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20/09/2001 - 12h22

Economias da América Latina estão sob tensão após ataques aos EUA

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da Reuters

Os fluxos de capital para a América Latina devem diminuir e o crescimento econômico na região deverá sofrer uma redução, depois dos ataques aos Estados Unidos na semana passada.

Os recentes acontecimentos evidenciaram as perspectivas de uma recessão americana e levaram os investidores na América Latina a olhar com cautela para os mercados da região. Depois dos ataques, segundo observam os analistas, os mercados internacionais de capital se fecharam completamente para empréstimos aos mercados emergentes.

Brasil

O Brasil, que tem a maior economia latino-americana, já levantou todo o capital necessário para este ano, mas caso persistirem as incertezas advindas da chamada ''guerra ao terrorismo'', anunciada pelo presidente americano, George W. Bush, o financiamento a longo prazo da economia brasileira ficará em risco.

''Quanto mais durarem as incertezas será pior para o Brasil, não apenas porque os investimentos externos diretos vão ser reduzidos e pelo impacto negativo causado pelo fato de o país ser um importador de petróleo'', afirmou Túlio Vera, estrategista de mercados emergentes da Merril Lynch. ''Além disso, as incertezas poderiam complicar a próxima eleição presidencial, prevista para 2002'', completou.

Além desses fatores, os ataques aos EUA também pressionaram o real, que já desvalorizou 28% este ano e cujas baixas de cotação estão batendo recordes. O perfil da dívida pública brasileira é vulnerável às taxas de juros e às flutuações da moeda. ''E um cenário com um câmbio fraco e um fluxo menor de investimentos diretos traz menos crescimento'', afirmou Camila de Faria Lima, economista do divisão de investimentos do Banco Santander, em São Paulo.

Desde o final do ano passado até o último dia 10 de setembro, o valor da dívida brasileira caiu 2%. Desde os ataques, o valor dos títulos brasileiros caiu 4%. Se a situação piorar, o país pode recorrer ao empréstimo de US$ 15 bilhões, fechado recentemente com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Segundo o presidente do Banco Central (BC), Armínio Fraga, o governo ainda não decidiu se vai recorrer a esses recursos para aliviar o impacto econômico dos acontecimentos da semana passada.

Argentina

Desde a semana passada, investidores e os credores colocaram os enormes problemas econômicos argentinos em segundo plano. De acordo com os analistas, o FMI vai precisar desviar a atenção para outras regiões. As negociações sobre reestruturação da dívida argentina vão ter menos prioridade e as perspectivas para uma nova ajuda do FMI parecem sombrias.

''A possibilidade de uma reestruturação da dívida argentina deve depender de uma mudança nas prioridades dos EUA'', afirmou o BNP Paribas numa nota distribuída a seus clientes. ''A maior pressão sobre a Argentina deve novamente vir dos seus mercados locais, sobretudo se os investidores locais transferirem o capital que está no país para lugares mais seguros no exterior'', completou a nota.

Desde o final do ano passado até o último dia 10 de setembro, o valor dos títulos argentinos caiu 21%. A partir desta data até esta quarta-feira, os títulos tiveram uma queda de 3%.

Segundo os analistas, uma queda nos depósitos bancários e nas reservas de dinheiro e ouro poderia levar a taxas de juros ainda maiores e, possivelmente, ameaçar o regime de convertibilidade que vincula o peso ao dólar americano numa paridade de um para um.

Chile

O Chile também é vulnerável a uma redução da economia americana e seus efeitos negativos sobre o comércio internacional.

As autoridades temem que um possível conflito poderia desviar a atenção dos Estados Unidos das negociações sobre o planejado acordo de livre comércio entre os dois países, considerado por Washington como um modelo para um eventual acordo comercial que envolva todo o hemisfério.

Colômbia

A Colômbia -assim como o México- depende do grande mercado importador americano: metade das exportações colombianas, estimadas em US$ 13 bilhões em 2001, vai para os Estados Unidos.

Por outro lado, o país é um dos dez maiores produtores mundiais de petróleo e se beneficiaria de um provável aumento no preço do produto.

Venezuela e Equador

Venezuela e Equador, por serem países produtores de petróleo, também se beneficiariam se houver aumento no preço da commodity. ''No entanto, eles não tem muita capacidade de aumentar a produção'', afirmou Rafael de la Fuente, economista sênior da BNP Paribas.

De acordo com o economista Orlando Ochoa, professor da Universidade Católica Andrés Bello, de Caracas, se a crise vier a crescer, a Venezuela -maior exportador de petróleo fora do Oriente Médio- deve se tornar ainda mais importante do ponto de vista estratégico. O país está entre os três maiores fornecedores de petróleo dos Estados Unidos.

Peru

De acordo com o ministro da Economia do Peru, Pablo Kuczynski, os ataques poderiam retardar a retomada da economia peruana, que se encontra em baixa há três anos. O governo planejava ver os primeiros sinais de recuperação no final do ano, mas agora já admite que isto não deve acontecer.

Desde o final de 2000 até o último dia 10 de setembro, o valor dos títulos peruanos havia subido 17%, mas desde o dia dos ataques já houve uma queda de 2%.

México

Depois dos ataques, as perspectivas para a economia mexicana pioraram, em consequência das previsões de uma recessão nos Estados Unidos -o maior parceiro comercial do México.

Entre 29 de dezembro e 10 de setembro, o valor dos títulos mexicanos havia subido 10%. Desde o dia dos ataques, já houve uma queda de 2%.

Os fluxos de capital para o México também estão em diminuição. Isto pode levar a um enfraquecimento do peso, o que, por sua vez, reacende a inflação e eleva as taxas de juros.

''Apesar disso, não mudamos nossa visão de médio prazo sobre o México'', afirmou Joyce Chang, chefe para mercados emergentes do J.P. Morgan.

Um possível aumento no preço do petróleo também deverá beneficiar o México, um importante exportador do produto.

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