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30/09/2001 - 11h42

Renda do brasileiro terá ganho zero

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LEONARDO SOUZA
da Folha de S.Paulo, em Brasília

O brasileiro terá um ganho real sobre sua renda próximo de zero neste ano, de acordo com a projeção oficial do governo de crescimento da economia.

As consecutivas crises enfrentadas pelo país, conjugadas com uma política monetária recessiva promovida pelo Banco Central, derrubaram as expectativas de desempenho mais vigoroso da economia em 2001, como se imaginava no início do ano.

Com base na previsão do BC de crescimento de 2% para o PIB (Produto Interno Bruto) -medida de toda a riqueza produzida pelo país- em 2001, a renda do brasileiro neste ano aumentará somente 0,6%.

De acordo com a média das projeções do mercado para o PIB (1,7%), divulgada pelo BC no relatório Focus, o crescimento da renda seria de 0,3% em 2001.
Pelas estimativas das instituições financeiras para este ano e 2002 (do mesmo relatório Focus), a renda das famílias brasileiras terá crescido ao final do governo Fernando Henrique 1,06% ao ano, em média, ao longo dos oito anos de mandato do presidente.

Numa comparação simplista, seria como se uma família com ganhos totais de R$ 500, em janeiro de 1995, chegasse a dezembro de 2002 com renda de R$ 544 -ganho de 8,8% no período.

O cálculo da renda é uma função do aumento do PIB pelo crescimento da população. É o que se chama de PIB per capita.

Crescimento da população
De 1995 a 1999, a população do país cresceu a uma média de 1,36%. Em 1999, havia no país 163,948 milhões de habitantes, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). As projeções de aumento do PIB per capita para 2000, 2001 e 2002 foram feitas a partir dessa média de crescimento da população (1,36%).

O governo FHC já enfrentou anos piores do que 2001. Em 1998, a renda do brasileiro encolheu. Isso acontece quando a população tem um crescimento maior do que o PIB. Naquele ano, a população cresceu 1,35%, enquanto o PIB aumentou somente 0,22%.

Em 1998, o Brasil foi afetado por duas crises internacionais. A primeira estourou em outubro de 1997, no Sudeste da Ásia, mas seus efeitos se propagaram até o ano seguinte. Em agosto de 1998, houve a derrocada da Rússia.

Em 1999, a economia cresceu somente 0,79%, ante 1,33% de expansão da população -outro decréscimo da renda. Foi também um ano complicado, marcado pela maxidesvalorização do real, em janeiro.

Em 2000, a situação melhorou consideravelmente, com aumento do PIB de 4,46%.
Em 2001, o governo esperava consolidar um crescimento sustentado do país. A equipe econômica projetava em janeiro expansão de 4,5% do PIB neste ano.

Em fevereiro, a situação da Argentina começou a deteriorar. Em março, já se falava em crise energética e racionamento. Naquele mesmo mês, o BC aumentava os juros básicos pela primeira vez no ano. Em maio, os analistas estimavam que a desaceleração da economia norte-americana seria maior do que o esperado, com consequências para o mundo todo.

O dólar disparou e, para evitar o contágio sobre os preços, o BC elevou outras quatro vezes os juros. De 15,25% ao ano em março, a taxa básica foi para 19% em julho. O aumento dos juros encarece o crédito, o que desestimula o consumidor a comprar.

Atentados terroristas
No dia 11 deste mês, os Estados Unidos sofreram o pior ataque terrorista da história, um forte golpe no nível de confiança do consumidor americano, último suporte da combalida economia do país.

A moeda americana em relação ao real dá uma nova guinada, o que obriga o BC a adotar uma séria de medidas para conter a alta do câmbio -quase todas com impacto sobre o custo do crédito.

Caso o Brasil não tivesse passado por todas essas turbulências e o crescimento econômico previsto pelo governo (4,5%) se confirmasse, a renda das famílias aumentaria 3,1% no ano -dada expansão de 1,36% da população.

O próprio BC reconheceu, na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária, divulgada na semana passada, que a política monetária conduzida pela instituição tem efeito recessivo.

Segundo o documento, "a queda da demanda pode ser explicada pela piora do cenário externo, pelos reflexos nas expectativas [dos consumidores] da crise energética e pela postura restritiva adotada pela política monetária".

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