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25/08/2003 - 08h28

Vaga para estágio ou trainee é mais disputada que vestibular

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MAELI PRADO
da Folha de S.Paulo

Não é o melhor momento para ser jovem no Brasil. Hoje, o desemprego atinge principalmente a faixa etária de 18 a 24 anos. Ter um diploma universitário na mão, mostram os números, não é garantia de nada.

O percentual de jovens procurando emprego atualmente é de 30,7%, dado de junho do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos). Há dois anos, o índice era de 25,3%, o que representa aumento de 5,4 pontos percentuais.

De 25 a 39 anos, a taxa atualmente é de 16,7%, em relação a 13,8% em 2001 _alta de 2,9 pontos. Ou seja, o desemprego entre jovens é maior e cresceu mais nos últimos anos. O problema, que se intensificou do ano passado para cá, não bate na porta apenas dos que têm menos escolaridade.

A retração em cargos especializados neste ano foi de 30% em relação a 2001, segundo a Companhia de Talentos, que realiza processos seletivos de empresas como Unilever, Votorantim, Phillip Morris e Scania, entre outras.

Esses dados ajudam a explicar por que a competição para quem está entrando no mercado de trabalho é mais acirrada do que o vestibular. Para 872 vagas de trainees e estagiários em 19 grandes empresas em 2002, 180 mil pessoas se inscreveram _uma média de 206 candidatos por vaga.

Dos candidatos às 700 vagas para estagiários, apenas 0,65% foi aprovado. O índice foi menor para os candidatos a trainee: 0,16%.

A concorrência em 2003 está ainda maior. O processo seletivo para trainee da Unilever, realizado tradicionalmente em agosto, recebeu 18 mil inscrições para 30 vagas até o dia 19 deste mês. O prazo final é 3 de setembro.

Em 2002, para o mesmo número de vagas, foram 20 mil inscritos. "O banco de currículos da empresa, que foi criado há dois anos, tinha 60 mil currículos até junho deste ano. De lá para cá, o número subiu para 100 mil", diz Adriana Chaves, gerente de recrutamento e seleção da empresa.
Nesse cenário, ter inglês fluente, a grife de uma faculdade de ponta e se possível pós-graduação são exigências cada vez mais comuns em grandes empresas. É por isso, dizem especialistas, que o número de mestrados existentes no país saltou de 1.388 em 99 para 1.589 em 2002, segundo a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

"A disputa está mais acirrada também porque aumentou o número de faculdades no país", diz João Rodrigues Canada, diretor da Foco Recursos Humanos.

Concorrência

A maior parte dos recém-formados, que não consegue vaga nos rigorosos programas de trainee, cai na concorrência com quem se formou há anos e tem experiência, mas não emprego.

"Cerca de 60% dos currículos que recebemos ao longo deste ano são de recém-formados. Há dois anos, esse índice era de 85%. Quem acabou de se formar enfrenta a competição de quem tem mais experiência", afirma Silva Martins, gerente de recursos humanos da American Express.

Quem tem emprego, assustado com a crise, não deixa sua vaga de jeito nenhum, o que também dificulta o acesso dos graduandos ao mercado de trabalho.

No ano passado, a rotatividade nas vagas foi a mais baixa em 22 anos no país, segundo estudo do economista Márcio Pochmann, secretário do Trabalho da Prefeitura de São Paulo.

Outro sintoma da crise é que muitas empresas investem mais na contratação de estagiários, cujos encargos trabalhistas são menores, do que de trainees.

"A maior parte é de estágios de oito horas. Há uma prática escancarada de empregos disfarçados de estágios", afirma Sérgio Pio Bernardes, coordenador do Centro de Integração Aluno-Empresa da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

Segundo Bernardes, muitos universitários ficam com matérias pendentes nas faculdades para se manter como estudantes e diminuir o risco de demissão.

"Muita gente que trabalhava em 2001 com trainees trabalha hoje com estagiários", afirma Júlia Alonso, sócia-diretora da Passarelli Talentos, também especializada em recrutar jovens para grandes empresas.
 

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