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21/01/2007
-
09h10
CLÁUDIA TREVISAN
da Folha de S.Paulo
Para crescer a taxas próximas de 5%, o Brasil precisa de muito mais do que as medidas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e do que a melhoria dos indicadores macroeconômicos registrada nos últimos anos, na opinião de empresários e economistas ouvidos pela Folha.
A primeira condição adicional é a continuidade do processo de redução da taxa básica de juros, a Selic. Dois dias depois do anúncio do PAC, o Banco Central decidirá se mantém o ritmo de corte dos juros e reduz a taxa em 0,5 ponto percentual, para 12,75%, ou se pisa no freio e opta por uma queda de 0,25 ponto percentual.
A diferença numérica é mínima, mas o peso simbólico de uma decisão do Banco Central nunca foi tão grande aos olhos do setor privado.
"Se o pacote sair com boas notícias e os juros caírem só 0,25 [ponto percentual], mostrará o quanto o governo não está afinado na direção do crescimento", diz Paulo Skaf, presidente da Fiesp (federação das indústrias de São Paulo).
Em sua opinião, a expansão do PIB a taxas mais elevadas decorrerá de um conjunto de medidas coerentes, e não de decisões isoladas e contraditórias. "Não adianta fazer um bem aqui com o pacote e um mal ali com os juros."
Edgard Pereira, economista-chefe do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), avalia que um corte de 0,5 vai referendar o PAC, enquanto um de 0,25 será um "balde de água fria".
"A sinalização da taxa de juros é muito importante: forma expectativas quanto ao crescimento, afeta o consumo e mostra a convergência do Banco Central em relação ao estímulo ao crescimento que o governo está dando", afirma Pereira.
Investimento
Mas a queda de juros também não é suficiente. "O Brasil teve taxas de juros negativas durante quase toda a década de 80 e não cresceu", observa o economista Eduardo Giannetti da Fonseca, professor do Ibmec-SP. Para Gianetti, a alta taxa de juros não é causa, mas sintoma dos problemas do país.
Quando instados a apontar a condição sem a qual o crescimento não ocorre, todos elegem o aumento dos investimentos. A experiência internacional mostra que os países detentores de altas taxas de expansão possuem elevados índices de investimento.
O exemplo mais atual é o da China, que cresce em média 9,6% ao ano desde 1978. A taxa de investimento da China ficou acima de 30% do PIB em todos os últimos 28 anos e superou os 40% desde 2004. Nos anos 60, 70 e parte dos 80, quando era o que a China é hoje, o Japão investia cerca de 35% do PIB.
No Brasil, a taxa de investimento é historicamente mais baixa e estacionada há anos na faixa dos 20% do PIB. "Taxa de investimento de 20% serve para crescer 2%, 3%. Para crescer 5%, o Brasil precisa investir 25% do PIB ao ano", afirma Sérgio Vale, economista da MB Associados. A relação entre 25% de investimento e 5% de crescimento é apontada por todos os entrevistados.
"Investir é transferir recursos do presente para o futuro. O Brasil vive pendurado no presente", ressalta Gianetti, autor do livro "O Valor do Amanhã".
Produção
Quando investe, um país destina recursos para atividades como construção de fábricas, compra de máquinas, abertura de estradas e modernização de portos. Isso aumenta a capacidade de produção e, em conseqüência, eleva o crescimento.
Mas, para ocorrer, o investimento também requer condições, que não se esgotam em uma taxa de juros mais baixa.
A mais elementar é a existência de recursos disponíveis na economia. No caso brasileiro, grande parte do dinheiro que poderia ser usado para investimentos termina tragada pelo setor público, que consome 39% do PIB por meio da carga tributária e ainda precisa tomar emprestados mais 3% do PIB para fechar suas contas.
O problema é agravado pelo fato de o setor público investir apenas 1,5% do PIB, incluindo União, Estados e municípios. Os restantes 18,5% do PIB para fechar a conta dos 20% são investidos pelo setor privado.
Metade do que o governo federal arrecada é destinada ao custeio da máquina administrativa. Cerca de um terço vai para a Previdência e uma fatia de quase 20% é usada no pagamento de juros da dívida.
"O PAC ajuda, é positivo, mas o Brasil não vai desengessar com medidas pontuais. Precisamos de um conjunto de medidas que inclua a redução do gasto público, a diminuição da carga tributária, a desoneração do investimento e a desburocratização", ressalta Skaf.
A diminuição do gasto público e da carga tributária seria o caminho para liberar recursos que poderiam ser destinados ao aumento do investimento.
Outras condições são regras claras e estáveis e expectativas favoráveis de obtenção de lucro. É aí que entra outra variável importante: a taxa de câmbio. Quanto mais valorizada estiver a moeda local, maior será a possibilidade de importação de produtos que vão competir com os fabricados no país.
