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13/02/2006 - 09h45

Goldman Sachs revê Bric e diz que Brasil ainda faz parte

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LEILA SUWWAN
da Folha de S.Paulo, em Nova York

O Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) está vivo e passa bem. Pelo menos esse é o diagnóstico daqueles que vêm faturando com o "hype" financeiro do termo cunhado em 2003 para descrever o bloco de países destinados a propulsionar a economia mundial nas próximas décadas, ultrapassando o G-6 (G-7 menos Canadá) em menos de 40 anos.

Se economistas de todo o mundo questionam o "B" da sigla, o banco de investimentos Goldman Sachs, autor do acrônimo, defende o desempenho brasileiro e prevê crescimento médio anual do PIB em 4% na próxima década.

O estudo de revisão sobre o Bric foi publicado em dezembro, véspera do Fórum Econômico Mundial em Davos (Suíça), onde a Índia e a China foram as vedetes, ofuscando o Brasil e a Rússia. Nele, o Goldman Sachs adota um tom quase defensivo, negando qualquer pecha de futurologista.

"Não incluímos o Brasil e a Rússia simplesmente porque o acrônimo não funcionaria sem eles, conforme temos ouvido repetidas e divertidas vezes", diz o texto. Bric é alusão a "brick" (tijolo, em inglês).

Segundo o Goldman, cada país do Bric cresceu acima da projeção inicial de 2003, e o "sonho" pode ser alcançado antes do que era esperado. Isto é, o Bric deverá ter o mesmo PIB que o G-7 em 2040, no patamar de US$ 52 trilhões. Em 2050, chegará a quase US$ 90 trilhões. Segundo o banco americano, o Brasil poderá ser a quinta economia do mundo em 45 anos, atrás da China, dos EUA, da Índia e do Japão, nessa ordem.

A trajetória apresentada pelo Goldman coloca o Brasil com PIB de US$ 916 bilhões em 2010, US$ 1,8 trilhões em 2020, US$ 2,9 trilhões em 2030, US$ 4,9 trilhões em 2040 e US$ 8 trilhões em 2050.

"A perspectiva do trabalho é de 40 anos, para tentar procurar países que têm a dimensão, a sofisticação, a complexidade e o potencial de dar uma contribuição maior ao crescimento da economia mundial. Certamente o Brasil tem esse potencial", disse Paulo Leme, diretor de pesquisa de mercados emergentes do Goldman Sachs. Ele ressalta que o Brasil foi incluído no Bric com ressalvas grandes a serem auferidas.

Segundo o relatório mais recente, o Brasil passou na prova. Um outro grupo de países --tanto ou mais promissores-- ficou para trás, agrupados em nova terminologia: N-11, ou Next Eleven (os próximos onze). São eles: Bangladesh, Egito, Indonésia, Irã, Coréia, México, Nigéria, Paquistão, Filipinas, Turquia e Vietnã. O México e a Coréia poderiam alcançar o Bric, avalia o banco. O relatório sempre ressalta o termo "poderá" antes de ditar trajetórias. Para críticos, a condicionalidade se aplica especialmente ao Brasil.

Sem o "B"

"Eles estão tirando proveito do alto crescimento da China e da Índia e do alto preço do petróleo que beneficia a Rússia. Tudo isso para ganhar publicidade e dizer que fizeram um modelo brilhante. O "B" do Bric poderia sair, o México está indo melhor", avalia o economista Albert Fishlow, da Universidade Columbia (NY).

Fishlow acusa o modelo de explorar a valorização do câmbio dos países para inflar o crescimento e avalia que a queda prevista no crescimento populacional não é realista.

O relatório do banco fala em surpresa da repercussão que o termo teve: "Nunca antecipamos o impacto que a pesquisa teria em 2003 [...] Diversos fundos de investimento Bric foram criados e outros estão sendo formados".

Para avaliar as condições que podem transformar mito em realidade, foi elaborado o índice GES, de ambiente para crescimento auto-sustentável. São levados em conta fatores como inserção tecnológica, estabilidade política e condições macroeconômicas.

Nesse índice, o Brasil atinge um ranking mediano. Fica em 95º lugar entre 170 países, com nota de 3,8 de um máximo de 10. O banco considera que vai bem o Bric por estar acima da média entre os países em desenvolvimento.

Porém, segundo Fishlow, a análise é errônea --não considera mudanças em patamares de produtividade e está desatualizado. O Brasil leva notas "altas" em estabilidade política e está bem acima da média dos países em desenvolvimento em estabilidade, corrupção e estado de direito. O banco recomenda mais investimento, educação, abertura comercial e redução do déficit público.

Há dúvidas, para o banco, se os gastos de governo são realmente improdutivos e distorcivos. "Essa relação [consumo de governo diminui crescimento] não é tão clara e provavelmente não é linear", diz o Goldman, apontando que nem sempre a redução de gastos públicos se traduz em gastos privados de maior produtividade.

Mas as despesas governamentais do Brasil preocupam analistas. "A economia brasileira tem as condições, mas carrega o peso nas costas do ônus do tamanho excessivo do Estado --de arrecadação e endividamento-- que tira os recursos do setor produtivo e asfixia o mercado privado", avalia Leme. Ele recomenda algo que o relatório não menciona: reforma na Previdência para redução das despesas públicas e redução da carga tributária.

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