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19/11/2001 - 08h59

Queda no preço do petróleo estimula economia dos EUA

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do "The New York Times

As dificuldades da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) em cortar a produção podem-se traduzir em benefícios substanciais para empresas e consumidores norte-americanos. Com os preços do petróleo em queda devido à falta de acordo entre membros da Opep e países exportadores que não fazem parte do cartel (sobretudo Rússia), os EUA estão prestes a receber um estímulo muito necessário, com a queda dos preços da energia. Esse estímulo, somado a taxas de juros mais baixas, deve melhorar as chances de a economia do país escapar da crise antes do imaginado.

"A economia dos EUA funciona bem com petróleo barato e crédito a baixo custo, e no momento ambos estão custando pouco", diz Cynthia Latta, economista da consultoria DRI/WEFA. "Podemos esperar uma melhora para o ano que vem."

Os preços do petróleo, que oscilavam em torno dos US$ 30 por barril em setembro, encerraram a semana a US$ 17,75 (tipo brent, em Londres).

Desde segunda-feira, houve desvalorização de 17%. Isso traz perspectivas de gasolina mais barata e custos de energia reduzidos para uma ampla gama de setores, como companhias aéreas e montadoras de automóveis, ou produtores de fertilizantes e geradoras de energia elétrica (nos EUA, a principal fonte de energia são os combustíveis fósseis).

Ninguém sabe ao certo por quanto tempo os preços se manterão assim baixos, ou até que ponto a queda desses preços estimulará a economia norte-americana, que gera US$ 10 trilhões ao ano. Mas o efeito geral sobre a economia deve ser positivo, dizem os economistas.

Alguns desses efeitos talvez já sejam perceptíveis. O preço do gás natural, usado para aquecer casas e gerar eletricidade, caiu para cerca de US$ 2,30 por milhão de BTUs, ante cerca de US$ 10 um ano atrás, o que reduz acentuadamente o custo da energia.

Caso dure, a queda no preço do petróleo pode gerar benefícios ainda maiores. Alguns modelos econômicos demonstram que, para cada US$ 1 de decréscimo no custo do barril, os consumidores ganham US$ 5 bilhões em poder aquisitivo. Uma queda do barril de US$ 30 (há um ano) para US$ 20 pode-se traduzir em ganhos de cerca de US$ 50 bilhões no poder aquisitivo dos americanos.

"Essa é mais ou menos a dimensão do corte de impostos proposto pelo governo'', afirma Mark Zandi, economista-chefe da consultoria Economy.com. 'Isso se refere apenas aos consumidores. As empresas também poderiam economizar bilhões de dólares nos custos de produção."

Como automóveis e veículos comerciais leves consomem cerca de metade do petróleo vendido nos EUA, a maior economia deve ser na ponta do consumo, o que injetaria uma boa soma em dinheiro nos bolsos dos consumidores bem em tempo para a temporada de compras de Natal. Isso representaria uma reviravolta radical depois de um ano em que a gasolina chegou aos US$ 2,25 por galão (US$ 0,60 por litro). Nas últimas semanas, a gasolina em boa parte dos EUA caiu abaixo do US$ 1,20 por galão.

O aumento no óleo diesel e no querosene de aviação também prejudicou o setor de transporte aéreo, ainda antes dos ataques terroristas, e forçou empresas de entregas a aplicar sobretaxas. A UPS gastava cerca de US$ 700 milhões em combustível ao ano. No ano passado, os custos de combustível ultrapassaram os US$ 930 milhões, de acordo com Steve Holmes, porta-voz da empresa.

Pagar menos por gasolina ou óleo usado no aquecimento doméstico estimula o consumo, dizem economistas. 'Isso significa que temos mais dinheiro para gastar em outras coisas, como cinema ou compras'', afirma Latta, da DRI/WEFA. "Se o consumo se mantiver alto, os efeitos da crise podem ser mitigados."

Alguns economistas advertem, no entanto, que preços mais baixos para o petróleo causariam um efeito negativo, com a queda na demanda por produtos norte-americanos no exterior.

"A tendência talvez seja inicialmente boa para a economia norte-
americana, mas não se sabe se continuará sendo ao longo do tempo", diz James Glassman, economista do JP Morgan. "Isso cria deslocamentos em mercados emergentes, como a Rússia e o Oriente Médio. Quando as receitas deles com o petróleo caem, seu poder aquisitivo cai". Ou seja, eles teriam menos recursos para importar dos EUA.

Algumas empresas sofreriam a curto prazo, entre as quais a Exxon Mobil, Kerr-McGee, Chevron Texaco e outras grandes empresas petroleiras. Alguns dos grupos mais diversificados e de maior porte, que também refinam petróleo e têm outras operações no ramo químico, escapariam a essa tendência, mas praticamente todas as empresas petroleiras passariam por queda no crescimento de seus lucros depois de dois anos de consolidação e elevação recorde dos ganhos.

"A festa acabou", diz Eugene Nowak, analista do setor petroleiro do ABN-Amro. "As empresas tiveram bons momentos, mas o terceiro trimestre começou a expor certas fraquezas. Os lucros cairão consideravelmente."

Diversos analistas do setor, no entanto, dizem que a indústria jamais esperou que os preços se mantivessem por muito tempo acima dos US$ 25 por barril. As empresas sabiam que se tratava de um momento extraordinariamente favorável, e muitas foram cautelosas.

"Estamos prevendo um setor com problemas? Absolutamente não'', afirma Mark Flannery, analista de petróleo no Credit Suisse First Boston. 'O setor ganhará menos, mas passou por uma bonança nos dois últimos anos.''
 

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