabalhadores com nível médio está ligada também ao aumento de oferta de trabalhadores com essa escolaridade e aos processos de contratação das empresas.

"Mesmo no caso de uma vaga que não exige tanta qualificação, se a empresa, no processo de recrutamento, não faz exigência de escolaridade, vão aparecer 5.000 trabalhadores para disputar aquele emprego. Se ele coloca a exigência de nível médio, a procura é menor, e o processo de escolha é mais simples e menos caro", explica Dedecca.

Por causa das altas taxas de desemprego no período, Dedecca afirma que o rendimento da população com nível médio caiu porque eles passaram a ocupar postos de menor remuneração.

Marcelo de Ávila, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), também ressalta uma "maior seletividade" do mercado de trabalho, possível graças ao aumento da qualificação da força de trabalho.

Segundo ele, todas as pesquisas de emprego mostram uma perda efetiva no número de vagas de pessoas com até sete anos de estudo (fundamental incompleto), o que revela a maior seletividade das empresas na hora de contratarem. Tal movimento, diz, só é possível porque há um grande contingente de pessoas com nível médio no mercado de trabalho.

Com a grande oferta de trabalhadores de nível médio, diz, a tendência é que esse grupo se empregue com salários menores, o que reduz o rendimento médio desse grupamento. "Se uma empresa dispensar um empregado com ensino médio, há 500 mil na fila com o mesmo nível ou até mais qualificados", afirmou.

Para Ávila, o que leva uma pessoa hoje a fazer uma universidade é, mais do que uma esperança de aumento salarial, a perspectiva de aumentar sua empregabilidade:

"Antes, as pessoas faziam uma faculdade para aumentar seus salários. Atualmente, mais anos de estudo não são garantia de um salário mais alto. O que as pessoas buscam ao estudarem mais é ter uma chance maior de se empregarem".

Especial
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