Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
23/12/2001 - 08h52

Argentina deixou de pagar dívida na sexta-feira

Publicidade

da Folha de S.Paulo, em Bueno Aires

A Argentina não pagou os vencimentos de sua dívida externa da sexta-feira passada. Ontem, o presidente interino do país, Ramón Puerta, disse que os credores estão dispostos a esperar. "Nos esperam até quarta-feira", afirmou.

Segundo a Folha apurou e de acordo com o jornal argentino "Página 12", Adolfo Rodríguez Saá, que deve tomar posse hoje como presidente do país até março de 2002, rascunhou um plano econômico baseado em dois pontos principais.

Seria declarada uma moratória formal de 60 dias da dívida com os credores externos. A fim de driblar a declaração formal do fim da paridade entre o dólar e o peso, o governo Saá aprofundaria a "desvalorização disfarçada" que começou com o ex-presidente Fernando de la Rúa.

Isto é, seriam emitidos mais certificados (títulos) da dívida pública para pagar salários e algumas outras despesas públicas. Tais títulos teriam valor de moeda e seriam chamados "argentinos". Na prática equivaleriam às Lecops já emitidas por De la Rúa e Domingo Cavallo, mas haveria um volume muito maior desses títulos.

Pela lei da conversibilidade, a qual Saá pretenderia manter, a Argentina não pode elevar a quantidade de pesos na economia sem que entrem dólares no país (por meio de exportações ou investimentos estrangeiros).

Como não pode emitir dinheiro para gastar, o governo criaria um novo tipo de vale (um título, papel que comprova uma dívida do governo), que seria praticamente uma moeda paralela em circulação. A emissão seria equivalente a US$ 10 bilhões e substituiria os títulos semelhantes ("patacones", Lecops) em circulação. Cerca de 30% do Orçamento seria despendido na forma de "argentinos".

Saque bancário liberado

Falta de dinheiro e questões técnicas devem dificultar a liberação total dos saques de salários nas contas bancárias a partir de amanhã, como prometeu o novo governo argentino. O BC teme uma corrida bancária.

A advertência foi feita por um diretor do próprio banco central, responsável por ordenar e instrumentar o processo com as instituições financeiras. Os bancos não teriam dinheiro suficiente para cumprir a medida, que só poderia ser efetivada sem problemas a partir de fevereiro, quando os salários de janeiro chegarem às instituições financeiras.

O ex-ministro da Economia Domingo Cavallo, que renunciou na madrugada de quinta-feira, limitou os saques das contas bancárias no país devido à forte fuga de recursos registrada no último dia de novembro, quando mais de US$ 2 bilhões foram retirados do sistema financeiro.

Desde o início deste mês, os argentinos ficaram proibidos de sacar em dinheiro vivo de suas contas mais de US$ 250 semanais.

Quem mais sentiu foram os profissionais que recebem salários por meio de contas bancárias e foram obrigados a utilizar cheques e cartões para ter acesso à totalidade do pagamento.

Na quinta-feira, o Senado derrubou o teto: os argentinos poderiam voltar a ter acesso a todo seu salário em dinheiro vivo. Basta, para isso, que a lei aprovada pelo Congresso seja promulgada e publicada no "Diário Oficial".

Apesar de o processo ser relativamente simples, no banco central acredita-se que não haveria caixa suficiente nos bancos para suprimir a demanda dos argentinos por dinheiro vivo.
A lei que restitui o direito de os assalariados terem acesso total a seus salários deve ser promulgada pelo Poder Executivo.

Ramón Puerta, que assumiu o comando do país por 48 horas, após o Congresso aceitar o pedido de renúncia do ex-presidente Fernando de la Rúa, não deve promulgar a lei.

A responsabilidade passaria então a Rodríguez Saá. Se Saá o fizesse ainda neste fim de semana, haveria a possibilidade de ser publicada no "Diário Oficial" de amanhã, como é esperado.
Apesar de não ser muito grande o número de argentinos que recebem mais de US$ 1.000 por mês e que, consequentemente, teriam o direito de ir aos bancos retirar o restante que deixaria de ser limitado pelo atual teto para saques, os bancos teriam dificuldades para pagar o dinheiro exigido.

Aproximadamente 10% dos argentinos que recebem por contas bancárias ganham entre US$ 1.000 e US$ 2.000. Outros 10%, ganham mais de US$ 2.000. Os salários dos 80% restantes não alcançam os US$ 1.000.

O ministro interino da Economia, Jorge Capitanich, afirmou, em entrevista a uma rádio argentina ontem, que o governo tem recursos para pagar os salários do setor público de dezembro.

Com agências internacionais
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página