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23/09/2001 - 08h58

Atentados põem tecnologias da informação na berlinda

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GILSON SCHWARTZ
articulista da Folha de S.Paulo

"Há um mito, tipo revista "Wired", de que o mundo em rede torna a todos modernos, todos são expostos a um espectro de idéias tão amplo que ninguém seria vítima de prisões mentais. E se essa hipótese estiver errada? A internet cria pouca coisa nova, em geral ela amplifica coisas que acontecem."

O comentário foi publicado nesta semana por Phil Agre, um dos mais respeitados especialistas norte-americanos em tecnologias de informação e comunicação (TICs), da Universidade da Califórnia em Los Angeles.

Outros pensadores críticos ou radicais norte-americanos estão mobilizando debates apaixonados em torno dos efeitos dos atentados terroristas sobre a percepção e os rumos das TICs.

Outro polemista influente, Richard Stallman, um dos mais importantes protagonistas do movimento em favor do software livre, vai no mesmo sentido. Questiona a estratégia do governo dos EUA a partir de preocupações libertárias com direitos civis, supostamente ameaçados pela declaração de guerra feita pela Casa Branca.

É evidente que o ataque às torres, mas principalmente ao Pentágono, colocou em primeiro plano questões delicadas sobre a eficiência ou mesmo suficiência dos sistemas de inteligência e gestão de informação nos EUA. Supostamente o país seria o mais preparado no mundo para lidar com as TICs e seus efeitos.

Semanas antes do atentado, o "Washington Post" publicou reportagem sobre a reação de empresas da área de telecomunicações às tentativas do FBI de usar a vigilância clandestina em dispositivos sem fio. O sistema de vigilância ganhou um nome pouco "civilizado", Carnivore.

Num comunicado enviado à Comissão Federal de Comunicações dos EUA, a Associação da Internet e das Telecomunicações via Dispositivos Celulares chamou a atenção para o fato de que a indústria das telecomunicações ainda não é capaz de atender aos padrões do FBI.

Assim como no mundo "wireless" (sem fio), muitas outras tecnologias estão sendo questionadas. As empresas, no entanto, fazem uma leitura muito peculiar do redesenho: elas fazem lobby para que aumentem os gastos públicos na melhoria desses sistemas.

Entre o redesenho libertário e os investimentos estatais em tecnologia, a distância é grande. O mesmo raciocínio vale para as TICs que, muito usadas nos mercados de capitais, explicam a globalização financeira.

O primeiro mundo a se tornar on-line em tempo real foi o das transações financeiras. Essa mobilidade e instantaneidade serviu também de suporte para a expansão de paraísos fiscais e centros de lavagem de dinheiro.

A conexão desse movimento de liberalização e desregulamentação financeira com os circuitos de financiamento ao tráfico de drogas, armas e atividades terroristas são notórias.

Ocorre que essas lavanderias globalizadas são parte essencial da estratégia de muitas instituições financeiras. No caso brasileiro mais recente e notório, as contas que supostamente resultariam do caixa dois do ex-prefeito Paulo Maluf foram assumidas pelo Citibank.

Em Jersey, nas Bahamas, no Uruguai ou em Cingapura, as tecnologias de globalização financeira correm soltas. Favorecem grupos e instituições que patrocinam políticos do mundo todo, até nos EUA. A estratégia antiterrorista do governo Bush vai bulir com essas redes?

Finalmente, há uma questão de fundo: é possível superar falhas tecnológicas com mais tecnologia? São cada vez mais numerosas as críticas a essa ilusão tecnicista.

Leia mais no especial sobre atentados nos EUA

Leia mais sobre os reflexos do terrorismo na economia
 

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