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20/09/2001 - 08h15

Brasil e Argentina vão sentir o golpe nos EUA

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JENNIFER L. RICH
do ''The New York Times''

Depois que meses de crise econômica deram lugar a uma relativa calma, os ataques terroristas contra os EUA ameaçam arremessar as duas maiores economias da América do Sul, Argentina e Brasil, a uma espiral de queda precipitada.

Os dois países enfrentam dificuldades por motivos diferentes, mas seus destinos estão ligados. Eles têm ao menos uma coisa em comum: dependência de capital estrangeiro. "A situação acaba de se tornar muito mas complicada", diz José de Faria, economista-chefe do Deutsche Bank em São Paulo.

Os investidores estrangeiros se tornaram cautelosos. Notavelmente, depois de sofrerem seriamente durante a semana passada quando os mercados americanos estavam fechados, tanto a Bolsa argentina quanto a brasileira se recuperaram, enquanto Wall Street afundava rapidamente.

Depois de três anos de recessão, a Argentina chegou perto de uma moratória de sua dívida de US$ 130 bilhões neste ano. Uma linha de crédito de US$ 8 bilhões do FMI e a promessa de "déficit zero" do governo, que o forçaria a viver segundo a arrecadação, acalmaram investidores e clientes dos bancos nas últimas semanas.

Em um sinal de que a confiança estava de volta, o ritmo de saques nos bancos se estabilizou nas primeiras semanas de setembro, depois que os argentinos sacaram 11,6% do seu total em depósitos, em agosto, por medo da desvalorização do peso.

Economistas dizem que os saques podem voltar a subir, agora. Com um plano para a dívida em vigor que adia a maior parte dos pagamentos para depois de 2003, o desafio será seguir a disciplina fiscal em um momento em que as exportações e a economia têm maior chance de cair do que de subir.

A economia do Brasil continua a crescer, ainda que muito mais lentamente agora do que no começo do ano. As previsões de um crescimento de 4,5% em 2001 foram reduzidas à metade.

O Brasil precisa de entre US$ 25 bilhões e US$ 30 bilhões em investimento estrangeiro por ano para compensar um déficit crônico em conta corrente. As preocupações de que o investimento seja insuficiente neste ano causaram queda de mais de 25% do real de janeiro para cá, alimentando a inflação.

Depois de advertir que o Brasil não teria como escapar às consequências econômicas mundiais dos ataques, o presidente FHC disse que "o que tivermos de fazer para manter o ritmo de nossas atividades normais, com crescimento econômico, será feito".

Mas para impedir que a inflação escape ao controle, o país provavelmente terá de agravar a recessão, cortando os gastos e apertando a política monetária em um momento de relaxamento na maior parte das nações. O governo esperava compensar a queda no investimento estrangeiro com um aumento nas exportações, um plano que FHC lançou com a proclamação "exportar ou morrer".

Mas mesmo com a acentuada desvalorização do real, os especialistas estão céticos quanto à possibilidade de que o país encontre tração para reforçar as exportações em um momento de queda e incerteza na economia mundial.

Os EUA são o maior importador de 7 dos 12 principais produtos de exportação brasileiros, respondendo por US$ 50 milhões dos US$ 60 milhões diários em comércio externo. Mas em muitas dessas categorias, entre as quais sapatos, celulares e peças para carros, a demanda norte-americana deve cair imediatamente.

O maior exportador brasileiro, a Embraer, pode sofrer de maneira especialmente severa, porque as companhias aéreas enfrentam dificuldades de caixa e estão começando a cancelar suas encomendas de jatos de passageiros.

Os especialistas vêem alguma chance de que os preços mundiais de commodities subam em caso de resposta militar prolongada americana aos ataques terroristas. E eles disseram que no Brasil, pelo menos, a queda da moeda e do crescimento econômico pode retardar as importações e ajudar a limitar os danos no déficit comercial.

Embora o alcance da resposta final dos EUA aos ataques terroristas ainda não possa ser estimado, os especialistas dizem que uma coisa é clara: as dificuldades dos mercados emergentes como o Brasil e a Argentina, por mais agudas que sejam, caíram muito na lista de prioridades mundiais.

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