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23/08/2004 - 13h44

Skaf, de oposição, "vende" influência junto ao governo para se eleger na Fiesp

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ELAINE COTTA
da Folha Online

O empresário e candidato da oposição à presidência da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, 48, diz que ter "trânsito político" deveria ser pré-requisito a qualquer um que cogite assumir o comando de uma instituição como a Fiesp.

Amigo pessoal do vice-presidente José Alencar, do governador Geraldo Alckmin, e próximo de nomes importantes no governo como o senador Aloizio Mercadante, Skaf defende que a Fiesp se fortaleça politicamente e passe a "sentar na mesa das decisões ao invés de reclamar de fatos já consumados".
F.Beltramin/Folha Online
O empresário Paulo Skaf
O empresário Paulo Skaf


"Essa é uma das coisas que eu critico na Fiesp, que é criticar fatos ocorridos. Temos de estar sentados em volta da mesa das decisões, deixar de ser coadjuvantes, parar de reclamar e passar a levar soluções", disse em entrevista à Folha Online.

Skaf, que é vice-presidente na atual gestão, decidiu se candidatar como opositor porque não sentia sua participação "bem-vinda" durante os anos de mandato de Horácio Lafer Piva. "Ele preferiu se fechar com um grupo de meia dúzia e eu respeitei."

Veja trechos da entrevista:

Folha Online - Essa eleição é uma das mais disputadas da história da Fiesp. A que o sr. atribui?
Paulo Skaf
- Essa disputa tem sido diferenciada. Vivemos um momento muito especial. As entidades ressuscitaram. Aquela história de um deixar para outro acabou. Temos uma disputa em que a sociedade está envolvida. As pessoas me param na rua e dizem que temos que renovar, ter uma postura mais pró-ativa.

Folha Online - E os apoios. Há uma grande divisão...
Skaf
- Entre os empresários do Ciesp, o apoio que temos recebido é maciço. Na Fiesp, já temos maioria absoluta.

Folha Online - Até que ponto essa segmentação divide a Fiesp?
Skaf
- A disputa é positiva, saudável. A sociedade está falando da Fiesp. Temos que mudar o perfil, transformá-la em entidade pró-ativa, em busca de resultados, de soluções, para ajudar o país a pegar a rota do crescimento com a presença da indústria. Hoje, a Fiesp é vista pelo pequeno empresário como casa para os grandes, como uma entidade que não vai resolve problema. Temos que mudar tudo isso e fazer com que o microempresário entre no prédio da avenida Paulista orgulhoso.

Folha Online - O que na sua opinião deixou a desejar na atual gestão?
Skaf
- Não quero apontar principais falhas. Eu não sou crítico de fatos já ocorridos. Essa é uma das coisas que eu critico na Fiesp, que é criticar fatos ocorridos. O que é ou o que foi não importa. O nosso compromisso é com o futuro. Precisamos fazer com que a Fiesp se fortaleça. Fiesp e Ciesp têm que estar próximos das casas Legislativas, da Câmara Federal, do Senado Federal. Temos de estar próximos a todos os líderes de governo, dos trabalhadores, em parceria com a agricultura, com o comércio, estar sentados em volta da mesa das decisões, deixar de ser coadjuvantes, parar de reclamar e passar a levar soluções. Temos força suficiente para fazer dos nossos projetos, das nossas propostas, uma realidade. É isso que a Fiesp precisa. Não adianta ficar só reclamando.

Folha Online - Mas há outros setores que conseguem essa participação?
Skaf
- O pessoal reclama muito do setor financeiro privilegiado, que a Febraban é forte. Se a Febraban tem cumprido o papel dela, que é defender o setor financeiro, cabe a nós, ao invés de criticar a Febraban, fazer a Fiesp cumprir o seu papel em prol do setor produtivo. É muito mais fácil defender setor produtivo do que setor financeiro. Temos que fazer a nossa entidade cumprir o seu papel, fortalecê-la, trazer a indústria para dentro de casa e ajudar o Brasil a retomar o crescimento que esqueceu há 20 anos.

Folha Online - Quais pontos seriam prioridades numa eventual administração sua na Fiesp?
Skaf
- Não adianta ficar cobrando. Nós temos de ter força e participar das decisões. Não podemos ser os cobradores, que ficam sentados chorando e cobrando e engolindo tudo o que acontece de negativo. Temos que readquirir força para mudar esse estado de coisas de um ciclo vicioso para um ciclo virtuoso de menos impostos. Temos de ter alongamento dos prazos para recolhimento dos impostos. Há 20 anos, a carga tributária era 20% do PIB, hoje é quase 40%. Há 10 anos, ou 15 anos, você tinha 90 dias para recolher o ICMS, hoje antes de receber do cliente já paga ICMS. Há 20 anos tínhamos 80% do PIB de crédito, hoje é 24% do PIB. O Brasil tem juros dos mais altos, amarras, falta de investimentos em infra-estrutura, gargalos que podem atrapalhar o crescimento do país e o aumento das exportações.

Folha Online - Quais são as propostas para sair disso que o sr. chamou de "ciclo vicioso" para o "ciclo virtuoso"?
Skaf
- Para resolver esses gargalos, o que falta não é dinheiro. O Estado não tem dinheiro, mas no exterior há dinheiro para se investir em infra-estrutura. O setor privado tem dinheiro. Então, o que falta são regras claras, confiança. E cabe a nós ajudar para que as regras sejam rapidamente definidas e claras para se criar um clima de confiança. Temos de parar de ficar sentados reclamando ou cobrando dos outros. O problema do Brasil é nosso. Temos que sentar na mesa para implantar aquilo que seja bom para o Brasil, defender a indústria para defender o Brasil. Nossa postura de ficar sentado resmungando ao longo desses anos só resultou em dobrar carga tributária, sumir prazo para recolhimento de impostos, crédito, aumento dos juros, das amarras. Temos que estimular o produtor e facilitar a vida de quem trabalha nesse país. É para isso que existe uma entidade que representa a indústria.

