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07/10/2001 - 09h03

Juros em zero não reanimam economia global

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GILSON SCHWARTZ
articulista da Folha de S.Paulo

Os bancos centrais das duas maiores economias do mundo praticam taxas de juros nulas. Mesmo assim os mercados financeiros continuam céticos quanto às perspectivas de recuperação da economia internacional, a começar pela dos Estados Unidos. Já são nove cortes sucessivos da taxa de juros nos Estados Unidos somente neste ano.

É a taxa mais baixa em quase 40 anos. Descontada a inflação, a taxa chegou a zero. No Japão, a taxa é zero mesmo, nominalmente (o que não impediu pressões deflacionárias e uma queda na produção industrial, desde o ano passado, de aproximadamente 12%).

A UE (União Européia), ainda tentando emplacar o euro como referência mundial, segura o mais que pode suas taxas de juros. Em tese, trata-se de um expediente para atrair investimentos (as aplicações financeiras tenderiam a migrar para o mercado em que as taxas de juros são mais altas).

O custo dessa estratégia é evidente. Na França, o desemprego está em 9%, com mais de 2 milhões de pessoas em busca de um posto de trabalho. Na zona do euro a taxa de desemprego é de 8,3%.

Alternativa
Se baixar as taxas de juros não basta, qual a alternativa? O governo de George W. Bush anunciou na semana passada uma proposta de gastos públicos que poderiam chegar a US$ 75 bilhões. Somada a cortes de impostos, a tendência seria colocar mais dinheiro em circulação e, assim, estimular a retomada dos gastos de consumidores e empresas.

Há um problema básico nessa estratégia. Enquanto a lucratividade estiver em queda e o desemprego em alta, não há razão para que o consumidor gaste mais e a empresa amplie sua capacidade produtiva. O caso do Japão é didático: há mais de uma década o governo edita pacotes de estímulos fiscal (mais gastos públicos) sem conseguir tirar a economia da estagnação.


Digestão
A comparação é ainda mais inquietante quando se percebe que um dos motivos para o fracasso da política econômica japonesa tem sido a longa digestão de perdas no sistema financeiro.

A julgar pelo desempenho das instituições financeiras norte-americanas, algo parecido pode estar em curso. É o que se conhece como "fim da bolha especulativa". Mas, diferentemente do que ocorreu na crise de 1929, o fim não é catastrófico. Instaura-se um processo longo e penoso de queima gradual de capitais.

Para o Brasil, a freada mundial coloca novamente em risco a confiança na moeda. O Banco Central está claramente perdendo a batalha, e as agências de risco castigam a cada semana empresas e papéis brasileiros. Sem perspectiva de exportar mais ou de atrair investimentos externos em volume suficiente, a política cambial está outra vez sob suspeita.


Profundo e rápido
Uma crise profunda e rápida, um pânico, seria melhor que essa agonia prolongada? É o que sempre disseram os economistas ultraliberais, que aliás formam a base da equipe econômica do presidente George W. Bush.

Até agora, no entanto, eles têm agido como "keynesianos", propondo gastos públicos e cortes de juros para reanimar a demanda (consumo e investimento). O fracasso dessas medidas, no entanto, pode afinal provocar um estrago rápido e mais intenso. A recuperação talvez fosse igualmente rápida e mais intensa, talvez já em 2002.
 

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