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30/09/2001
-
11h07
FÁTIMA FERNANDES
ADRIANA MATTOS
da Folha de S.Paulo
Os efeitos econômicos do maior atentado terrorista nos EUA podem ajudar o Brasil a consertar a balança comercial. Significa fechar o ano com saldo positivo (exportar mais do que importar).
Mas o superávit não é motivo para o país dar pulos de alegria, dizem os economistas. É consequência de uma parada abrupta da economia brasileira.
A retração mundial freou ainda mais o consumo interno e provocou a disparada do dólar. Por isso, o país já importa menos e, portanto, sente menos pressão sobre as contas externas.
Economistas de bancos e consultorias passaram a última semana refazendo as previsões para a economia brasileira, considerando o impacto dos ataques terroristas.
A notícia é até boa. A maioria deles estima, agora, superávit entre US$ 1 bilhão e US$ 1,5 bilhão para este ano. Um mês antes, eles falavam em déficit comercial de até US$ 1,6 bilhão.
Como o consumo caiu, as empresas colocaram o pé no freio da produção, o que resultou na redução das importações de matérias-primas e produtos finais.
Seria motivo para festejar o saldo positivo da balança, se ele fosse resultado de uma importação menor, como consequência da substituição de bens estrangeiros por nacionais. Não é o caso.
As indústrias estão desestimuladas a investir no país. Primeiro: os juros estão elevados. Segundo: não há perspectiva de expansão na demanda no curto prazo. E mais: elas têm de arcar agora com o ônus da inadimplência, que se elevou nos últimos meses.
Carlos de Paiva Lopes, presidente da Abinee, associação da indústria eletroeletrônica, diz que até agora também não saíram as regras para a nacionalização de componentes.
Guilherme Duque Estrada de Moraes, vice-presidente da Abiquim, que reúne a indústria química, diz não dá para produzir a maioria dos produtos químicos (são milhares) por falta de escala.
O fato é que, ao mesmo tempo em que registra superávit maior -o que cai bem aos olhos dos investidores estrangeiros-, o país vai ter de enfrentar um crescimento menor do PIB (Produto Interno Bruto), ver o adiamento de investimentos e ainda a queda da massa salarial.
Para ter uma idéia do tamanho do tombo nas importações, reflexo da economia em marcha lenta, há empresas que praticamente pararam de buscar matérias-primas lá fora. Caso do setor de telecomunicações.
"Algumas empresas estão dando marcha à ré mesmo, importando quase zero", afirma Ernani Brune, gerente de compras da Siemens, fabricante de equipamentos eletrônicos.
"As previsões mudaram radicalmente após o dia 11 de setembro", afirma Andrei Spacov, economista do Unibanco. Se o dólar ficar na faixa de R$ 2,70, diz, o Brasil fecha este ano com superávit comercial de US$ 1 bilhão.
A projeção do banco feita há um mês era de saldo positivo de US$ 500 milhões. Há dois meses, previa déficit de US$ 1 bilhão.
O banco Santander mudou sua previsão de déficit de US$ 400 milhões para superávit de US$ 1 bilhão. O Citibank, que reviu seus números na sexta-feira, alterou sua projeção de déficit de US$ 1,6 bilhão para superávit de US$ 400 milhões. O Lloyds ainda trabalha com estimativa de déficit -US$ 500 milhões-, mas menor do que previa -US$ 1,6 bilhão.
Vários setores estão contribuindo para reduzir a pressão nas importações: têxteis, combustíveis, informática, automóveis e componentes eletrônicos. Esse último foi um dos itens de destaque na pauta de importações.
Em março, o Brasil comprou US$ 602 milhões em componentes eletroeletrônicos. Em junho e em julho, as importações caíram para US$ 499 milhões e US$ 510 milhões, respectivamente.
"E vão continuar caindo. O consumo desabou", diz Paiva Lopes, da Abinee. A associação previa importação de US$ 8 bilhões para o setor neste ano. Reduziu para US$ 6 bilhões.
