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01/10/2001
-
08h50
ESTELA CAPARELLI
da Folha de S.Paulo
O câmbio deve continuar pressionado nos próximos meses, forçando o governo a tomar novas medidas para diminuir a disparada do dólar. Para especialistas ouvidos pela Folha de S.Paulo, o câmbio tende a continuar refletindo o clima de cautela do mercado em relação aos desdobramentos dos atentados nos Estados Unidos e à desaceleração global.
Além de medidas já adotadas, como elevação dos juros e aumento do compulsório, o governo pode ter que usar uma outra fórmula para aplacar o clima de tensão no mercado: o aumento do superávit primário (receitas menos despesas sem os juros).
Nesse caso, seria preciso aumentar impostos ou cortar receitas. A medida, que também tem um caráter recessivo, vem sendo sugerida por agências de classificação de risco.
Essas entidades, que influenciam os investidores com suas avaliações, encaram com preocupação o aumento da dívida pública provocada pela elevação dos juros e pela emissão de títulos atrelados ao dólar, ambos usados para conter a alta do dólar. Motivo: o objetivo das agência é avaliar a capacidade que um país de continuar pagando suas dívidas no mercado.
"O governo está driblando a opção do aumento de superávit primário, sugerida pelo mercado, com as últimas medidas anunciadas", diz o economista Raul Velloso, especialista em finanças públicas.
Segundo ele, o governo vive um dilema: se as agências de classificação não ficarem satisfeitas com o crescimento da dívida pública, pode rebaixar o "rating" (classificação de risco) do Brasil, alimentando ainda mais a tensão sobre o câmbio. Por outro lado, o governo deve continuar emitindo títulos atrelados ao dólar para conter a alta da moeda, elevando a dívida pública.
A situação atípica criada pelos atentados terroristas tornou ainda mais difícil prever a que patamar o dólar pode chegar até o final do ano. A tensão criada pela situação e os impactos da desaceleração da economia americana, no entanto, vão continuar provocando dois efeitos perversos sobre o câmbio.
O primeiro deles é o sentimento de cautela que faz com que investidores e empresas procurem proteção para seu patrimônio em dólar. Isso é feito por meio de compra de dólares e de títulos públicos com variação pelo dólar.
A procura maior pelo dólar reduz a quantidade de moeda americana no mercado e, consequentemente, eleva seu valor. Além disso, ao emitir títulos atrelados ao dólar para saciar a sede do mercado por dólares, o governo eleva a dívida pública. Neste ano, o governo fez 23 leilões de títulos públicos com variação pelo dólar, no total de R$ 33,2 bilhões, dos quais R$ 14,9 bilhões apenas em setembro.
O segundo efeito é a redução de investimentos diretos para o Brasil. Foi esse fator que, a partir de outubro do ano passado, provocou preocupação nos investidores e deflagrou a alta do dólar.
Com a perspectiva de desaceleração da atividade nos Estados Unidos, que vinha puxando o crescimento da economia mundial até então, os investidores e empresas diminuem o dinheiro em projetos no Brasil, chamado de investimento direto. Isso acontece porque eles prevêem que a economia brasileira será, a reboque, afetada pela retração global.
O problema é que os recursos do investimento direto são necessários para fechar as contas do país. Este ano, o déficit nas contas do país (transações correntes) será de cerca de R$ 27 bilhões.
Parte dessa diferença será financiada pelos investimentos diretos, que devem fechar o ano entre US$ 18 bilhões e US$ 20 bilhões. As dúvidas pairam sobre os números do próximo ano. Se os investimentos diretos forem ainda mais reduzidos em 2002, o governo terá que encontrar outras fontes de recursos para fechar as contas.
Para alguns analistas, a situação pode ser revertida, com a retomada dos investimentos diretos para o Brasil. Segundo eles, os mercados emergentes voltarão a aparecer como boas oportunidades de negócios para investidores com a desaceleração de grandes economias como Estados Unidos e Europa.
