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24/02/2006 - 09h42

Brasil cresce só 2,3% em 2005 e supera apenas o Haiti na América Latina

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JANAINA LAGE
da Folha Online, no Rio

A economia brasileira cresceu 2,3% em 2005, segundo dados divulgados hoje pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O resultado mostra desaceleração em relação a 2004, quando o PIB (Produto Interno Bruto), soma dos bens e serviços produzidos no país, havia registrado expansão de 4,9%. Apenas no quarto trimestre, a economia cresceu 0,8% sobre o terceiro.

Com base nas previsões da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe), verifica-se que a expansão da economia brasileira ficou aquém da média da América Latina. O órgão previa crescimento de 4,3% para a região. Em termos percentuais, o Brasil teve o segundo menor crescimento da América Latina, à frente apenas da previsão para o Haiti. Os países que já divulgaram resultados --como Argentina (9,1%), Venezuela (9,0%) e México (3,0%)-- confirmaram os prognósticos da Cepal, que previa para o Brasil uma alta de 2,5%.



O resultado do PIB em 2005 ficou abaixo, inclusive, da última estimativa feita pelo Banco Central, que era de expansão de 2,6% na economia brasileira. Segundo o IBGE, o resultado ficou próximo à média de crescimento dos últimos 10 anos, de 2,2%.

Na média do governo Lula, o crescimento da economia ficou em 2,6%. Nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso a média de expansão foi de 2,3%. Analistas destacam, no entanto, que o desempenho da economia foi similar nos dois mandatos, apesar do cenário internacional mais turbulento na gestão FHC, como crise da Ásia, da Rússia e problemas no mercado doméstico, como o apagão.

Segundo Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais do IBGE, o crescimento menor em 2005 foi ditado pela desaceleração dos investimentos, da indústria de transformação e da agropecuária. De acordo com a análise do instituto, o crescimento de 2005 foi puxado pelo consumo das famílias. "O ano de 2005 foi de demanda interna, embora menor do que em 2004, puxado pelo consumo das famílias, que foi influenciado pelo aumento do crédito e da massa salarial", afirmou.

Para Sandra Utsumi, economista-chefe do BES Investimento, o Brasil não conseguiu tirar proveito da conjuntura econômica global favorável devido aos juros altos e à crise política. "O ano de 2005 foi de frustração em relação ao crescimento. Houve uma resistência maior da inflação que forçou o Banco Central a adotar uma postura mais cautelosa. Houve também uma crise de confiança de consumidores e empresários em razão do cenário político. O conjunto de todos esses fatores determinou um grau de crescimento cerca de 1 ponto percentual menor do que se previa anteriormente."

Crédito

O crédito contribuiu para alavancar o consumo das famílias, que encerrou o ano com crescimento de 3,1%. Este é o segundo ano seguido de crescimento do consumo das famílias. Segundo o IBGE, ele foi favorecido pelo aumento de 5,3% da massa salarial em termos reais e pelo crescimento de 36,7% em termos nominais do saldo de operações de crédito. O consumo do governo cresceu 1,6%.

O aumento da oferta de crédito foi impulsionado pelo crédito consignado em folha e pelo alongamento de prazos no comércio. Segundo Utsumi, a melhora dos níveis de emprego e o crescimento da massa salarial também contribuíram para dar mais confiança aos consumidores para assumir dívidas de médio ou longo prazo.

A demanda interna respondeu por 1,4 ponto percentual do crescimento do ano passado e o setor externo, com 0,9 ponto percentual.

As exportações de bens e serviço cresceram 11,6% e as importações, 9,5%. O setor externo ainda contribuiu de forma positiva para o crescimento da economia, apesar da taxa de câmbio menos favorável aos exportadores. A expectativa é de que, em 2006, a sustentabilidade do crescimento da economia recaia sobre o mercado doméstico, com a perspectiva de aumento do salário mínimo e de inflação sob controle.

