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01/10/2001 - 08h59

Dólar recua; cresce risco para o investidor

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SILVANA MAUTONE
da Folha de S.Paulo

Se o dólar vai parar de subir e até recuar como ocorreu na semana passada, ninguém sabe. Mas uma coisa é certa: o Banco Central deixou claro que considera que a moeda norte-americana está com a sua cotação além do aceitável.

Isso se tornou evidente no último dia 21, quando ela atingiu o valor recorde de R$ 2,835, e o BC passou a adotar uma série de medidas para retirar dinheiro do mercado e, assim, inibir a procura por dólar. O resultado foi um recuo de 5,8% na semana passada, quando ele fechou a R$ 2,670.

"Se essas medidas serão suficientes para brecar a desvalorização do real, é difícil prever, mas não me sinto confortável para aconselhar investimento em dólar agora", diz Emílio Garófalo, ex-diretor do BC e consultor.

Acompanhar os movimentos do BC é fundamental para quem está tentado a investir na moeda americana, que já se valorizou 36,85% neste ano. Quem já possui aplicações em dólar também deve ficar atento a fim de avaliar se já é hora de sair e embolsar o ganho.

Desde 1994, o CDI (Certificado de Depósito Interbancário) vem superando o dólar na maior parte do tempo, perdendo da moeda americana apenas quando ela atinge alguns picos, em momentos de crise como o atual. Passada a tempestade, o juro volta a render mais. O problema atual é saber se essa virada da curva do câmbio já começou.

"Se o governo passar a atuar no mercado futuro, as chances de derrubar significativamente a cotação são grandes", diz Garófalo. Para isso, porém, tem de pedir autorização para o FMI (Fundo Monetário Internacional), já que o acordo firmado com o Fundo veta ao BC esse tipo de atuação.

Segundo Luiz Antonio Vaz das Neves, diretor da corretora Planner, outra alternativa que o BC deve negociar com o FMI é a permissão para baixar o nível de reservas líquidas do país em dólar, estipulado em US$ 20 bilhões.

"Haverá negociação", diz Vaz das Neves. "Acho que para conseguir o que quer, o BC talvez suba os juros, como sugeriu na semana passada Anne Krueger, vice-diretora-gerente do FMI", diz.

Se pode ou não haver elevação na taxa básica de juros, que hoje está em 19% ao ano, é outra questão controversa no mercado.

Há quem considere que é muito improvável que isso aconteça, como Sérgio Werlang, ex-diretor do BC. "A elevação que já foi feita derrubou o PIB (Produto Interno Bruto) de forma abrupta", diz. A previsão do governo, no início do ano, era de 4,5% de crescimento. A taxa foi revista e hoje é de 2,2%.

Segundo Werlang, não há espaço para que a alta do dólar seja repassada aos preços, causando inflação. Por isso, na sua opinião, não há por que elevar os juros.

Apesar de ser praticamente consenso no mercado que um novo aumento nos juros traria mais prejuízos do que benefícios, essa possibilidade não é descartada. "Mas acho que essa seria a última alternativa do BC", diz Márcio Verri, sócio-gerente da BankBoston Asset Management.

Walter Brasil Mundell, presidente da LAM (Lloyds Asset Management), também não descarta essa possibilidade, mas acredita que essa seria uma péssima decisão do governo. "Seria uma maluquice, porque elevaria tremendamente a dívida interna brasileira."

No caso, afirma, o risco seria de o mercado internacional passar a temer um calote no pagamento da dívida, como ocorreu em 98. "Esse é um duro legado para o próximo governo."

Qual seria o patamar considerado ideal pelo governo para o dólar? Essa também é outra questão que paira sem resposta no mercado financeiro.

"O dólar alto traz o grande benefício do superávit no balanço de pagamentos", diz Werlang. "Não vejo problema nenhum em o dólar ficar cotado entre R$ 2,70 e R$ 2,80", completa. Segundo ele, nesse patamar o governo conseguiria gerar um superávit de US$ 10 bilhões nos próximos 12 meses.

Com o real desvalorizado, naturalmente as exportações tendem a crescer, enquanto as importações, a diminuir. Mas o Brasil está dando atenção às exportações na hora errada, segundo o economista Paulo Yokota.

"A verdade é que perdemos o bonde", diz. Ele explica que, quando o mundo estava em expansão, e por isso disposto a consumir mais, o Brasil não se preocupou em se inserir nesse mercado. "Quer fazê-lo agora, quando as portas estão se fechando."

Segundo Yokota, entre 70 e 84, as exportações brasileiras, em volume, cresceram 13%, enquanto no mundo o crescimento foi de 4%. De 1985 a 2000, quando no mercado internacional as exportações cresceram 6%, as brasileiras registraram alta de apenas 5%.

Na avaliação de Vaz das Neves, o governo deve, nos próximos dez anos, trabalhar com o dólar sobrevalorizado em cerca de 30%, justamente para tentar, assim, equilibrar as balanças comercial e de pagamentos.

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