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27/01/2001
-
03h26
THOMAS TRAUMANN, da Folha de S.Paulo
Cerca de 800 agricultores sem terra destruíram dois hectares de soja transgênica da multinacional Monsanto, em Não-Me-Toque (a 300 km de Porto Alegre). Ao som de "Pra Não Dizer que Não Falei das Flores", os sem-terra arrancaram as plantas com as mãos. Depois, em discursos, acusaram a empresa de vender sementes transgênicas (o que é proibido) e pediram a sua expulsão do país.
A reportagem da Folha viajou a Não-Me-Toque a convite da organização do movimento. A reportagem propôs pagar suas despesas, o que foi recusado
pelo MST.
"Todos os lugares do Brasil onde encontrarmos lavoura comercial transgênicas, nós vamos destruir", afirmou o líder do MST, João Pedro Stedile, que coordenou o protesto. Em discurso logo depois a destruição, Stedile pediu que os sem-terra da Bahia queimassem a fábrica que a Monsanto prepara para o pólo de Camaçari (BA). Mas, em entrevista, disse que a ameaça era uma "figura de linguagem, no sentido de que os companheiros ocupem as instalações da fábrica e impeçam no Brasil mais uma fábrica de veneno".
Stedile estava acompanhado do líder dos agricultores franceses José Bové, que em agosto de 1999 tornou-se uma celebridade antiglobalização ao destruir uma lanchonete do McDonald's. Bové e outros cinco estrangeiros integrantes da Via Campesina (organização internacional de agricultores) e a Federação de Camponeses Franceses ajudaram na destruição do plantio. "Agora, a tarefa do MST é expulsar a Monsanto do país", disse Bové.
A área destruída faz parte de uma fazenda de 400 hectares que realiza 22 experimentos de soja transgênica autorizadas pelo CNTBio (Conselho Nacional de Biotecnologia). A assessoria da Monsanto disse que a empresa pretende estudar as medidas legais contra o MST e negou que ela comercialize sementes transgênicas. Em nota, a empresa
lamentou "incidente na qual é vítima de um movimento agressivo".
"O que nós fizemos aqui foi um ato de justiça. Quem é ilegal é a Monsanto, que comercializa soja transgênica, o que é proibido", afirmou Stedile.
Diabo
As manifestações foram acompanhadas por um carro de som, com músicos que tocavam canções do MST e puxavam palavras de ordem. A favorita era "Fora já, fora desse pago (campo); fora Monsanto (pronunciado como "mãosanto), que é a mão do diabo". Stedile também chamou as multinacionais de biotecnologia de "agentes do diabo".
A destruição do plantio foi o ponto alto de um protesto que durou mais de 20 horas. Mais de mil sem-terra entraram na propriedade da Monsanto no final da tarde de quinta-feira. Aproveitaram o horário de saída dos funcionários e invadiram os portões. Picharam os muros dos armazéns com slogans como "Fora sementes do diabo", hastearam bandeiras do MST e dormiram dentro de ônibus e colchonetes pelo chão.
Pela manhã, quando chegou Stedile, a comissão estrangeira e os jornalistas, recomeçaram os protestos. Às 10h, os sem-terra foram ao campo e arrancaram a soja. Depois enterraram no campo um caixão simbolizando a Monsanto. Tentaram queimar sementes que formavam a frase "Fora Transgênicos", mas o fogo só durou enquanto havia combustível. Tiveram mais sucesso queimando a bandeira norte-americana, sob aplausos e gritos de apoio. Às 13h, depois que os visitantes haviam ido embora, os sem-terra deixaram a propriedade.
"Vamos voltar a hora que for necessário. Esta área aqui agora é nossa. Queremos que o governo prepare logo a desapropriação dessa área para formar um colégio agrícola e um centro de pesquisas agro-ecológica", afirmou o padre franciscano Sérgio Görgen, líder dos sem-terra gaúchos.
