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22/07/2004
-
07h37
do enviado especial da Folha de S.Paulo a Bruxelas
Mário Mugnaini, secretário-geral da Camex (Câmara de Comércio Exterior), fez uma viagem inútil até Bruxelas. Partiu terça-feira de Brasília e só ontem, na escala em Paris, foi informado por seu chefe, o ministro Luiz Fernando Furlan, de que a negociação com a União Européia, motivo da viagem de Mugnaini, fora suspensa.
O percurso do secretário-geral da Camex é, talvez, a maior indicação da surpresa, até choque, que o Mercosul tomou com a explicitação de que as cotas européias seriam distribuídas ao longo de dez anos.
Até então, diz Mugnaini, "estávamos otimistas", a ponto de a reunião da Camex, na terça-feira, com seis ministros, ter se iniciado com "a opinião geral de que as ofertas melhoradas apresentadas pelo Mercosul fariam avançar a negociação", relata Mugnaini.
Logo, no entanto, Régis Arslanian, chefe da delegação brasileira em Bruxelas, telefonou para falar do parcelamento. "Foi um banho de água fria", diz Mugnaini, depois de se reunir, na residência da embaixada do Brasil, com Arslanian e o negociador-chefe europeu, Karl Falkenberg.
Descrição do encontro feita para a Folha: "Enxugaram gelo".
De fato, os dois lados limitaram-se a definir a pauta para a nova reunião em Brasília, que, no entanto, não foge do que já era a pauta para o encontro programado para Bruxelas.
Se é assim, parece correta a avaliação do argentino Eduardo Sigal: "Não há uma situação de ruptura, mas um impasse".
Impasse ainda mais complicado porque as partes não se entendem nem sobre se foi ou não novidade a proposta européia de escalonar as cotas em dez anos.
"Nunca falaram em implementação das cotas em dez anos", diz Arslanian, pelo Mercosul.
Rebate Arancha González, porta-voz da União Européia para Comércio: "O princípio do parcelamento já havia sido discutido há um ano. Não é uma inovação que acabamos de tirar da cartola".
Arancha González, assim como Falkenberg, argumenta também que a proposta de parcelamento era apenas uma "posição de partida", portanto negociável.
Tão negociável que Falkenberg chegou a propor, ontem de manhã, eliminar o gradualismo para algumas cotas desde que o Mercosul reduzisse para dois anos, em vez de até dez, o prazo para a entrada de vinhos e queijos europeus no seu mercado.
Parte da surpresa dos negociadores do Mercosul se deve ao fato de que há um excesso de conversas de corredor que acabam não sendo colocadas no papel ou, quando o são, ficam como informais. Os europeus, de fato, apresentaram o conceito do gradualismo para as cotas em Buenos Aires, em abril. Mas era informal e dizia que a cota "x" seria concedida em um período de "x" anos.
Passou batida para os negociadores do Mercosul, até que, anteontem, o "x" anos virou dez anos. Comenta o argentino Sigal: "Quando você põe números concretos no tema do gradualismo, acaba chegando a cifras ridículas. Para a Argentina, caberia uma cota de 150 toneladas de carne bovina por mês, o que abastece apenas um supermercado. Não é sério".
"É inaceitável, preocupante e frustrante que, em vez de avançar, se vá para trás", irrita-se o embaixador Arslanian. Rebate Arancha González: "É a oferta mais substanciosa que a União Européia colocou sobre a mesa em relação a qualquer outro parceiro".
O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, fecha o diálogo de surdos: "De fato, é a melhor proposta que eles já fizeram, mas, para nós, é insuficiente".
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Mário Mugnaini, secretário-geral da Camex (Câmara de Comércio Exterior), fez uma viagem inútil até Bruxelas. Partiu terça-feira de Brasília e só ontem, na escala em Paris, foi informado por seu chefe, o ministro Luiz Fernando Furlan, de que a negociação com a União Européia, motivo da viagem de Mugnaini, fora suspensa.
O percurso do secretário-geral da Camex é, talvez, a maior indicação da surpresa, até choque, que o Mercosul tomou com a explicitação de que as cotas européias seriam distribuídas ao longo de dez anos.
Até então, diz Mugnaini, "estávamos otimistas", a ponto de a reunião da Camex, na terça-feira, com seis ministros, ter se iniciado com "a opinião geral de que as ofertas melhoradas apresentadas pelo Mercosul fariam avançar a negociação", relata Mugnaini.
Logo, no entanto, Régis Arslanian, chefe da delegação brasileira em Bruxelas, telefonou para falar do parcelamento. "Foi um banho de água fria", diz Mugnaini, depois de se reunir, na residência da embaixada do Brasil, com Arslanian e o negociador-chefe europeu, Karl Falkenberg.
Descrição do encontro feita para a Folha: "Enxugaram gelo".
De fato, os dois lados limitaram-se a definir a pauta para a nova reunião em Brasília, que, no entanto, não foge do que já era a pauta para o encontro programado para Bruxelas.
Se é assim, parece correta a avaliação do argentino Eduardo Sigal: "Não há uma situação de ruptura, mas um impasse".
Impasse ainda mais complicado porque as partes não se entendem nem sobre se foi ou não novidade a proposta européia de escalonar as cotas em dez anos.
"Nunca falaram em implementação das cotas em dez anos", diz Arslanian, pelo Mercosul.
Rebate Arancha González, porta-voz da União Européia para Comércio: "O princípio do parcelamento já havia sido discutido há um ano. Não é uma inovação que acabamos de tirar da cartola".
Arancha González, assim como Falkenberg, argumenta também que a proposta de parcelamento era apenas uma "posição de partida", portanto negociável.
Tão negociável que Falkenberg chegou a propor, ontem de manhã, eliminar o gradualismo para algumas cotas desde que o Mercosul reduzisse para dois anos, em vez de até dez, o prazo para a entrada de vinhos e queijos europeus no seu mercado.
Parte da surpresa dos negociadores do Mercosul se deve ao fato de que há um excesso de conversas de corredor que acabam não sendo colocadas no papel ou, quando o são, ficam como informais. Os europeus, de fato, apresentaram o conceito do gradualismo para as cotas em Buenos Aires, em abril. Mas era informal e dizia que a cota "x" seria concedida em um período de "x" anos.
Passou batida para os negociadores do Mercosul, até que, anteontem, o "x" anos virou dez anos. Comenta o argentino Sigal: "Quando você põe números concretos no tema do gradualismo, acaba chegando a cifras ridículas. Para a Argentina, caberia uma cota de 150 toneladas de carne bovina por mês, o que abastece apenas um supermercado. Não é sério".
"É inaceitável, preocupante e frustrante que, em vez de avançar, se vá para trás", irrita-se o embaixador Arslanian. Rebate Arancha González: "É a oferta mais substanciosa que a União Européia colocou sobre a mesa em relação a qualquer outro parceiro".
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