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28/01/2007 - 10h45

"Todo ano mandava cartinha", diz parceira da Starbucks no país

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ADRIANA MATTOS
da Folha de S.Paulo

"Você veio cedo demais." Foi dessa forma que, em abril de 1997, Jinlong Wang, na época o responsável pela internacionalização da Starbucks no mundo, respondeu à empresária Maria Luisa Rodenbeck, 48 --a mulher que bateu à porta da empresa para tentar vender o Brasil como investimento à rede.

Apesar de a rede ter sido simpática ao interesse da brasileira --que naquela data entregou ao comando do grupo um plano de negócios no Brasil--, a pedra no caminho de Maria Luiza era a Ásia. O projeto de expansão da maior rede de cafeterias do mundo estava naquela região.

"Eu disse que esperaria o momento certo, que não haveria o menor problema", contou Maria Luisa na semana passada, em entrevista concedida em uma das duas lojas da rede no Brasil, inauguradas em dezembro, em São Paulo. A terceira unidade será aberta em março.

Graduada em letras pela PUC do Rio de Janeiro, com MBA em Finanças em Boston (EUA), carioca, sem filhos, moradora da capital paulista há apenas um mês, a empresária conta que foi por acaso que conseguiu o primeiro --e crucial-- contato com a empresa.

Foi preciso ter paciência, perseverança e, claro, dinheiro para que as negociações andassem. Nessa história, a sorte apareceu uma vez, no dia em que Maria Luisa conseguiu, em 1997, ser atendida pela direção da Starbucks, rede com US$ 7,7 bilhões de receita e 12,4 mil pontos-de-venda no mundo.

Com o trabalho final do MBA encerrado em 1997 --o estudo tinha como foco a entrada da rede de cafés no país--, a brasileira colocou o material embaixo do braço e foi até a sede da empresa, em Seattle, EUA. Na portaria, disse à recepcionista que precisava "de dois minutinhos com o presidente mundial, Howard Schultz". Pedido negado, Maria Luisa pegou o estudo, deu meia-volta e, enquanto aguardava o elevador, adivinha quem pára no andar em que ela estava?

"Era o Schultz, ali, na minha frente. Entreguei o trabalho, entrei com ele na empresa e então fui conversar com Jinlong Wang, responsável pela internacionalização da marca e hoje presidente da empresa na China. Foi inesquecível", diz ela, que não acredita, entretanto, em sorte. "Isso é trabalhar com paixão. O ser humano agüenta até determinado nível de sacrifício, depois não agüenta mais. Então precisa ter muita paixão mesmo", afirma, ao apontar para uma agenda em que na capa se lê "Start with your heart" ("Comece com seu coração").

Além da dita paixão, a escolha de Maria Luisa para a linha de frente do projeto teve relação direta com o currículo da empresária e do marido, Peter Rodenbeck, o homem responsável hoje pela caça de terrenos para expansão da rede. Foi o casal que trouxe o McDonald's ao Brasil nos anos 80 e é sócio da rede Outback. Não foi só isso: os rumos da economia brasileira tiveram peso na hora de a companhia bater o martelo.

A Starbucks considera uma série de variáveis antes de pôr dinheiro num país. Desde a limitação de repatriação do capital, passando pela expectativa de flutuação da moeda até o óbvio risco-país. Relatório de resultados anuais da rede informa que a falta de clareza nas regras para investimentos e o baixo nível de consumo interno também foram considerados.

Além disso, ainda era preciso definir o tamanho do investimento no Brasil -assunto de que Maria Luisa pouco fala. Pelo acordo, 51% do investimento vem dos investidores brasileiros. Especula-se que R$ 20 milhões serão gastos na expansão inicial da rede no Brasil.

Cartas e insistência

O trabalho de Maria Luisa foi baseado, em parte, na insistência. Ela manteve contato com a empresa nos anos seguintes ao primeiro encontro, enquanto coordenava no país a expansão da rede Outback. Antes disso, já havia acumulado experiência na United Airlines e na American Airlines. "Todos os anos, mandava cartinhas para eles, relembrando o meu interesse. Foram anos seguidos escrevendo, até que as conversas ficaram freqüentes", conta.

Em 2002, os primeiros executivos da Starbucks vieram sondar o mercado no Brasil. "Senti mesmo que ia dar certo em janeiro de 2003. Com obstáculos do contrato já resolvidos, vi que ia sair", lembra ela. O longo processo de negociação faz parte da política de expansão da rede. "Não há a menor pressa", diz Alberto Serrentino, da consultoria GS&MD.

Acordo fechado e loja montada, a executiva mudou-se para São Paulo no mês passado. Foge para o Rio todos os finais de semana. Trabalha 12 horas por dia e diz que nunca levanta "cedo" ("não dá para acordar cedo, levanto só às 7h da manhã").

"Venho às lojas dia sim, dia não, coloco o avental, vou para a fila, converso com os clientes. Eles falam: 'Meu Deus, é igualzinho ao lá de fora'. Mas é claro, né, gente, é um produto."

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