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01/08/2002 - 09h17

Desvalorização do real pode fazer desemprego atingir níveis recordes

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FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
da Folha de S.Paulo

A crise do dólar pode levar o país a enfrentar desemprego recorde neste ano. É o que prevêem especialistas em mercado de trabalho, se o real continuar se desvalorizando em ritmo acelerado. As demissões podem afetar mais a indústria de bens duráveis (carros e eletroeletrônicos), dependentes de insumos importados, e o setor de telecomunicações, por causa das dívidas em dólar.

"Estamos vivendo um momento de grande instabilidade, capaz de comprometer o desempenho da economia no segundo semestre. A previsão era de queda na taxa de desemprego neste semestre, mas isso está cada vez mais difícil de acontecer", diz Sérgio Mendonça, diretor técnico do Dieese.

Mesmo sem a crise do dólar, o Dieese acredita que a taxa média de desemprego na Grande São Paulo neste ano já seria a segunda pior da história -só melhor do que a de 99 (19,3%). "Se o dólar continuar subindo, podemos ter uma crise de desemprego pior que a de 99."

A diferença entre essa crise e a que o país viveu em 99, diz, é que os juros naquela época estavam mais altos e o país enfrentava forte recessão. "Se o BC decidir elevar os juros agora, será o mesmo que incendiar uma aldeia com casas de madeira", afirma Mendonça. Ele avalia que a crise cambial pode resultar em crescimento da economia menor do que 1% neste ano. "O que já é suficiente para aumentar o desemprego."

Anselmo Luís dos Santos, do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Unicamp, diz que o desemprego neste semestre será pior do que o verificado em igual período de 2001 por causa dessa crise cambial.

"O investimento já estava baixo e a economia lenta. Agora que os preços vão subir não dá para esperar melhora na economia, ou no mercado de trabalho", diz.

Se o dólar continuar elevado, na sua avaliação, a taxa de desemprego medida pelo IBGE, que pesquisa seis regiões metropolitanas do país, deve bater em 10% -em junho a taxa média foi de 7,5%. A do Dieese/Seade, em 20% - em junho foi de 18,8% na região metropolitana de São Paulo.

Os setores que devem sofrer menos com desemprego, na opinião dos especialistas, são os que exportam -como o de agribusiness e o de calçados. O câmbio favorável às exportações pode ajudar a elevar a produção dos exportadores e garantir o emprego.

Fusões
O economista e secretário do Trabalho da Prefeitura de São paulo, Marcio Pochmann, acredita que os setores de telecomunicações e de bens duráveis serão os mais afetados pela disparada do dólar. "O impacto deve ser sentido de forma imediata porque as empresas desses setores têm dívidas em dólar. Pode haver renegociação da dívida, mas até lá pode ter cortes e ajustes nessa área."

O setor de bens duráveis já deu sinais, com a crise das montadoras, do que pode vir pela frente, diz. "Os consumidores vão se retrair ainda mais. Sem crédito, as compras são adiadas, as empresas deixam de receber encomendas, e o resultado final é cortar custos, enxugando o quadro pessoal."

Para o economista, o país também pode assistir a uma nova onda de fusões e aquisições entre as empresas, como a que ocorreu na década de 90. "Com a alta do dólar, há desvalorização do patrimônio das empresas. Isso facilita as fusões, que certamente têm forte impacto na força de trabalho."

Mais precário
Para Paula Montagner, gerente de análise da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), é arriscado falar em explosão do desemprego porque o dólar pode recuar se o governo fechar acordo nas próximas semanas com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Mas ela diz que, no mínimo, a qualidade do emprego deve piorar.

"Há dois meses as taxas de desemprego têm caído na região metropolitana de São Paulo. O que pode ocorrer daqui para frente é que, com a turbulência na economia, as empresas deixem de contratar como normalmente fazem no segundo semestre", diz. Se houver contratações, na avaliação dela, devem ser mais precárias -assalariados sem carteira assinada e contratação de autônomos. "Isso ocorreu em junho na Grande São Paulo e pode ser uma tendência até o fim do ano", diz.

 

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