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27/07/2003
-
00h01
da Folha Online
Pela primeira vez em dez anos, os brasileiros reduziram o consumo de produtos de higiene pessoal, considerados itens básicos do cotidiano.
Entre janeiro e junho deste ano, a queda no volume de vendas atingiu cerca de 11%, na comparação com o primeiro semestre do ano passado.
Os dados são da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. "Vivemos a pior crise desde a criação do real. As pessoas empobreceram e deixaram de comprar. Primeiro, elas cortaram na gordura dos supérfluos. Agora cortam na carne, isto é, nos bens essenciais", diz o presidente da associação, João Carlos Basilio.
A entidade representa 94% do mercado nacional (cerca de 300 empresas e 54 mil empregos diretos). Neste ano, as fábricas produziram menos, e algumas chegaram a demitir funcionários.
Mudança de hábito
O desemprego recorde e a queda da renda do trabalhador, corroída pela inflação, são os principais "vilões" da crise dos artigos de primeira necessidade, segundo consumidores ouvidos em seis capitais.
Com o orçamento apertado, as famílias mudaram os hábitos de hiegene para economizar. Grupos de donas-de-casa fazem cursos e aprendem a racionalizar o uso dos produtos.
"Hoje 70% das pessoas só compram um tipo de xampu. Acabou aquela história de ter um só para a criança, outro para cabelo rebelde, seco ou oleoso", diz a vice-presidente do Movimento das Donas-de-Casa do Rio Grande do Sul, Marli Giglio, 51.
Beleza roubada
Os cosméticos também tiveram uma queda (0,85%) neste ano. Mas o estrago na perfumaria foi maior, de 10%.
Por produto, surgem algumas variações expressivas. Neste ano, os volumes das vendas de esmalte e creme de barbear caíram cerca de 14%. Maquiagem para o rosto despencou quase 20%.
Vencedora do programa "No Limite", da TV Globo, a cabeleireira Elaine Castro, 37, diz que suas duas filhas passaram a lavar o cabelo com um xampu simples.
"Como trabalho em um salão de beleza, compro um galão de 5 litros em lojas de atacado, que sai mais barato", afirma a paulistana.
"Dove por Palmolive"
Os fabricantes culpam a alta do dólar no ano passado pelo aumento dos preços dos itens de higiene, cujos alguns componentes são importados pela indústria. Mas neste primeiro semestre, a moeda americana já caiu mais de 20%.
"No Brasil, os preços sobem de elevador e descem de escada -- isso quando descem. Os empresários preferem recuperar suas margens de lucro", diz o presidente do Ibedec (Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo), Rodrigo dos Santos.
Os recentes dados sobre queda de preços (deflação) refletem mais a crise do consumo do que um alívio no bolso das famílias, observa o presidente da Acadec (Associação Carioca de Defesa do Consumidor), Octávio Leite.
Fim do mito
"A crise é sentida na pele. Se a pessoa usava o sabonete Dove, agora compra um Palmolive, Phebo ou a marca do próprio supermercado", afirma Leite.
Apesar do menor volume vendido, o faturamento da indústria cresceu 15% neste ano. Mas esse aumento foi obtido graças a uma realidade negativa: a inflação que assustou as donas-de-casas nos supermercados.
Os preços de higiene ficaram 20% mais caros neste ano. Algumas empresas faturaram mais também com as exportações e produtos de maior valor unitário. Na área de cosméticos, o filão são os cremes para retardar o envelhecimento, ainda restritos ao público de renda elevada.
Para as empresas que exploram a vaidade, falar em crise ainda é um tabu. Teme-se um prejuízo à imagem das marcas, capaz de espantar cliente. Alguns preferem sustentar que o setor é imune ao tombo da economia. No entanto, os consumidores e o termômetro das vendas contrariam esse discurso cor-de-rosa e derrubam mais um mito.
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Sem emprego e renda, brasileiro faz o maior corte em higiene em 10 anos
SÉRGIO RIPARDOda Folha Online
Pela primeira vez em dez anos, os brasileiros reduziram o consumo de produtos de higiene pessoal, considerados itens básicos do cotidiano.
Entre janeiro e junho deste ano, a queda no volume de vendas atingiu cerca de 11%, na comparação com o primeiro semestre do ano passado.
Os dados são da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. "Vivemos a pior crise desde a criação do real. As pessoas empobreceram e deixaram de comprar. Primeiro, elas cortaram na gordura dos supérfluos. Agora cortam na carne, isto é, nos bens essenciais", diz o presidente da associação, João Carlos Basilio.
A entidade representa 94% do mercado nacional (cerca de 300 empresas e 54 mil empregos diretos). Neste ano, as fábricas produziram menos, e algumas chegaram a demitir funcionários.
Mudança de hábito
O desemprego recorde e a queda da renda do trabalhador, corroída pela inflação, são os principais "vilões" da crise dos artigos de primeira necessidade, segundo consumidores ouvidos em seis capitais.
Com o orçamento apertado, as famílias mudaram os hábitos de hiegene para economizar. Grupos de donas-de-casa fazem cursos e aprendem a racionalizar o uso dos produtos.
"Hoje 70% das pessoas só compram um tipo de xampu. Acabou aquela história de ter um só para a criança, outro para cabelo rebelde, seco ou oleoso", diz a vice-presidente do Movimento das Donas-de-Casa do Rio Grande do Sul, Marli Giglio, 51.
Beleza roubada
Os cosméticos também tiveram uma queda (0,85%) neste ano. Mas o estrago na perfumaria foi maior, de 10%.
Por produto, surgem algumas variações expressivas. Neste ano, os volumes das vendas de esmalte e creme de barbear caíram cerca de 14%. Maquiagem para o rosto despencou quase 20%.
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"Como trabalho em um salão de beleza, compro um galão de 5 litros em lojas de atacado, que sai mais barato", afirma a paulistana.
"Dove por Palmolive"
Os fabricantes culpam a alta do dólar no ano passado pelo aumento dos preços dos itens de higiene, cujos alguns componentes são importados pela indústria. Mas neste primeiro semestre, a moeda americana já caiu mais de 20%.
"No Brasil, os preços sobem de elevador e descem de escada -- isso quando descem. Os empresários preferem recuperar suas margens de lucro", diz o presidente do Ibedec (Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo), Rodrigo dos Santos.
Os recentes dados sobre queda de preços (deflação) refletem mais a crise do consumo do que um alívio no bolso das famílias, observa o presidente da Acadec (Associação Carioca de Defesa do Consumidor), Octávio Leite.
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"A crise é sentida na pele. Se a pessoa usava o sabonete Dove, agora compra um Palmolive, Phebo ou a marca do próprio supermercado", afirma Leite.
Apesar do menor volume vendido, o faturamento da indústria cresceu 15% neste ano. Mas esse aumento foi obtido graças a uma realidade negativa: a inflação que assustou as donas-de-casas nos supermercados.
Os preços de higiene ficaram 20% mais caros neste ano. Algumas empresas faturaram mais também com as exportações e produtos de maior valor unitário. Na área de cosméticos, o filão são os cremes para retardar o envelhecimento, ainda restritos ao público de renda elevada.
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