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27/03/2006 - 10h31

Dívidas e tecnologia marcam a economia de Israel

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VINICIUS ALBUQUERQUE
da Folha Online

A economia de Israel depende da importação de petróleo, além de grãos e matérias-primas. Atravessou um período de forte desaceleração e herdou uma dívida --que ganhou vulto entre o final da década de 60 e início dos anos 70-- que ainda precisa ser solucionada. O país ainda tem de conviver com a necessidade de gastos expressivos com equipamentos militares.

A indústria israelense hoje, no entanto, caracteriza-se pela presença de atividades no setor de alta tecnologia, nas áreas de aviação, telecomunicações, manufaturas, equipamentos médicos eletrônicos e fibra ótica. O país se destaca também na produção de madeira e produtos de papel, alimentos, bebidas, tabaco, construção, produtos químicos, metálicos e têxteis, plásticos e calçados.

Depois dos conflitos da Guerra dos Seis Dias (1967) e da Guerra do Yom Kippur (1973), as decisões no governo israelense passaram a ser mais centralizadas, incluindo aquelas relativas à utilização dos recursos do país. As mudanças resultaram em um inchaço do setor público, com o conseqüente aumento de gastos --principalmente no setor de segurança--, o que pressionou o déficit público. A economia refletiu essas medidas e entrou em espiral descendente.

Tensão

No fim dos anos 70 e início dos 80, as tensões entre árabes e israelenses diminuíram, se comparadas ao ponto em que estavam dez anos antes. Essa breve pausa permitiu que a economia israelense tivesse tempo para tomar algum fôlego e lidar com questões como a inflação, que chegou à taxa latino-americana de 400% ao ano, além da quase estagnação do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto).

O governo israelense tem de lidar com uma taxa de endividamento público extremamente alta. A dívida do governo como proporção do PIB em 1986 era de 168% --no ano 2000, havia sido reduzida para 91%. No período entre 2001 e 2003, quando a economia israelense entrou em um período de desaceleração, combinado com uma queda nas receitas fiscais e um aumento dos gastos públicos, principalmente no setor de defesa, a dívida voltou à casa das centenas, com 106,4% do PIB em 2003.

Para 2006, a expectativa do governo é de que a dívida caia para 100% do PIB, segundo o documento "Economic Outlook" ("Panorama Econômico"), divulgado pelo Ministério das Finanças de Israel no mês passado.

Crescimento

O Banco de Israel (banco central do país) estima que a economia israelense deverá apresentar um crescimento de 4,1% neste ano. Segundo o presidente do banco, Stanley Fischer, a questão da segurança do país é um dos fatores a serem levados em conta na projeção do desempenho econômico israelense, tanto quanto outros fatores eminentemente econômicos, como a atual situação de liquidez da economia mundial e da própria política macroeconômica de Israel.

"Nos últimos dois anos e meio uma estratégia clara foi perseguida, de reduzir a interferência do governo na economia e a redução da carga fiscal e da dívida do governo como proporção do PIB", disse Fischer em dezembro do ano passado, durante discurso em Tel Aviv.

"Para mim está claro que se não tivéssemos adotado a abordagem que adotamos, teríamos no fim que pagar o preço, na forma de taxas de juros mais altas nos mercados financeiros e taxas mais baixas de crescimento e de [criação de] empregos."

Fischer destacou que a expectativa de calma na situação da segurança, e principalmente na continuidade do processo de paz, têm um efeito positivo sobre a economia, em particular no setor de turismo e na ampliação da confiança dos investidores estrangeiros.

Assentamentos

No ano passado [quando ocorreram as remoções de assentamentos de colonos judeus da faixa de Gaza e parte da Cisjordânia], o setor de turismo foi um dos que mais se destacaram dentro da categoria de exportações de serviços, com expansão de 26,3%, com a melhoria na situação da segurança do país, segundo o documento do ministério. Outro setor que teve desempenho positivo nas exportações israelenses foi o de agricultura (alta de 11,6%), devido à seca que atingiu Portugal e Espanha no ano passado.

O desemprego em Israel atingiu a marca recorde de 10,9% no segundo semestre de 2003, mas teve uma queda significativa entre 2004 e 2005, devido a medidas como a redução do número de trabalhadores estrangeiros no país e o aumento dos pré-requisitos para requisição de benefícios como auxílio-desemprego [a fim de estimular a procura por trabalho].

No quarto trimestrte do ano passado, a taxa de desemprego registrada em Israel foi de 8,8%, chegando a cerca de 244 mil pessoas. Neste ano, a estimativa do ministério é de que o desemprego atinja uma média de 8,5% da PEA (População Economicamente Ativa), cerca de 240 mil pessoas.

O presidente do banco avalia que a situação da pobreza no país só poderá ser reduzida através de medidas que conduzam a um crescimento econômico sustentado. "Seria de pouca valia se alcançarmos crescimento econômico de longo prazo e um padrão europeu de vida sem lidar com as questões sociais", afirmou Fischer.

Lidar com as questões sociais, no entanto, não significa lançar mão de medidas como aumentos drásticos de juros, para conter a inflação, e ampliação de programas assistenciais. "Tal política teria um efeito adverso sobre o crescimento, e depois de alguns anos teríamos uma situação em que todos estaríamos mais iguais, mas também mais pobres", concluiu.

As populações mais atingidas pela pobreza em Israel são os ultra-ortodoxos (haredi, ou temente a Deus, um dos setores mais severos da linha ultra-ortodoxa do judaísmo, que rejeita a desvinculação a ordens religiosas) e os árabes-israelenses, principalmente pelos baixos níveis de participação de homens, dentre os haredi, e de mulheres, dentre a população árabe, na força de trabalho, segundo levantamento feito pelo banco. A pesquisa mostra que cerca de 40% dos pobres em Israel se concentram nesses dois nichos da população.

O ministério informa que a principal premissa em que se baseiam suas previsões para 2006 é que a situação da segurança em Israel não se deteriore. Se isso ocorrer, o setor de turismo, um dos mais dinâmicos da economia israelense, deve sentir os maiores efeitos, além de diminuir os investimentos estrangeiros e o consumo doméstico --sem contar o aumento nos gastos com defesa, aumentando o endividamento do governo.

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