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27/01/2001 - 03h20

Anistia e ONGs criticam repressão em Davos

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CLÓVIS ROSSI e JOSÉLIA AGUIAR, da Folha de S.Paulo

Um "quase Estado policial", que "viola a liberdade de expressão e da liberdade de ir e vir". Foi assim que dirigentes de ONGs e a Anistia Internacional referiram-se ontem à Suíça e à cidade de Davos, onde ocorre o Fórum Econômico Mundial. A irritação se deve às fortes medidas de segurança adotadas pelos suíços com o objetivo de conter manifestações de protesto.

"A intimidação não pode ser tolerada. As pessoas devem ter permissão para expressar suas opiniões, não importa quais sejam elas", afirmou Pierre Sané, que representa a Anistia Internacional em Davos. "A credibilidade do encontro está ameaçada."

Estado policial

O Fórum de Davos convocou representantes de ONGs (organizações não-governamentais) para conhecer melhor o que pensam e porque tornaram-se rotina as manifestações de protesto a cada grande evento internacional.

Ouviu o que não gostaria: "Davos transformou-se quase em um estado policial", disparou a ativista Lori Wallach, diretor do Global Trade Watch (Observatório do Comércio Global, ONGs das mais ativas no combate às regras da OMC para o comércio mundial).

Um dos presentes reagiu, dizendo-se até ofendido, mas Lori não recuou. Ao contrário: contou que um professor holandês havia sido "deportado" de volta a Amsterdã pelas autoridades suíças só porque, em sua bagagem, fora encontrado o livro da própria Lori, uma crítica das regras da OMC (Organização Mundial do Comércio).

O professor holandês Adam Ma'anit era um dos cinco palestrantes que falaria ontem sobre ética no "The Public Eye on Davos", fórum paralelo organizado por um grupo de ONGs.

A polícia interrompeu a viagem dele na estação de Lanquart, a 40 Km de Davos, onde ele trocaria de trem. Ma'anit foi revistado, interrogado, fotografado e levado de volta para a fronteira na Basiléia.

"Sabemos que a polícia está impedindo muitas pessoas que querem participar do nosso evento de chegar até a cidade", disse Yolanda Piniel, representante da ONG Declaração de Berna, uma das organizadoras do Fórum paralelo.

Não foi, aliás, o único caso de pessoas revistadas nos trens que levam a Davos e devolvidas a Zurique sempre que portassem material considerado de cunho político. "Davos está completamente sitiada, parece haver mais policiais aqui do que participantes", acrescenta Piniel.

O Fórum paralelo das ONGs é uma iniciativa independente do Fórum Econômico Mundial. Seus organizadores informam também que não estão relacionados à grande manifestação convocada para hoje pela organização suíça Coordenação Anti-OMC.

Davos e Porto Alegre

De retórica incendiária, Lori Wallach citou o fato de que a OMC está pensando em fazer no distante, inacessível e repressivo Qatar a sua próxima conferência ministerial, no fim deste ano, como demonstração acabada de "quão pouca legitimidade tem o processo simbolizado pela OMC e por Davos".

A mesa-redonda (cujo título era "A Oposição é o Povo") transformou-se numa espécie de hino de louvor aos manifestantes, às ONGs e, incidentalmente, à cidade brasileira de Porto Alegre, que abriga o evento anti-Davos, o Fórum Social Mundial.

"É um dos poucos governos verdadeiramente democráticos", disse Lori sobre a gestão petista na capital gaúcha.

Ed Mayo, ativista britânico da Jubillee-2000, que organizou toda a campanha para o perdão da dívida externa dos países muito pobres, definiu o fenômeno dos que protestam contra a globalização como "a emergência do cidadão global, bem antes de que surjam instituições de governança global".

Democracia
Essa emergência, emendou o sindicalista norte-americano Jay Mazur, seria consequência do fato de que "as instituições democráticas não estão respondendo aos desafios do pós-Guerra Fria".

Mazur puxou da algibeira texto de um livro do mediador, o colunista norte-americano Thomas Friedman, para reforçar seus argumentos, embora Friedman seja um crítico também dos manifestantes antiglobalização.

Os protestos, diz Masur, são "democracia em ação" e o pessoal das ONGs vai às ruas porque "não encontrou canal para seus pontos de vista nos partidos políticos".

Lori Wallach acrescentou que a frustração decorre também do fato de que, em muitos países, os constrangimentos impostos pelas regras internacionais fazem com que os governos atuem em direção contrária ao prometido na campanha eleitoral.

Tanto Mazur como Mayo insistiram em que os protestos de hoje são herdeiros, ainda que indiretos, de outros tipos de movimentos de massa do passado, que acabaram por impor suas agendas. Citam exemplos (basicamente norte-americanos) como o dos direitos civis, contra o racismo, pelos direitos das mulheres, pelos direitos dos consumidores.
 

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