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15/09/2006 - 09h44

Recuo expõe divisão do governo boliviano

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da Folha de S.Paulo

A decisão do governo da Bolívia de congelar a resolução que transformava as refinarias da Petrobras em prestadoras de serviço ocorreu horas depois de o ministro dos Hidrocarbonetos, Andrés Soliz Rada, ter dito que "não se vai dar marcha a ré" nas medidas anunciadas na terça-feira e expõe a divisão interna do governo de Evo Morales nas negociações com a Petrobras.

O anúncio da suspensão das medidas, dado pelo vice-presidente boliviano, Álvaro García Linera, ao assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia, e confirmado publicamente à noite, é mais um exemplo das mensagens contraditórias entre os vários porta-vozes do governo boliviano.

García Linera, que exerce interinamente a Presidência --Morales está em Cuba--, convocou uma reunião para discutir a crise com o Brasil, da qual participou Soliz Rada, entre outros membros do governo. Ao final, desautorizou o ministro dos Hidrocarbonetos ao confirmar o congelamento da resolução, para criar um "clima favorável" de negociação.

Não é a primeira desafinada entre os dois. Na visita de García Linera a Lula realizada no final do mês passado, os dois governos anunciaram a retomada das negociações em torno do decreto de nacionalização, e o vice-presidente deixou Brasília cercado de elogios do Planalto. Exatamente no mesmo dia, em La Paz, Soliz Rada acusou a Petrobras de sabotar a nacionalização.

Por causa da boa impressão deixada por García, o governo brasileiro ignorou a acusação. Mas, nesta semana, a face diplomática de García foi ofuscada pelo semblante raivoso de Soliz Rada, provocando o cancelamento da reunião que seria realizada hoje em La Paz, com a presença do ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, e do presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli.

A função de apagar incêndios de García Linera não se restringe ao Brasil. Definido para ser interlocutor do governo boliviano com países considerados estratégicos, o vice estava em Washington na quarta-feira tentando renovar um importante acordo comercial bilateral com os Estados Unidos e defender a nova política antidrogas. E, também exatamente no mesmo dia, Morales acusou a Casa Branca de tramar um golpe de Estado contra ele. Como tem sido praxe desde o início do governo, coube ao vice desdizer o que o presidente disse.

Analistas identificam duas correntes do partido governista, o MAS (Movimento ao Socialismo): os intelectuais, mais moderados e identificados com Linera, e os indígenas, mais radicais. Soliz Rada, considerado o ministro mais popular em pesquisa feita pelo jornal "La Razón", não é ligado a nenhuma dessas correntes.

Embora menos visível dentro do governo, essa divisão está no centro da crise política interna boliviana em torno da paralisada Assembléia Constituinte. O setor moderado do MAS defende um acordo com a oposição, que, na semana passada, promoveu uma paralisação de 24 horas em parte do país para exigir que as votações na Constituinte sejam feitas por dois terços, como prevê a Lei de Convocatória aprovada pelo Congresso, em abril.

No entanto, a posição mais radical do MAS, que defende a votação por maioria simples, tem prevalecido. O objetivo declarado dos governistas é conseguir aprovar matérias constituintes sem negociar com a oposição, já que o MAS tem mais da metade das cadeiras.

Não-alinhados
A 14ª Conferência dos Países Não-Alinhados, que está sendo realizada em Havana, apoiou o governo Morales diante "das tentativas de desestabilização" que enfrenta e se solidarizou com as medidas tomadas para exercer o controle dos recursos naturais, disse o vice-chanceler cubano, Abelardo Moreno.

Moreno disse que a comissão política da cúpula introduziu um parágrafo de apoio à Bolívia no documento negociado pelos chanceleres para a assinatura dos presidentes, que se reúnem entre hoje e amanhã.

Estão sendo esperados 50 chefes de Estado e de governo, entre eles o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e da Venezuela, Hugo Chávez. O Brasil participa apenas como observador e enviou o chanceler Celso Amorim.

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