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30/01/2001 - 17h40

"Problema é globalizar a democracia", diz Vargas Llosa em Davos

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  • Leia mais no especial Davos x Anti-Davos


    da France Presse, em Davos

    Há muitas coisas para se criticar na globalização, sobretudo suas injustiças com os países subdesenvolvidos, mas o remédio não é acabar com ela, mas globalizar a democracia, declarou hoje em Davos o escritor peruano Mario Vargas Llosa.

    Vargas Llosa, convidado excepcional ao Fórum 2001 de Davos para receber um prêmio artístico, considerou numa entrevista à margem do último dia de trabalhos que "há muitas coisas para se criticar na globalização. Por exemplo, que levante fronteiras com altíssimas tarifas para os produtos agrícolas do Terceiro Mundo".

    "Isso deve ser criticado e todas as mobilizações para a suspensão dessas barreiras a fim de permitir bolivianos, peruanos, venezuelanos, etc..., exportarem seus produtos agrícolas são um objetivo justo e alcançável", admitiu.

    "No Peru de (Alberto) Fujimori e (Vladimiro) Montesinos (respectivamente o presidente e o chefe dos serviços secretos no anterior governo), as privatizações que beneficiaram muitas empresas estrangeiras não beneficiaram em nada o povo peruano", reconheceu igualmente o escritor nascido no país andino há 65 anos.

    "Serviram para que se roube muito mais, para que saiam em massa investimentos em contas secretas", disse.

    "Mas qual é o remédio para isso?", indagou-se Vargas Llosa.
    "Não é acabar com a globalização, é globalizar a democracia", acrescentou.

    Interrogado como se pode obter isso, assinalou: "com uma responsabilidade maior dos países democráticos frente aos povos do mundo que lutam para ter democracias. Se os países democráticos agissem de uma maneira mais coerente com os valores que dizem defender, haveria muito menos ditadores no mundo", explicou.

    "Não é válido pedir que desapareça a globalização. Isso é como ir contra o sistema métrico decimal no final do século XIX. A globalização é uma realidade de nossa época", disse Vargas Llosa.

    Indagado sobre a rivalidade que surgiu este ano entre Davos e o Fórum Social Mundial de Porto Alegre, ele observou que "na América Latina há uma tradição de recusa à realidade, em nome de uma ficção, muitas vezes por razões idealistas generosas, mas essa recusa à realidade tem, creio, consequências muito negativas no âmbito do social".

    Vargas Llosa se manifestou partidário da "irrealidade no que se refere à arte, à literatura".

    "No campo político, não. A quimera e a utopia sempre produziram catástrofes na História", explicou.

    Consultado se Davos era um clube elitista, Vargas Llosa disse: "este é um fórum que há alguns anos quer acrescentar uma dimensão humanística, artística, porque existe a consciência de que uma visão puramente econômica ou financeira dos problemas é uma visão cega, surda, muda".

    "Suponho que essa é a razão por que me deram esse prêmio", afirmou.
    Mario Vargas Llosa foi premiado esta terça-feira em Davos com um Crystal Award destinado àqueles criadores "que têm utilizado sua arte como um meio para chegar a outras culturas".

    Junto com Vargas Llosa, mais três artistas, os músicos Peter Gabriel (Reino Unido) e Yussu N'Dour (Senegal) e o escritor Anant Singh (África do Sul), receberam igualmente esse prêmio, que se concede anualmente antes do encerramento do Fórum.

    "Mario Vargas Llosa é mais do que um artista, é um lutador político que tem lutado pelos valores da abertura e da liberdade", disse o fundador e presidente do FEM, Klaus Schwab.
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