A substituição de importação, diz ele, uma alternativa para escapar do dólar mais caro, está parada no setor. "Não temos regras claras para produzir no Brasil. A regulamentação do PPB (Processo Produtivo Básico), que está na Lei de Informática, não saiu ainda. Isso emperra a nacionalização dos componentes." O PPB define quanto cada produto pode ter de peças importadas ou nacionais.
Combustíveis
Os combustíveis também pressionam menos a balança. Em junho, o país importou o equivalente a US$ 721 milhões. Em julho, US$ 651 milhões e, em agosto, US$ 591 milhões. Essa queda, segundo os economistas, é resultado da alta do dólar e do preço do petróleo no mercado internacional. O país pode ter postergado um pouco a importação.
No ramo têxtil, a situação se repete. O setor, que importou por mês entre US$ 120 milhões e US$ 150 milhões de janeiro a maio, trouxe de fora o equivalente a US$ 90 milhões em junho e em julho.
Os analistas lembram que essa derrubada na entrada de itens estrangeiros no país não ocorreu do dia para a noite. Assim que o governo anunciou o plano para redução do consumo de energia, as empresas iniciaram programas mais modestos de importação, já prevendo o enfraquecimento da economia brasileira.
A alta do dólar também vem tirando o ânimo das empresas desde o segundo trimestre -a moeda americana ficou mais cara como reflexo da crise argentina.
A expectativa de que a retração econômica mundial será mais intensa, depois dos atentados aos EUA, só agravou a situação. Esse cenário não deve mudar até o final do ano, dizem os economistas.
Os lojistas já avisaram as indústrias de que o Natal não deve ser bom. A Federação do Comércio do Estado de São Paulo prevê queda real de 3,3% no faturamento das lojas neste ano. Há um mês, esperava crescimento de 3% a 5%.
Leia mais no especial sobre atentados nos EUA
Leia mais sobre os reflexos do terrorismo na economia
Comércio fica no azul só com recessão
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ADRIANA MATTOS
da Folha de S.Paulo
Os efeitos econômicos do maior atentado terrorista nos EUA podem ajudar o Brasil a consertar a balança comercial. Significa fechar o ano com saldo positivo (exportar mais do que importar).
Mas o superávit não é motivo para o país dar pulos de alegria, dizem os economistas. É consequência de uma parada abrupta da economia brasileira.
A retração mundial freou ainda mais o consumo interno e provocou a disparada do dólar. Por isso, o país já importa menos e, portanto, sente menos pressão sobre as contas externas.
Economistas de bancos e consultorias passaram a última semana refazendo as previsões para a economia brasileira, considerando o impacto dos ataques terroristas.
A notícia é até boa. A maioria deles estima, agora, superávit entre US$ 1 bilhão e US$ 1,5 bilhão para este ano. Um mês antes, eles falavam em déficit comercial de até US$ 1,6 bilhão.
Como o consumo caiu, as empresas colocaram o pé no freio da produção, o que resultou na redução das importações de matérias-primas e produtos finais.
Seria motivo para festejar o saldo positivo da balança, se ele fosse resultado de uma importação menor, como consequência da substituição de bens estrangeiros por nacionais. Não é o caso.
As indústrias estão desestimuladas a investir no país. Primeiro: os juros estão elevados. Segundo: não há perspectiva de expansão na demanda no curto prazo. E mais: elas têm de arcar agora com o ônus da inadimplência, que se elevou nos últimos meses.
Carlos de Paiva Lopes, presidente da Abinee, associação da indústria eletroeletrônica, diz que até agora também não saíram as regras para a nacionalização de componentes.
Guilherme Duque Estrada de Moraes, vice-presidente da Abiquim, que reúne a indústria química, diz não dá para produzir a maioria dos produtos químicos (são milhares) por falta de escala.
