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03/11/2001 - 09h37

EUA sofrem deflação pela primeira vez desde Eisenhower

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FLOYD NORRIS
do ''The New York Times"

Deflação. Depois de 47 anos, os Estados Unidos voltam a ter uma. Para uma geração criada com medo da inflação, seu oposto -preços caindo em toda a economia- não deixa de ter seus atrativos. Pagar menos tem de ser bom.

Mas certamente há um ponto fraco. Aquilo que para você é um custo representa a renda de outra pessoa. E quando a renda cai, muitos problemas são criados para a economia, e se torna mais difícil estimular o crescimento por meio da política monetária. Os preços caíram durante a Grande Depressão, e estão em queda agora no Japão. Nenhum desses dois casos é um exemplo a ser imitado.

E agora um indicador demonstra que a deflação está nos EUA.

O relatório trimestral do governo sobre o crescimento mostrou que a economia se contraiu no terceiro trimestre -queda de 0,4%, em termos anualizados, nos preços dos bens de consumo pessoal. Foi a primeira queda trimestral desse indicador em quase meio século -desde o segundo trimestre de 1954.

O número é calculado de maneira mais sofisticada do que o índice de preços ao consumidor, um indicador mais conhecido, e o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) presta atenção a ele. Alan Greenspan, presidente do Fed, prefere um indicador diferenciado para os preços dos bens de consumo pessoal, excluindo alimentos e energia. Mesmo esse número mal registra crescimento, com sua alta anualizada de 0,3%.

É claro que parte do colapso na inflação deriva de cortes de preços induzidos pela recessão, o que é normal. Mas houve sete recessões desde 1954, e nenhuma delas apresentou deflação.

O que é novidade aqui é que a deflação está se espalhando do mundo industrial para os consumidores. O índice de matérias-primas industriais brutas do "Commodity Research Bureau" chegou a um pico em 1995, e está agora em sua marca mais baixa em 15 anos, com perdas de 16% neste ano e 40% abaixo do pico. O relatório da Associação Nacional dos Executivos de Compras demonstra que o poder de fixação de preços das empresas está em seu nível mais baixo desde 1949.

Há quem ganhe com a deflação. A queda nos preços da gasolina equivale a um corte de impostos, que a economia certamente poderia usar. Como demonstra a experiência japonesa, deflação duradoura pode causar grande queda no consumo, pois os consumidores concluem que os preços tendem a baixar mais. Cortar salários é muito difícil, os lucros das empresas caem, o que gera mais demissões e mais queda no consumo, o que gera ainda mais demissões, e assim por diante.

A maneira clássica de combater esse tipo de processo de debilitação econômica é relaxar a política monetária. Mas para gerar um estímulo, o Fed precisa estipular taxas de juros inferiores à inflação. "A armadilha da liquidez na teoria econômica é disparada se a taxa de inflação cai abaixo de zero", diz Robert Barbera, economista-chefe da Hoenig & Co. "O BC gasta toda sua munição antes que a inflação chegue a zero."

As taxas de juros menores neste ano impediram o colapso dos setores de habitação e automóveis, algo que costuma acontecer no início das desacelerações. Mas o mercado residencial começa a perder impulso. "Parece agora que a tendência de queda nos preços da habitação vai acentuar o efeito patrimonial negativo gerado pelo declínio nas Bolsas de Valores", diz Dean Baker, co-diretor do Centro de Pesquisa Econômica e Política, de Washington.

Uma década atrás, o BC do Japão demorou a afrouxar as condições de crédito depois do estouro da bolha nos mercados do país. Não há como provar que essa demora foi a causa dos males japoneses, mas ela decerto não ajudou. É um precedente do qual Greenspan certamente se lembra.

A deflação é mais uma razão para cortes rápidos nos juros. Quando o Fed se reunir, na semana que vem, qualquer coisa inferior a um corte de meio ponto percentual na taxa dos fundos federais (hoje em 2,5%) seria um sinal errado. E um novo corte em dezembro seria provavelmente inteligente.

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