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27/11/2001 - 07h43

Década da riqueza americana chega ao fim

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MARCIO AITH
da Folha de S.Paulo, em Washington

Ao divulgar ontem que os EUA estão em recessão desde março passado, o grupo de economistas que mede oficialmente o início e o fim de ciclos da economia norte-americana anunciou, na prática, a primeira crise geral da economia globalizada _ou pelo menos uma desaceleração sincronizada nas três maiores economias do planeta (EUA, Japão e países da União Européia).

Os economistas pertencem a um comitê do NBER (Serviço Nacional de Pesquisa Econômica, na sigla em inglês), entidade de professores de economia que é referência máxima para definir o início e o fim de contrações e de expansões da economia americana.

Segundo a entidade, os EUA entraram em recessão em março passado, exatamente dez anos depois do início do que foi considerado seu mais longo período de expansão da história (março de 1991 a março de 2001).

Em um comunicado, o comitê anunciou estar "seguro de que a contração total na economia é suficiente para definir que uma recessão está em curso".

Com a confirmação da recessão americana, fica claro que EUA, Japão e Europa, considerados os três maiores motores da economia mundial, estão à beira de uma nova recessão sincronizada.

Nos anos 70, a alta da inflação e a crise do petróleo levaram a tríade a uma desaceleração conjunta, mas de menor impacto _o PIB japonês encolheu em 1974, mas a economia do país asiático não vivia a estagnação crônica de agora, e a Europa cresceu naquele ano.

"O fato de o mundo inteiro estar virtualmente em recessão ao mesmo tempo irá contribuir para a duração e a severidade da crise", declarou à Folha de S.Paulo Jeffrey A. Frankel, professor de economia de Harvard e um dos seis integrantes do painel do NBER que colocou os EUA oficialmente em recessão.

Para outro integrante do painel, o professor Victor Zarnowitz, da Universidade de Chicago, o alto grau de sincronia da crise global "é adverso para o mundo todo, principalmente para os que dependem do comércio externo".

Para Stephen Roach, economista-chefe do banco de investimentos Morgan Stanley, "o que ocorre hoje é diferente e pior do que ocorreu em outras recessões mundiais que conhecemos", pois "o mundo tornou-se interconectado" e isso nos leva a território desconhecido.

Para o Fundo Monetário Internacional, o mundo está numa séria crise, independentemente da definição que se dê ao termo recessão. Segundo os cálculos do FMI, um crescimento médio anual inferior a 2,5% equivale a uma estagnação, pois o ritmo seria insuficiente para suprir as necessidades crescentes da população mundial. Neste ano e em 2002, o mundo deve crescer 2,4%, segundo o FMI.

Para a UE, projetam-se crescimentos de 1,7% e 1,8%. A Alemanha, terceira maior economia do mundo, já anunciou que não cresceu no terceiro trimestre de 2001. Para analistas, a economia alemã pode encolher no último trimestre do ano.

Com o mapa da nova recessão global em mãos, os críticos das reformas de mercado e do processo de integração comercial e de capitais ganham um argumento num debate que já dura uma década.

Os países em desenvolvimento que mais abriram suas fronteiras a capitais e produtos externos sofrem contrações. Já países como China, Rússia e Índia, que resistiram ao processo de globalização, conseguiram proteger-se mais adequadamente dessa que parece ser a primeira crise mundial depois da integração dos mercados de capitais internacionais.

Para o NBER, os EUA poderiam ter escapado da recessão não fossem os atentados de 11 de setembro. "Os ataques aprofundaram a contração e podem ter sido um importante fator que transformou em recessão um episódio que poderia ser uma crise leve."

Segundo o NBER, recessão é "uma significativa queda na atividade dispersa em toda a economia que dure mais de alguns meses, sendo visível na produção industrial, emprego, renda e comércio no atacado e varejo".

Essa definição difere da mais popular, decorrente de dois trimestres seguidos de contração do PIB. Ao determinar que os EUA estão em recessão, a entidade destacou o aumento do desemprego _5,4% em outubro, a mais elevada taxa dos últimos cinco anos_ e a queda na produção industrial.
 

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