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05/02/2006
-
10h26
DANIEL CASTRO
Colunista da Folha de S.Paulo
A movimentação em Brasília na última semana de representantes dos três sistemas de TV digital escondeu a verdadeira "guerra" que está sendo travada nos bastidores: a disputa entre as redes de TV e as empresas de telefonia pelo modelo econômico que será adotado no país com a nova tecnologia.
Hoje, na TV analógica, para transmitir um único sinal as redes precisam de uma freqüência com a largura de 6 MHz. Com a digitalização e a compressão dos sinais, caberá muito mais informação (vídeo, áudio, dados) nesses mesmos 6 MHz. Assim, em vez de um só sinal, as emissoras poderão irradiar quatro simultaneamente. Em outras palavras, uma emissora pode virar quatro.
As teles não querem o "monopólio" das TVs sobre o espectro de UHF e VHF e travam uma guerra para tirar um pedaço dele, que usariam para explorar internet de banda larga, telefonia e venda de vídeo sob demanda.
O modelo econômico é que definiria se as TVs manterão seus 6 MHz ou se perderão parte deles para novas emissoras e para as teles, na chamada convergência. Dependendo do modelo, a TV digital poderá movimentar no Brasil até R$ 100 bilhões nos próximos anos, segundo empresários.
TVs e teles são as grandes forças no tabuleiro da TV digital. As primeiras têm poder político. As segundas, poder econômico (faturaram R$ 100 bilhões em 2004, 14 vezes mais que as redes, e são grandes financiadoras de campanhas eleitorais). Fornecedores de tecnologia (japoneses, americanos e europeus) e fabricantes de equipamentos são atores secundários nessa questão, que começa a ser concluída na próxima sexta-feira, quando o governo federal deverá divulgar relatório final com estudos sobre TV digital.
Além de aspectos econômicos e tecnológicos, a definição da TV digital tem implicações político-eleitorais. Está em jogo a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo analistas ouvidos pela Folha, se Lula fizer o que as TVs querem --ou seja, optar já pelo padrão japonês e limitar o acesso das teles ao espectro de TV digital--, ele terá a gratidão das emissoras, que retribuirão com uma cobertura generosa na campanha.
"O governo se move no sentido de que uma aliança com a Globo significa uma campanha mais tranqüila. De outro lado, isso pode ter conseqüências terríveis", afirma Celso Schröder, coordenador-geral do FNDC (Fórum Nacional pela Democratização das Comunicações), entidade que faz parte do conselho consultivo do SBTVD (Sistema Brasileiro de TV Digital) e que defende o compartilhamento do espectro por canais públicos (como TV Senado), comunitários e universitários.
A TV digital provocou um racha no governo. De um lado, está o ministro Hélio Costa (Comunicações), que defende abertamente o padrão japonês, em oposição às teles. "O sistema japonês é o melhor para a TV aberta brasileira. O modelo de negócios da TV digital será o mesmo do da analógica. Não estamos discutindo telefonia digital, mas televisão digital", disse Costa em entrevista à Folha.
O grande "rival" de Costa entre os quatro ministros que mais têm poder de influenciar Lula nessa decisão é Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) --os outros são Antonio Palocci Filho (Fazenda) e Dilma Rousseff (Casa Civil). Furlan é visto pelos donos de TVs como aliado das teles e defensor do padrão europeu ou americano. Furlan não quis dar entrevista.
A forma como o governo vem conduzindo as discussões sobre TV digital é criticada por quase todos os "atores" envolvidos na questão --menos as redes. "A maneira como o Ministério das Comunicações foca a discussão está equivocada. A discussão sobre tecnologia no momento é irrelevante", afirma Marcos Magalhães, presidente da Philips para a América Latina. Para Magalhães e Schröder, antes de discutir qual o padrão, o país deveria definir o modelo econômico (quais serviços terá, qual será o modelo de negócios, qual a inserção global?).
A opção por definir antes o padrão tecnológico pode favorecer as TVs. A decisão agora (o governo promete a definição para este mês) daria vantagem ao padrão japonês, porque ele, segundo as redes e a Universidade Presbiteriana Mackenzie, que fez testes nos três padrões, seria o único que oferece alta definição e recepção em veículos e celulares na mesma faixa de 6 MHz das emissoras de TV. Mas, em pouco tempo, todos os padrões deverão ser equivalentes. Por que não adiar? "Se a decisão for adiada para o ano que vem, as TVs terão muito menos poder", esclarece João Carlos Saad, presidente da Bandeirantes.
Por 2006 ser ano de eleições, parte do governo (e todas as redes) tem pressa em definir a tecnologia. Articula-se um grande espetáculo para inaugurar a TV digital em 7 de setembro: um jogo da seleção brasileira de futebol transmitido em alta definição para telões instalados nas maiores cidades do país. Um gol de placa.
