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23/09/2001 - 08h39

Papéis do Brasil puxam quedas pós-atentados

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FERNANDO RODRIGUES
enviado da Folha de S.Paulo, a Nova York

Os papéis da dívida externa do Brasil foram os que mais se desvalorizaram entre os de países emergentes depois dos ataques terroristas aos Estados Unidos no último dia 11. Os títulos brasileiros ficaram até mesmo atrás dos argentinos em termos de perda de valor nos últimos dias.

Desde 10 de setembro, véspera dos atentados, os papéis brasileiros perderam, em média, 6,51% do seu preço de venda. Em segundo lugar nesse período ficou o Equador, cujos títulos se desvalorizaram 5,98%. A dívida argentina perdeu 5%.

"Na realidade, o mercado mostrou que no caso da Argentina já havia ocorrido muita perda de valor desde o início do ano. Os 5% desta semana que títulos argentinos perderam é um percentual alto. O Brasil, que vinha numa posição melhor, tinha mais espaço para perder", disse à Folha de S.Paulo o diretor-executivo do banco ABN-Amro em Nova York Arturo Porzecanski.

Economista-chefe para os mercados emergentes, Porzecanski acha que a volatilidade dos mercados tem sido muito grande, sem que haja um valor de referência. Por isso as variações das últimas duas semanas devem ser observadas com cuidado. Não são necessariamente uma tendência. "Mas podem se tornar. É necessário esperar", diz.

Risco-país
Quando o preço do papel de um título soberano cai é um sinal de que o mercado passou a desconfiar mais da capacidade daquele país de honrar a sua dívida. A possibilidade de calote é chamada de risco-país.

O risco-país é a diferença entre o juro pago por um papel (já considerando o desconto com que o instrumento é oferecido no mercado) e a taxa oferecida por um título com prazo de vencimento semelhante pelo Tesouro dos Estados Unidos, o T-bond -considerado o papel mais seguro do planeta.

Nessas últimas quase duas semanas depois dos atentados terroristas, o risco-país do Brasil foi o que mais aumentou. É consequência direta da maior desvalorização dos papéis. Na sexta-feira, a média do risco brasileiro era de 1.151 pontos.

Ou seja, um papel brasileiro estava pagando ao seu portador, em média, 11,51 pontos percentuais a mais de juros do que o seu similar do Tesouro dos EUA. No período do dia 10 até a última sexta-feira, o risco-país do Brasil aumentou 178 pontos.

No caso da Argentina, o aumento do risco-país pós-terrorismo foi de 131 pontos. Mas os títulos argentinos já carregam um taxa de risco muito maior. Na sexta-feira, era de 1.641 pontos.

Para o presidente da Merrill Lynch para América Latina e Canadá, Jeff Hughes, é difícil prever o que vai acontecer com os mercados "antes de sabermos exatamente a extensão da operação bélica anunciada pelo presidente George W. Bush".

Incerteza
Em entrevista à Folha de S.Paulo, Hughes disse ser necessário no atual momento considerar que "não há um mercado no mundo que possa dizer que está se dando bem". Como todos estão em situação difícil, é preciso esperar até que volte a calma para avaliar o que foi realmente perda de valor e o que aconteceu apenas por causa do nervosismo fruto da incerteza.

"Há papéis que estão sendo vendidos, digamos, por 15 e logo depois caem para 10. E vice-versa. É muita volatilidade num mesmo dia", declara Hughes. Até agora, para investidores em mercados emergentes, este só não foi um bom ano para quem apostou em papéis de dívida externa do Brasil e da Argentina.

Os títulos brasileiros perderam, de janeiro até agora, 8,12%. Ou seja, a parte principal da desvalorização ocorreu depois dos atentados terroristas. No caso dos papéis da Argentina, a queda de valor foi de 25,01% de janeiro até sexta-feira. Houve, portanto, muita desvalorização no período pré-atentados.

Todos os outros países que fazem parte de um levantamento mantido pelo banco JP Morgan Chase continuam registrando variações positivas neste ano, embora todos também tenham sofrido depois dos atentados.

A Rússia é um dos exemplos de grande valorização. O preço médio dos títulos russos subiu 31,29% neste ano, apesar do solavanco dos mercados nos últimos dias. Na América Latina, os destaques de valorização acumulada neste ano são os títulos da Colômbia (21,41%) e do Peru (12,51%).


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