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30/07/2008 - 13h03

Celso Amorim diz que economia mundial sofrerá com fracasso de Doha

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da Efe, em Genebra

A economia mundial sofrerá com o fracasso das negociações da Rodada de Doha, resultado que prejudicará principalmente os países mais pobres e que permitirá que os Estados Unidos sigam em frente com uma lei para aumentarem seus subsídios agrícolas, lamentou nesta quarta-feira o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

Em entrevista à Agência Efe, Amorim reconheceu que "todos perderam", inclusive o Brasil, mas "os mais pobres sempre perdem mais, pois têm menos capacidade de adaptação".

"Em geral, todos perderam, pois se a nova lei agrícola dos EUA entrar em vigor criará a possibilidade de subsídios ainda maiores do que já existiam", declarou.

O Brasil foi uma das sete potências comerciais --juntamente com Austrália, China, Índia, Japão, EUA e União Européia (UE)-- que negociaram nos últimos dias sem sucesso um acordo sobre a liberalização agrícola e industrial, considerada indispensável para levar uma proposta concreta para um grupo mais amplo de países.

"Fizemos [o Brasil] tudo o que pudemos olhando não apenas para nossos interesses, mas também para os dos países mais pobres e em desenvolvimento", afirmou Amorim, que explicou que, para isto, foi "além dos limites que tinha definido antes de ir para Genebra".

"Não me arrependo, pois acho que isto permitiu conseguir avanços", disse o chanceler, apesar de os esforços terem sido insuficientes para alcançar um acordo que permitisse encerrar a Rodada de Doha no final do ano, como era o objetivo.

Espera por novo governo dos EUA

Para o ministro, um dos grandes protagonistas das negociações, elas dificilmente poderão ser retomadas nos próximos meses e o mais provável é que tenha que se esperar pelo novo Governo nos EUA.

"Vamos esperar dois ou três anos", previu Amorim, após dizer que apesar de "não se partir do zero, muitas coisas serão mudadas. Não se pode ter a ilusão de que tudo está encerrado esperando uma solução final".

"Isto não é um quebra-cabeças que está sem uma peça e que quando é colocada tudo fica pronto. Há várias coisas que teriam que ser revisadas", afirmou.

Embora reconheça que o colapso da Rodada de Doha represente para ele uma frustração pessoal após vários anos investidos no processo, Amorim evitou dramas ao dizer que "a vida continua".

No entanto, o ministro declarou que retomar as negociações não será uma tarefa simples, pois as questões e as preocupações dos países mudam com o tempo.

Subsídios agrícolas

"A discussão sobre agricultura era uma antes da crise dos alimentos e agora é outra. Pode ser que [no futuro] nossa tolerância aos subsídios [agrícolas] diminua e achemos que deva ser zero", declarou.

Nesses últimos dias de intensas negociações, os EUA propuseram reduzir seu limite máximo de subsídios para US$ 15 bilhões anuais, em relação ao limite de US$ 48 bilhões atuais, mas a oferta ficou no vazio após o fracasso.

Perguntado sobre se sua aliança com a Índia dentro do Grupo dos Vinte (G20, formado por países em desenvolvimento exportadores agrícolas) está mantida apesar das posições divergentes do Brasil nos momentos cruciais das conversas, Amorim garantiu que a unidade do bloco "não foi rompida".

O chanceler brasileiro reconheceu, no entanto, que "talvez uns e outros possam ter se mostrado mais flexíveis para chegarem a uma conclusão, mas às vezes é necessário passar por isto, uma crise".

Em todo caso, Amorim destacou que esta aliança de países em desenvolvimento deixa uma contribuição essencial para a Organização Mundial do Comércio (OMC), que é ter conseguido "mudar para sempre o processo de negociação e o papel que os países em desenvolvimento têm nele".

"Infelizmente, não conseguimos ver o resultado, mas acho que chegará, mas levará mais tempo. Além disso, se precisar ser para uma nova geração, que seja para ela", declarou.

Fissuras

Sobre as fissuras observadas no Mercosul durante as negociações, Amorim disse que a grande lição para o bloco é a necessidade "de ter uma posição negociadora única", o que não foi conseguido por "fatores relacionados à história".

"Temos que passar de um nível de coordenação para um nível de integração verdadeira. Muitos dos problemas que tivemos aqui foram causados por isto", explicou.

Apesar do compasso de espera no qual entrou a Rodada de Doha, o chanceler advertiu que os acordos bilaterais não são a solução para as barreiras comerciais dos países e que assuntos como subsídios nas nações ricas nunca poderão ser resolvidos a este nível.

"Não há tratado de livre-comércio nem acordo com a UE, nada disso pode acabar com o principal veneno que existe no comércio internacional", disse ao se referir a estes subsídios.

Comentários dos leitores
JT Hiroyuki (9) 20/08/2008 08h46
JT Hiroyuki (9) 20/08/2008 08h46
Infelizmente nosso Ministro de Relações Exteriores deixa a desejar quando o assunto é defender nosso país. 31 opiniões
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Danny Yazbek (180) 19/08/2008 22h02
Danny Yazbek (180) 19/08/2008 22h02
Neste mes, ocorrida a posse do novo Presidente do Paraguai, eleito com discurso populista Anti-Brasil, especificamente voltado ao aumento de tarifas de energia produzida pela Usina Itaipu, será mais uma pedra no sapato do Ministério das Relações Exteriores, e a julgar pelo mau desempenho do Ministro na Rodada Doha, certamente irá abaixar a cabeça mais uma vez, assim como fez com a Bolívia, a Venezuela e etc...
Celso Amorin tá mau hein? Pede pra sair!
45 opiniões
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Bernardo Fonseca Mendes (25) 31/07/2008 13h32
Bernardo Fonseca Mendes (25) 31/07/2008 13h32
Lamentável a posição do Brasil nas negociações. O "gigante" da América Latina cede facilmente aos interesses dos EUA e da U.E.
Nisso pelo menos a Argentina, mesmo com mil problemas, está mil anos na nossa frente.
Comparem a história da política externa brasileira com a da Argentina. Eles sempre foram mais resistentes, enquanto nós, ou melhor, nossas elites, sempre mais vendidas.
Vocês já leram "Germinal", de Émile Zola, escrito na efervescência econômica e social francesa?Pois bem, o patrão tentava negociar com os trabalhadores seus salários. Sempre na posição do mais forte, tentava justificar que "sua posição" era benéfica para o mundo dos negócios. Era melhor os trabalhadores aceitarem as propostas ao perder o emprego.
No meio dos trabalhadores havia um líder, esperto e forte. O patrão, assim q percebeu q o líder era uma ameaça passou a cooptá-lo. O líder virou capataz em troca de merrecas e tentava convencer os colegas era melhor ceder do que lutar.
O Brasil faz a mesma coisa. Engana os países vizinhos, pois sabe que ele, por ser o mais forte da região, será o menos prejudicado. Da mesma forma, se vende com facilidade aos interesses dos EUA, na tentativa de ganhar algo com isso. [2]
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