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27/09/2001 - 07h30

Banco Central aperta cerco aos bancos para deter dólar

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NEY HAYASHI DA CRUZ e LEONARDO SOUZA
da Folha de S.Paulo, em Brasília

O Banco Central anunciou, no início da noite de ontem, duas novas medidas que visam reduzir, drasticamente, a capacidade dos bancos para operar com dólar, o que deve reduzir a cotação da moeda americana a partir de hoje.

As medidas foram tomadas pelo governo para tentar deter a disparada da moeda dos Estados Unidos, que tem batido recordes consecutivos de alta, principalmente depois dos ataques terroristas nos EUA.

A decisão mais forte foi tomada pelo Conselho Monetário Nacional, que estabeleceu limites mais rígidos para a exposição dos bancos ao risco cambial. As instituições financeiras têm de respeitar um teto, proporcional a seu capital, para aplicar em dólar.

O que o CMN fez foi rebaixar esse teto. Assim, os bancos terão duas saídas para se adequar à nova regra: ou aumentam seu capital ou se desfazem de parte de suas operações em moeda americana.

Como é improvável que os bancos façam aumento de capital para manter o mesmo volume de operações em dólar que têm hoje, o mercado deve registrar movimento de venda da moeda americana. A medida entra em vigor hoje, mas os bancos terão 15 dias para se ajustar.

A outra medida é uma mudança na forma do recolhimento compulsório (dinheiro que os bancos têm de recolher ao BC) sobre os depósitos à vista. Com as modificações, o BC estima que haverá redução de R$ 4 bilhões no total de recursos em circulação no mercado.

O diretor de Normas do BC, Sérgio Darcy, admitiu que as mudanças vão fazer com que fique mais caro para os bancos operar com dólares. "O custo de operar com câmbio aumentou", afirmou. O diretor negou, porém, que essa decisão tenha sido tomada para conter a disparada do dólar. "A medida foi prudencial."

Segundo o diretor, a regra foi modificada para proteger os bancos de perdas que pudessem decorrer de operações de câmbio. Darcy disse que, atualmente, há muita volatilidade no mercado de câmbio. Por isso, era preciso garantir que os bancos contassem com capital suficiente para cobrir suas transações.

Hoje, os bancos são obrigados a manter um mínimo de capital para poder cobrir suas operações de risco _quanto mais arriscadas as transações, mais capital as instituições são obrigados a ter.

O que o BC fez ontem foi aumentar a classificação de risco das operações com dólar. Ou seja, na visão da autoridade monetária, aplicar em câmbio ficou mais arriscado. Logo, os bancos precisarão ter mais capital para compensar essas aplicações.

O BC manteve em 45% a alíquota para o compulsório sobre os depósitos à vista, mas mudou a forma de recolhimento. Com isso, os bancos continuam recolhendo ao BC R$ 450 de cada R$ 1.000 depositados.

Pelas regras antigas, as instituições financeiras podiam "parcelar" esse recolhimento, depositando 60% do total num primeiro momento e adiar o depósito dos 40% restantes por um prazo que podia chegar a duas semanas.

Ontem, o BC mudou as regras desse "parcelamento". A partir da segunda-feira que vem, quando a medida entra em vigor, os bancos precisarão depositar, imediatamente, 80% do total do compulsório exigido. Só poderá ser adiado o depósito dos 20% restantes. Na prática, é como se a alíquota de recolhimento compulsório subisse para 55%.

Na sexta-feira passada, o BC já havia aumentado de zero para 10% a alíquota do compulsório que incide sobre os depósitos a prazo (principalmente aplicações em CDBs e outros títulos). Isso retirou R$ 10 bilhões do mercado.

Em conjunto, as mudanças ocorridas no compulsório sobre os depósitos à vista e a prazo vão retirar R$ 14 bilhões do mercado. Isso equivale a um aumento nos juros, já que os bancos, com menos dinheiro disponível, vão passar a cobrar taxas mais altas em suas operações de crédito.

Juros mais altos desestimulam as aplicações em dólar, pois os bancos podem ser levados a trocar os investimentos em câmbio por operações em reais, que passam a ser mais rentáveis com as taxas mais altas. Além disso, os juros maiores podem reduzir o nível de atividade econômica.

Embora o BC (diretores e técnicos) não fale em especulação, a avaliação da equipe econômica é que o dólar está supervalorizado.

O dólar está disparando devido ao agravamento da crise argentina, racionamento de energia e redução do crescimento econômico mundial. Tudo agravado pelos atentados terroristas nos EUA.

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