Thomas Traumann viajou a Não-Me-Toque a convite do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)
MST queima soja transgênica da Monsanto
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Cerca de 800 agricultores sem terra destruíram dois hectares de soja transgênica da multinacional Monsanto, em Não-Me-Toque (a 300 km de Porto Alegre). Ao som de "Pra Não Dizer que Não Falei das Flores", os sem-terra arrancaram as plantas com as mãos. Depois, em discursos, acusaram a empresa de vender sementes transgênicas (o que é proibido) e pediram a sua expulsão do país.
A reportagem da Folha viajou a Não-Me-Toque a convite da organização do movimento. A reportagem propôs pagar suas despesas, o que foi recusado
pelo MST.
"Todos os lugares do Brasil onde encontrarmos lavoura comercial transgênicas, nós vamos destruir", afirmou o líder do MST, João Pedro Stedile, que coordenou o protesto. Em discurso logo depois a destruição, Stedile pediu que os sem-terra da Bahia queimassem a fábrica que a Monsanto prepara para o pólo de Camaçari (BA). Mas, em entrevista, disse que a ameaça era uma "figura de linguagem, no sentido de que os companheiros ocupem as instalações da fábrica e impeçam no Brasil mais uma fábrica de veneno".
Stedile estava acompanhado do líder dos agricultores franceses José Bové, que em agosto de 1999 tornou-se uma celebridade antiglobalização ao destruir uma lanchonete do McDonald's. Bové e outros cinco estrangeiros integrantes da Via Campesina (organização internacional de agricultores) e a Federação de Camponeses Franceses ajudaram na destruição do plantio. "Agora, a tarefa do MST é expulsar a Monsanto do país", disse Bové.
A área destruída faz parte de uma fazenda de 400 hectares que realiza 22 experimentos de soja transgênica autorizadas pelo CNTBio (Conselho Nacional de Biotecnologia). A assessoria da Monsanto disse que a empresa pretende estudar as medidas legais contra o MST e negou que ela comercialize sementes transgênicas. Em nota, a empresa
lamentou "incidente na qual é vítima de um movimento agressivo".
"O que nós fizemos aqui foi um ato de justiça. Quem é ilegal é a Monsanto, que comercializa soja transgênica, o que é proibido", afirmou Stedile.
Diabo
As manifestações foram acompanhadas por um carro de som, com músicos que tocavam canções do MST e puxavam palavras de ordem. A favorita era "Fora já, fora desse pago (campo); fora Monsanto (pronunciado como "mãosanto), que é a mão do diabo". Stedile também chamou as multinacionais de biotecnologia de "agentes do diabo".
A destruição do plantio foi o ponto alto de um protesto que durou mais de 20 horas. Mais de mil sem-terra entraram na propriedade da Monsanto no final da tarde de quinta-feira. Aproveitaram o horário de saída dos funcionários e invadiram os portões. Picharam os muros dos armazéns com slogans como "Fora sementes do diabo", hastearam bandeiras do MST e dormiram dentro de ônibus e colchonetes pelo chão.
Pela manhã, quando chegou Stedile, a comissão estrangeira e os jornalistas, recomeçaram os protestos. Às 10h, os sem-terra foram ao campo e arrancaram a soja. Depois enterraram no campo um caixão simbolizando a Monsanto. Tentaram queimar sementes que formavam a frase "Fora Transgênicos", mas o fogo só durou enquanto havia combustível. Tiveram mais sucesso queimando a bandeira norte-americana, sob aplausos e gritos de apoio. Às 13h, depois que os visitantes haviam ido embora, os sem-terra deixaram a propriedade.
"Vamos voltar a hora que for necessário. Esta área aqui agora é nossa. Queremos que o governo prepare logo a desapropriação dessa área para formar um colégio agrícola e um centro de pesquisas agro-ecológica", afirmou o padre franciscano Sérgio Görgen, líder dos sem-terra gaúchos.
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