O fato é que, ao mesmo tempo em que registra superávit maior -o que cai bem aos olhos dos investidores estrangeiros-, o país vai ter de enfrentar um crescimento menor do PIB (Produto Interno Bruto), ver o adiamento de investimentos e ainda a queda da massa salarial.
Para ter uma idéia do tamanho do tombo nas importações, reflexo da economia em marcha lenta, há empresas que praticamente pararam de buscar matérias-primas lá fora. Caso do setor de telecomunicações.
"Algumas empresas estão dando marcha à ré mesmo, importando quase zero", afirma Ernani Brune, gerente de compras da Siemens, fabricante de equipamentos eletrônicos.
"As previsões mudaram radicalmente após o dia 11 de setembro", afirma Andrei Spacov, economista do Unibanco. Se o dólar ficar na faixa de R$ 2,70, diz, o Brasil fecha este ano com superávit comercial de US$ 1 bilhão.
A projeção do banco feita há um mês era de saldo positivo de US$ 500 milhões. Há dois meses, previa déficit de US$ 1 bilhão.
O banco Santander mudou sua previsão de déficit de US$ 400 milhões para superávit de US$ 1 bilhão. O Citibank, que reviu seus números na sexta-feira, alterou sua projeção de déficit de US$ 1,6 bilhão para superávit de US$ 400 milhões. O Lloyds ainda trabalha com estimativa de déficit -US$ 500 milhões-, mas menor do que previa -US$ 1,6 bilhão.
Vários setores estão contribuindo para reduzir a pressão nas importações: têxteis, combustíveis, informática, automóveis e componentes eletrônicos. Esse último foi um dos itens de destaque na pauta de importações.
Em março, o Brasil comprou US$ 602 milhões em componentes eletroeletrônicos. Em junho e em julho, as importações caíram para US$ 499 milhões e US$ 510 milhões, respectivamente.
"E vão continuar caindo. O consumo desabou", diz Paiva Lopes, da Abinee. A associação previa importação de US$ 8 bilhões para o setor neste ano. Reduziu para US$ 6 bilhões.
A substituição de importação, diz ele, uma alternativa para escapar do dólar mais caro, está parada no setor. "Não temos regras claras para produzir no Brasil. A regulamentação do PPB (Processo Produtivo Básico), que está na Lei de Informática, não saiu ainda. Isso emperra a nacionalização dos componentes." O PPB define quanto cada produto pode ter de peças importadas ou nacionais.
Combustíveis
Os combustíveis também pressionam menos a balança. Em junho, o país importou o equivalente a US$ 721 milhões. Em julho, US$ 651 milhões e, em agosto, US$ 591 milhões. Essa queda, segundo os economistas, é resultado da alta do dólar e do preço do petróleo no mercado internacional. O país pode ter postergado um pouco a importação.
No ramo têxtil, a situação se repete. O setor, que importou por mês entre US$ 120 milhões e US$ 150 milhões de janeiro a maio, trouxe de fora o equivalente a US$ 90 milhões em junho e em julho.
Os analistas lembram que essa derrubada na entrada de itens estrangeiros no país não ocorreu do dia para a noite. Assim que o governo anunciou o plano para redução do consumo de energia, as empresas iniciaram programas mais modestos de importação, já prevendo o enfraquecimento da economia brasileira.
A alta do dólar também vem tirando o ânimo das empresas desde o segundo trimestre -a moeda americana ficou mais cara como reflexo da crise argentina.
A expectativa de que a retração econômica mundial será mais intensa, depois dos atentados aos EUA, só agravou a situação. Esse cenário não deve mudar até o final do ano, dizem os economistas.
Os lojistas já avisaram as indústrias de que o Natal não deve ser bom. A Federação do Comércio do Estado de São Paulo prevê queda real de 3,3% no faturamento das lojas neste ano. Há um mês, esperava crescimento de 3% a 5%.
Leia mais no especial sobre atentados nos EUA
Leia mais sobre os reflexos do terrorismo na economia
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