"A confiança dos investidores vai depender de determinadas reformas no Brasil, como da previdência, por exemplo. Isso vai determinar a retomada desses fluxos de capitais", diz Velloso.
Leia mais sobre os reflexos do terrorismo na economia
Mercado se mantém cauteloso e câmbio segue sob pressão
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da Folha de S.Paulo
O câmbio deve continuar pressionado nos próximos meses, forçando o governo a tomar novas medidas para diminuir a disparada do dólar. Para especialistas ouvidos pela Folha de S.Paulo, o câmbio tende a continuar refletindo o clima de cautela do mercado em relação aos desdobramentos dos atentados nos Estados Unidos e à desaceleração global.
Além de medidas já adotadas, como elevação dos juros e aumento do compulsório, o governo pode ter que usar uma outra fórmula para aplacar o clima de tensão no mercado: o aumento do superávit primário (receitas menos despesas sem os juros).
Nesse caso, seria preciso aumentar impostos ou cortar receitas. A medida, que também tem um caráter recessivo, vem sendo sugerida por agências de classificação de risco.
Essas entidades, que influenciam os investidores com suas avaliações, encaram com preocupação o aumento da dívida pública provocada pela elevação dos juros e pela emissão de títulos atrelados ao dólar, ambos usados para conter a alta do dólar. Motivo: o objetivo das agência é avaliar a capacidade que um país de continuar pagando suas dívidas no mercado.
"O governo está driblando a opção do aumento de superávit primário, sugerida pelo mercado, com as últimas medidas anunciadas", diz o economista Raul Velloso, especialista em finanças públicas.
Segundo ele, o governo vive um dilema: se as agências de classificação não ficarem satisfeitas com o crescimento da dívida pública, pode rebaixar o "rating" (classificação de risco) do Brasil, alimentando ainda mais a tensão sobre o câmbio. Por outro lado, o governo deve continuar emitindo títulos atrelados ao dólar para conter a alta da moeda, elevando a dívida pública.
A situação atípica criada pelos atentados terroristas tornou ainda mais difícil prever a que patamar o dólar pode chegar até o final do ano. A tensão criada pela situação e os impactos da desaceleração da economia americana, no entanto, vão continuar provocando dois efeitos perversos sobre o câmbio.
O primeiro deles é o sentimento de cautela que faz com que investidores e empresas procurem proteção para seu patrimônio em dólar. Isso é feito por meio de compra de dólares e de títulos públicos com variação pelo dólar.
A procura maior pelo dólar reduz a quantidade de moeda americana no mercado e, consequentemente, eleva seu valor. Além disso, ao emitir títulos atrelados ao dólar para saciar a sede do mercado por dólares, o governo eleva a dívida pública. Neste ano, o governo fez 23 leilões de títulos públicos com variação pelo dólar, no total de R$ 33,2 bilhões, dos quais R$ 14,9 bilhões apenas em setembro.
O segundo efeito é a redução de investimentos diretos para o Brasil. Foi esse fator que, a partir de outubro do ano passado, provocou preocupação nos investidores e deflagrou a alta do dólar.
Com a perspectiva de desaceleração da atividade nos Estados Unidos, que vinha puxando o crescimento da economia mundial até então, os investidores e empresas diminuem o dinheiro em projetos no Brasil, chamado de investimento direto. Isso acontece porque eles prevêem que a economia brasileira será, a reboque, afetada pela retração global.
O problema é que os recursos do investimento direto são necessários para fechar as contas do país. Este ano, o déficit nas contas do país (transações correntes) será de cerca de R$ 27 bilhões.
Parte dessa diferença será financiada pelos investimentos diretos, que devem fechar o ano entre US$ 18 bilhões e US$ 20 bilhões. As dúvidas pairam sobre os números do próximo ano. Se os investimentos diretos forem ainda mais reduzidos em 2002, o governo terá que encontrar outras fontes de recursos para fechar as contas.
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