Os investimentos registraram alta de 1,6%, abaixo do patamar de expansão verificado em 2004, de 10,9%. A crise de confiança que atingiu empresários e consumidores fez com que muitos projetos fossem engavetados e adiados para 2006, conforme revelam as pesquisas qualitativas já divulgadas neste ano. Segundo o IBGE, as taxas de juros mais elevadas e o câmbio afetaram negativamente o resultado.

Indústria

Apesar da desaceleração no terceiro trimestre, a indústria foi o principal destaque na análise do PIB sob a ótica da oferta. O PIB industrial cresceu 2,5%, mas em 2004 a alta havia sido de 6,2%. O setor agropecuário teve alta de 0,8%, a menor taxa desde 1997, em razão da quebra de safra e da febre aftosa. Já o setor de serviços cresceu 2% no ano passado.

Entre os subsetores da indústria, o destaque ficou para a extrativa mineral, com alta de 10,9%, puxado pela extração de petróleo e de minério. Em seguida, vieram serviços industriais de utilidade pública, com alta de 3,6%. A indústria de transformação e a construção civil tiveram crescimento de 1,3%.

As maiores altas nos serviços foram em comércio (3,3%), transporte (3,2%) e aluguéis (2,5%). As instituições financeiras registraram alta de 2,4% e a administração pública, de 1,7%.

Segundo Guilherme Maia, economista da consultoria Tendências, o crescimento da economia teria sido superior caso não tivesse ocorrido a desaceleração da indústria no terceiro trimestre, em razão do movimento de acúmulo de estoques. Isso ocorreu porque antes disso houve um descompasso entre o crescimento da produção industrial e a expansão da demanda, o que afetou o ritmo de expansão da economia.

Para Alex Agostini, economista da Austin Ratings, o Brasil apresentou um comportamento contrário ao dos demais países. "O aumento dos juros prejudicou enormemente a economia brasileira, principalmente o setor industrial, com a preocupação exagerada do Banco Central com a inflação", disse. Em 2005, a taxa de juros chegou a alcançar o patamar de 19,75% ao ano e só começou a ser reduzida em setembro.

PIB per capita

O PIB per capita cresceu 0,8% em 2005. Ele é definido como a divisão do total do PIB pela população residente. Em 2005, a população residente no país cresceu 1,4% e somou 184,2 milhões de habitantes. Em 2004, o PIB per capita havia crescido 3,4%.

A taxa de crescimento do PIB, de 2,3%, foi resultado da elevação de 2,1% do valor adicionado a preços básicos e do aumento de 3,9% nos impostos sobre produtos. A elevação dos impostos reflete o crescimento de 3,4% do ICMS (Imposto de Circulação sobre Mercadorias e Serviços) e de 3,7% do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), além do crescimento de 12,4% no volume de imposto sobre importação.

Quarto trimestre

Após uma queda de 0,9% (dado revisado, antes foi divulgado queda de 1,2%) no terceiro trimestre, que superou as expectativas no terceiro trimestre e contrapôs IBGE e Banco Central, a economia brasileira cresceu 0,8% no quarto trimestre em relação ao período julho-setembro e 1,4% na comparação com o quarto trimestre de 2004.

O principal destaque do quarto trimestre foi a recuperação da indústria, que cresceu 1,4% na comparação com o terceiro trimestre. A agropecuária registrou expansão de 0,8% e os serviços, de 0,7%. Os investimentos cresceram 1,7%, o consumo das famílias, 1,3% e as exportações, 0,7% --as importações caíram 1,3%.

Estimativas da Cepal para América Latina
América Latina 4,3%


Venezuela 9,0% (confirmado 9%)
Argentina 8,6% (confirmado 9,1%)
República Dominicana 7,0%
Uruguai 6,0%
Peru 6,0%
Panamá 6,0%
Chile 6,0%
Colômbia 4,3%
Costa Rica 4,2%
Honduras 4,2%
Nicarágua 4,0%
Bolívia 3,8%
Guatemala 3,2%
Equador 3,0%
Paraguai 3,0%
México 3,0% (confirmado 3%)
Brasil 2,5% (confirmado 2,3%)
El Salvador 2,5%
Haiti 1,5%

Fonte: Austin Rating, com dados da Cepal


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