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23/05/2004 - 10h50

Mudanças fazem construção civil gerar menos empregos

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FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
da Folha de S.Paulo

A construção civil deixou de ser um dos principais alicerces do mercado de trabalho. Aumento de produtividade da mão-de-obra, novas tecnologias, baixo investimento em infra-estrutura e expansão da terceirização levaram o setor a perder posição no ranking dos setores com potencial de criar empregos no país.

Se entre os anos 70 e 90 a construção civil estava entre os cinco setores que mais contratavam no país, hoje ocupa a 17ª posição, segundo estudo divulgado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) em março deste ano.

O setor tem sofrido severamente os reflexos da conjuntura econômica do país, aponta estudo do Instituto de Economia da UFRJ, coordenado pelo professor João Saboia, que acaba de ser concluído a pedido da OIT (Organização Internacional do Trabalho).

"A combinação de juros altos, renda em queda, desemprego elevado, demanda interna deprimida e restrição no crédito é fatal para o desempenho dessa atividade industrial", menciona o estudo.

O PIB (Produto Interno Bruto) da construção civil está em queda há três anos. Em 2003, caiu 8,6% na comparação com o ano anterior, a maior redução desde 1991.

O número de trabalhadores da construção civil --que já chegou a 4 milhões no país-- é da ordem de 1,2 milhão, segundo estimativa de representantes do setor. Só a modernização tecnológica eliminou 757 mil empregos de 1990 a 2001, de acordo com a UFRJ.

"O setor passa por uma lenta e irreversível revolução no processo de produção, com conseqüência na estrutura e na geração de emprego", informa Hildeberto Bezerra Nobre Jr., em trabalho feito para a Unicamp. "As grandes construtoras incorporaram modelos produtivos que, além de diminuir o tempo de conclusão das obras, diminuíram consideravelmente a necessidade de trabalhadores nos canteiros de obras."

A construtora Camargo Corrêa --que chegou a empregar 30 mil pessoas durante os anos 80 e hoje tem 13 mil em seu quadro de funcionários-- informa que são necessários dois homens/hora para produzir um metro quadrado de concreto. Há 20 anos, eram dez.

"Os métodos de trabalho mudaram. Antes, o trabalhador pegava madeira, cortava na carpintaria e levava até a obra. Hoje, esse material é industrializado, chega pronto à obra", afirma José Penteado Navarro, diretor da construtora.

Para construir um conjunto de três prédios residenciais, com 20 andares cada, eram necessários 1.050 trabalhadores e 36 meses, afirma Antonio Sousa Ramalho, presidente do Sintracon (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo). O mesmo empreendimento utiliza hoje 350 homens e leva 18 meses para ser erguido.

Como conseqüência dessas mudanças, a taxa de desemprego do setor disparou a partir de 1995. É a mais elevada no conjunto da economia. Em 1995, atingia 6,2% da PEA (população economicamente ativa). Em 2002, chegou a 8,5%, revela o estudo da UFRJ, com base em dados do IBGE (que mede o desemprego em seis regiões metropolitanas do país). Rio de Janeiro tem a menor taxa. Salvador e Recife, as maiores.

O estudo mostra ainda que o emprego com carteira assinada aumentou 2,7% entre 1995 e 2002. Já o sem carteira, 27%, e o trabalho por conta própria, 12,7%.

"A contratação da mão-de-obra na construção civil sofreu intensas mudanças, com a utilização mais acentuada de serviços terceirizados, que estão, em muitos casos, relacionados com o aumento de informalidade e a disseminação da remuneração por tarefa ou por dia [o chamado tarefeiro]", informa Nobre Jr. As empresas de médio e pequeno porte são as que mais optam pela terceirização, com o uso de empreiteiros (pessoas físicas) --os "gatos".

"Se eu empregasse com carteira assinada e pagasse os impostos, já teria fechado meu negócio", diz José Silveira, que trabalha no setor de gesso.

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