Especial
Leia o que já foi publicado sobre TV digital
Emissoras e teles duelam por TV digital
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Colunista da Folha de S.Paulo
A movimentação em Brasília na última semana de representantes dos três sistemas de TV digital escondeu a verdadeira "guerra" que está sendo travada nos bastidores: a disputa entre as redes de TV e as empresas de telefonia pelo modelo econômico que será adotado no país com a nova tecnologia.
Hoje, na TV analógica, para transmitir um único sinal as redes precisam de uma freqüência com a largura de 6 MHz. Com a digitalização e a compressão dos sinais, caberá muito mais informação (vídeo, áudio, dados) nesses mesmos 6 MHz. Assim, em vez de um só sinal, as emissoras poderão irradiar quatro simultaneamente. Em outras palavras, uma emissora pode virar quatro.
As teles não querem o "monopólio" das TVs sobre o espectro de UHF e VHF e travam uma guerra para tirar um pedaço dele, que usariam para explorar internet de banda larga, telefonia e venda de vídeo sob demanda.
O modelo econômico é que definiria se as TVs manterão seus 6 MHz ou se perderão parte deles para novas emissoras e para as teles, na chamada convergência. Dependendo do modelo, a TV digital poderá movimentar no Brasil até R$ 100 bilhões nos próximos anos, segundo empresários.
TVs e teles são as grandes forças no tabuleiro da TV digital. As primeiras têm poder político. As segundas, poder econômico (faturaram R$ 100 bilhões em 2004, 14 vezes mais que as redes, e são grandes financiadoras de campanhas eleitorais). Fornecedores de tecnologia (japoneses, americanos e europeus) e fabricantes de equipamentos são atores secundários nessa questão, que começa a ser concluída na próxima sexta-feira, quando o governo federal deverá divulgar relatório final com estudos sobre TV digital.
Além de aspectos econômicos e tecnológicos, a definição da TV digital tem implicações político-eleitorais. Está em jogo a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo analistas ouvidos pela Folha, se Lula fizer o que as TVs querem --ou seja, optar já pelo padrão japonês e limitar o acesso das teles ao espectro de TV digital--, ele terá a gratidão das emissoras, que retribuirão com uma cobertura generosa na campanha.
"O governo se move no sentido de que uma aliança com a Globo significa uma campanha mais tranqüila. De outro lado, isso pode ter conseqüências terríveis", afirma Celso Schröder, coordenador-geral do FNDC (Fórum Nacional pela Democratização das Comunicações), entidade que faz parte do conselho consultivo do SBTVD (Sistema Brasileiro de TV Digital) e que defende o compartilhamento do espectro por canais públicos (como TV Senado), comunitários e universitários.
A TV digital provocou um racha no governo. De um lado, está o ministro Hélio Costa (Comunicações), que defende abertamente o padrão japonês, em oposição às teles. "O sistema japonês é o melhor para a TV aberta brasileira. O modelo de negócios da TV digital será o mesmo do da analógica. Não estamos discutindo telefonia digital, mas televisão digital", disse Costa em entrevista à Folha.
O grande "rival" de Costa entre os quatro ministros que mais têm poder de influenciar Lula nessa decisão é Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) --os outros são Antonio Palocci Filho (Fazenda) e Dilma Rousseff (Casa Civil). Furlan é visto pelos donos de TVs como aliado das teles e defensor do padrão europeu ou americano. Furlan não quis dar entrevista.
A forma como o governo vem conduzindo as discussões sobre TV digital é criticada por quase todos os "atores" envolvidos na questão --menos as redes. "A maneira como o Ministério das Comunicações foca a discussão está equivocada. A discussão sobre tecnologia no momento é irrelevante", afirma Marcos Magalhães, presidente da Philips para a América Latina. Para Magalhães e Schröder, antes de discutir qual o padrão, o país deveria definir o modelo econômico (quais serviços terá, qual será o modelo de negócios, qual a inserção global?).
A opção por definir antes o padrão tecnológico pode favorecer as TVs. A decisão agora (o governo promete a definição para este mês) daria vantagem ao padrão japonês, porque ele, segundo as redes e a Universidade Presbiteriana Mackenzie, que fez testes nos três padrões, seria o único que oferece alta definição e recepção em veículos e celulares na mesma faixa de 6 MHz das emissoras de TV. Mas, em pouco tempo, todos os padrões deverão ser equivalentes. Por que não adiar? "Se a decisão for adiada para o ano que vem, as TVs terão muito menos poder", esclarece João Carlos Saad, presidente da Bandeirantes.
Por 2006 ser ano de eleições, parte do governo (e todas as redes) tem pressa em definir a tecnologia. Articula-se um grande espetáculo para inaugurar a TV digital em 7 de setembro: um jogo da seleção brasileira de futebol transmitido em alta definição para telões instalados nas maiores cidades do país. Um gol de placa.
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