Tanto a Fiesp quanto o Iedi sustentam que a atual taxa de câmbio desestimula investimentos, ao reduzir o preço dos produtos importados. E apontam de novo para a taxa de juros, considerada um dos fatores de atração de dólares que pressionam o real.
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da Folha de S.Paulo
Para crescer a taxas próximas de 5%, o Brasil precisa de muito mais do que as medidas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e do que a melhoria dos indicadores macroeconômicos registrada nos últimos anos, na opinião de empresários e economistas ouvidos pela Folha.
A primeira condição adicional é a continuidade do processo de redução da taxa básica de juros, a Selic. Dois dias depois do anúncio do PAC, o Banco Central decidirá se mantém o ritmo de corte dos juros e reduz a taxa em 0,5 ponto percentual, para 12,75%, ou se pisa no freio e opta por uma queda de 0,25 ponto percentual.
A diferença numérica é mínima, mas o peso simbólico de uma decisão do Banco Central nunca foi tão grande aos olhos do setor privado.
"Se o pacote sair com boas notícias e os juros caírem só 0,25 [ponto percentual], mostrará o quanto o governo não está afinado na direção do crescimento", diz Paulo Skaf, presidente da Fiesp (federação das indústrias de São Paulo).
Em sua opinião, a expansão do PIB a taxas mais elevadas decorrerá de um conjunto de medidas coerentes, e não de decisões isoladas e contraditórias. "Não adianta fazer um bem aqui com o pacote e um mal ali com os juros."
Edgard Pereira, economista-chefe do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), avalia que um corte de 0,5 vai referendar o PAC, enquanto um de 0,25 será um "balde de água fria".
"A sinalização da taxa de juros é muito importante: forma expectativas quanto ao crescimento, afeta o consumo e mostra a convergência do Banco Central em relação ao estímulo ao crescimento que o governo está dando", afirma Pereira.
Investimento
Mas a queda de juros também não é suficiente. "O Brasil teve taxas de juros negativas durante quase toda a década de 80 e não cresceu", observa o economista Eduardo Giannetti da Fonseca, professor do Ibmec-SP. Para Gianetti, a alta taxa de juros não é causa, mas sintoma dos problemas do país.
Quando instados a apontar a condição sem a qual o crescimento não ocorre, todos elegem o aumento dos investimentos. A experiência internacional mostra que os países detentores de altas taxas de expansão possuem elevados índices de investimento.
O exemplo mais atual é o da China, que cresce em média 9,6% ao ano desde 1978. A taxa de investimento da China ficou acima de 30% do PIB em todos os últimos 28 anos e superou os 40% desde 2004. Nos anos 60, 70 e parte dos 80, quando era o que a China é hoje, o Japão investia cerca de 35% do PIB.
No Brasil, a taxa de investimento é historicamente mais baixa e estacionada há anos na faixa dos 20% do PIB. "Taxa de investimento de 20% serve para crescer 2%, 3%. Para crescer 5%, o Brasil precisa investir 25% do PIB ao ano", afirma Sérgio Vale, economista da MB Associados. A relação entre 25% de investimento e 5% de crescimento é apontada por todos os entrevistados.
"Investir é transferir recursos do presente para o futuro. O Brasil vive pendurado no presente", ressalta Gianetti, autor do livro "O Valor do Amanhã".
Produção
Quando investe, um país destina recursos para atividades como construção de fábricas, compra de máquinas, abertura de estradas e modernização de portos. Isso aumenta a capacidade de produção e, em conseqüência, eleva o crescimento.
Mas, para ocorrer, o investimento também requer condições, que não se esgotam em uma taxa de juros mais baixa.
A mais elementar é a existência de recursos disponíveis na economia. No caso brasileiro, grande parte do dinheiro que poderia ser usado para investimentos termina tragada pelo setor público, que consome 39% do PIB por meio da carga tributária e ainda precisa tomar emprestados mais 3% do PIB para fechar suas contas.
O problema é agravado pelo fato de o setor público investir apenas 1,5% do PIB, incluindo União, Estados e municípios. Os restantes 18,5% do PIB para fechar a conta dos 20% são investidos pelo setor privado.
Metade do que o governo federal arrecada é destinada ao custeio da máquina administrativa. Cerca de um terço vai para a Previdência e uma fatia de quase 20% é usada no pagamento de juros da dívida.
"O PAC ajuda, é positivo, mas o Brasil não vai desengessar com medidas pontuais. Precisamos de um conjunto de medidas que inclua a redução do gasto público, a diminuição da carga tributária, a desoneração do investimento e a desburocratização", ressalta Skaf.
A diminuição do gasto público e da carga tributária seria o caminho para liberar recursos que poderiam ser destinados ao aumento do investimento.
Outras condições são regras claras e estáveis e expectativas favoráveis de obtenção de lucro. É aí que entra outra variável importante: a taxa de câmbio. Quanto mais valorizada estiver a moeda local, maior será a possibilidade de importação de produtos que vão competir com os fabricados no país.
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