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16/07/2006 - 09h49

Brasil erra na OMC, diz conselheiro de Bush

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SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo, em Washington

Os impasses da chamada Rodada Doha da OMC (Organização Mundial do Comércio) deveriam ser superados porque são ruins para todos os lados envolvidos. "Para ser honesto, são piores para vocês do que para nós, porque nós já somos uma economia grandemente aberta, já gozamos dos benefícios do livre comércio."

"Nós" são os Estados Unidos. "Vocês" é o Brasil. O autor do pensamento e da frase acima, dita em entrevista à Folha, é Edward P. Lazear, chefe do Council of Economic Advisers (CEA) da Casa Branca, que despacha com George W. Bush algumas vezes por mês sobre assuntos como a alta da inflação, o comércio exterior, a moeda chinesa e, é claro, as negociações econômicas em curso com o Brasil. Ele falou por telefone.

Folha - Entre os países do chamado Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), o primeiro é o que tem tido pior desempenho nos índices de crescimento. Por que, em sua opinião?

Lazear -
Hesito em comentar as políticas econômicas de outros países, mas me deixe perverter um pouco sua pergunta e lhe dizer o que deu certo para nós. Se concluir que isso seria uma boa política para o Brasil, será sua conclusão. Nossas ações mais importantes foram os grandes níveis de investimento em recursos humanos, as baixas taxas de juro, um mercado de trabalho livre e flexível e um comércio exterior aberto. Se você olhar para as barreiras que os EUA impõem em suas exportações, não somos uma economia completamente aberta, concordo, mas somos mais abertos que qualquer outro país do mundo. Essa é a fórmula do sucesso. Deu certo não só nos EUA, mas na China e na Índia. Há algo a se aprender aí.

Folha - Um ponto de discórdia entre nossos países é a Rodada Doha. Como sair do impasse?

Lazear -
Espero que os países possam superar esse impasse, que é ruim para os dois lados e, para ser honesto, pior para vocês do que para nós, porque nós já somos uma economia aberta, já gozamos dos benefícios do livre comércio. Os países que estão bloqueando acesso ao mercado mundial estão fazendo mal a eles próprios a longo prazo e provavelmente a curto prazo também. Mas espero que ultrapassemos as dificuldades. Ainda não perdi a esperança.

Folha - Um dos problemas apontados pelo Brasil nas discussões é a agricultura altamente subsidiada americana. Estar disposto a negociar esse ponto não seria um modo de os EUA avançarem as conversas?

Lazear -
Nós já fizemos uma proposta bastante ampla em relação à agricultura, para eliminar uma parte muito grande de nossos subsídios. Dado que já somos uma economia bastante aberta, achamos que essa oferta deveria ser aceita e que o resto do mundo deveria enxergar como nós. Até agora isso não aconteceu, mas acho que é um erro, não tanto em termos de prejudicar os EUA mas de prejudicar seu próprio país. Isso seria algo que eu levaria em conta se estivesse aconselhando o governo de seu país. Mas não quero pensar pelos negociadores brasileiros, sei que eles vão querer o que seja melhor para o Brasil. Só espero que eles vejam as coisas como nós vemos.

Folha - Lawrence Summers, que acaba de deixar seu posto de reitor de Harvard, tem dito que é uma aberração que países pobres ou em desenvolvimento como o Brasil invistam em títulos do tesouro americano em vez de investir em sua própria infra-estrutura. O sr. concorda?

Lazear -
É uma opinião interessante, com a qual eu concordo em parte. É mesmo estranho quando países pobres estejam emprestando dinheiro a países ricos. O caso mais óbvio é na verdade entre a China e os EUA. É um país em que o PIB per capita é uma fração do nosso, e eles estão nos emprestando 200 e poucos bilhões de dólares por ano. Você pode dizer que estão cometendo um erro. Bom, se você olha para os índices chineses --e eu prefiro usar China em vez de Brasil--, eles têm uma poupança de 22% do PIB, mas também estão investindo na própria China a uma taxa de 45% do PIB. Então, não é que eles não estejam investindo em seu próprio país; estão, a taxas muito altas, mas é porque a poupança deles é tão grande que eles ainda têm um superávit de cerca de 7% do PIB, que pode ser investido no resto do mundo. Mas é estranho, eu concordo com Larry.

Folha - O sr. é o principal conselheiro econômico de um presidente que não tem fama de ouvir opiniões diferentes das que ele já tem. Quão difícil é seu trabalho?

Lazear -
O que mais me surpreendeu é que o presidente não só é muito envolvido ativamente nas questões econômicas como é atento aos detalhes. Ele não só entende as questões de uma maneira ampla como os CEOs mas também os detalhes com uma profundidade de conhecimento que eu sinceramente não esperava.

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