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25/09/2001 - 09h42

Conflito inquieta exportadores agrícolas

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ANTÔNIO RECHE
free-lance para Folha de S.Paulo

Quem se beneficia em uma guerra além da indústria bélica? Tudo indica que não são os exportadores de alimentos, os quais, desde o atentado terrorista contra os EUA e a retaliação prometida, reclamam pelo sono perdido.

Apenas os cinco principais produtos do setor agropecuário (soja, carne bovina e de frango, suco de laranja e café) são responsáveis por mais de US$ 10 bilhões da balança comercial brasileira.

Até hoje, o único produto que se beneficiou de uma guerra mundial foi o café solúvel. "Como ele é fácil de ser preparado e fazia parte da dieta dos soldados dos EUA na Segunda Guerra Mundial (1939/ 1945), o solúvel foi popularizado após o conflito'', afirma Mauro Malta, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel.

Mas Malta entende que, mesmo sem guerra, o café hoje vive um dos períodos mais críticos da sua história em termos de preços internacionais.

"Com as cotações atuais, entre US$ 43 e US$ 45 por saca de 60 kg para um café de qualidade, não vejo espaço para maiores baixas, mesmo se houver um conflito de grandes proporções", afirma Sérgio Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes, de Santos, SP.

Diretores de entidades que representam os plantadores de soja, as indústrias de suco de laranja e os produtores de carne de boi e de frango também estão inquietos.

No caso da carne de frango, o cenário externo estava favorável às vendas brasileiras, mas a possibilidade de um ataque militar americano deve alterar o quadro.

''A guerra poderia significar uma pressão na demanda pela carne de frango, ou seja, a necessidade de mais alimentos. Porém, os problemas no Golfo Pérsico, onde estão os nossos principais clientes, configurarão o pior dos mundos para os exportadores", diz José Carlos Teixeira, diretor da União Brasileira de Avicultura. Outro complicador, diz, é o aumento da oferta interna e a queda nos preços.

Caso a crise atinja as vendas de frango, ela deve afetar também o complexo soja, responsável por exportações de aproximadamente US$ 5 bilhões ao ano.

"Não pensamos em um conflito de grandes proporções, mas já sentimos que as linhas de recursos externos minguaram'', diz César Borges de Sousa, presidente interino da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais). Segundo ele, caso ocorra uma queda no consumo de proteína animal, como a carne de frango, as exportações de farelo de soja, usado como ração para as aves, devem ser prejudicadas.

"Por outro lado, um possível aumento no preço internacional do petróleo beneficia o setor, pois o Brasil deve investir na produção de biodiesel, que é um combustível feito à base de óleo de soja."

Segundo Ademerval Garcia, presidente da Abecitrus (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Cítricos), "após o ataque terrorista, a prioridade dos EUA é a segurança. O resto fica em uma agenda secundária".

Ele entende que serão inevitáveis nos EUA uma onda nacionalista e um protecionismo exacerbado, prejudicando as exportações brasileiras. Garcia acha que as negociações com a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e a OMC (Organização Mundial do Comércio) saem de cena no momento.

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