Folha Online - Como fortalecer a indústria de São Paulo num momento de guerra fiscal entre os Estados?
Skaf
- Essa migração da indústrias para outros Estados, era papel para Fiesp ter impedido ao longo dos anos. Ter impedido essa tremenda guerra fiscal. Seria como conseguir a redução do ICMS, como houve para a cadeira têxtil, de 18% para 12%. E a arrecadação aumentou. Por que todas as cadeias produtivas não estão em 12%? Houve resultado. Não adianta sentar e ficar de observador crítico.

Folha Online - O sr. é um dos vice-presidentes da atual administração da Fiesp e uma das críticas que o seu opositor faz é ao fato de o sr. não ter participado mais ativamente dessa gestão...
Skaf
- O sr. Cláudio Vaz deveria falar dele. Só que fala de mim e eu tenho de falar também. Eu tenho me dedicado de corpo e alma todos esses anos ao setor têxtil e com resultados concretos. Nossas exportações dobraram para mais de US$ 2 bilhões neste ano. Nossa balança comercial, que era negativa, já está superavitária em quase US$ 1 bilhão. Geramos mais de 50 mil empregos em todo o país, reduzimos o ICMS, derrubamos barreiras internacionais com a Argentina, com a Europa e os EUA. Enquanto esse foi o meu trabalho, o sr. Vaz, quando foi presidente do Sindipeças, renunciou.

Folha Online - Mas sobre a sua atuação na Fiesp. O que o afastou da atual gestão mesmo o sr. sendo vice-presidente?
Skaf
- Eu nunca sumi da Fiesp. No ano 2000, eu coordenei o grupo de assuntos fiscais. Fizemos, durante dois anos, um trabalho com começo, meio e fim até a aprovação do Refis. Depois disso, eu participei na medida em que senti ser conveniente. O atual presidente se fechou em torno de meia dúzia de companheiros, não dando espaço aos demais. Era um direito dele. Eu não queria causar nenhum desconforto ao presidente. Ele foi eleito presidente e ele é que deve dar o tom. Agora, se vai terminar, entendemos que precisaria ter uma alternância, que precisaria mudar, adotar um perfil de resultados, de ações concretas.

Folha Online - O sr. acredita que sua proximidade com lideranças políticas do país como o vice-presidente, José Alencar, ou o senador Aloizio Mercadante pode ajudar a Fiesp?
Skaf
- Eu não tenho dúvida de que deveria ser um pré-requisito a quem se postula ao cargo de presidente da Fiesp ter pronto relacionamento político. Você citou, por exemplo, o vice-presidente, o senador Aloizio Mercadante. Mas não citou o governador Geraldo Alckmin, quem eu conheço de Pindamonhangaba há 25 anos. Não citou o governador Aécio Neves, de Minas Gerais, ou o governador da Paraiba ou de Goiás. Assim como o presidente da Câmara, João Paulo Cunha, ou o da Assembléia Legislativa de São Paulo, que é meu amigo. Então, quem postula o cargo de presidente da Fiesp, para conseguir uma política de resultados tem de ter relacionamento e trânsito político e mais do que isso tem que ter credibilidade. O presidente da Fiesp tem que ter relacionamento político, ser um negociador, articulador. Um burocrata não atingirá as expectativas.

Folha Online - Que cenário o sr. traça para a economia nos próximos anos?
Skaf
- Neste ano, nós vamos realmente crescer 5%, até mais, Até porque as exportações são responsáveis por mais do que 3% desse crescimento e o mercado interno em relação ao ano passado deu uma boa melhorada. Eu fico muito preocupado de esse crescimento ser sustentado.

Folha Online - O sr. duvida de o Brasil conseguir entrar num ciclo de crescimento sustentado?
Skaf
- Eu não acredito em crescimento sustentado com carga tributária próxima de 40% do PIB, sem crédito, com juros elevados e muitas amarras que incomodam aqueles que produzem, entre eles os gargalos da infra-estrutura. Existe uma boa lição de casa a ser feita. E essa lição tem de ser feita com eficiência, rapidez e agilidade para que o país retome o crescimento.

Folha Online - Como a indústria pode ajudar a superar esses gargalos?
Skaf
- É preciso criar um clima propício a esse estímulo. Precisamos fazer com a indústria o que foi feito com a agricultura, como aumento da safra, graças programas como o Moderfrota, ao agronegócio. Você sempre ouvir falar numa Frente Ruralista. É isso que precisa. Já ouviu falar em Frente Industrialista? Já ouviu falar em deputados, senadores que defendem a indústria? De um Fiesp com resultados, com trânsito político? E isso que temos de fazer. Vamos colocar a indústria na moda.

Folha Online - Como deve ser a posição da Fiesp daqui para a frente?
Skaf
- O maior problema do país é infra-estrutura. Se o investimento em infra-estrutura é fundamental para resolvermos problemas emergentes e, para isso, é preciso atrair capital do exterior e da iniciativa privada, temos uma parceria do PPP. A Fiesp não deveria apenas estar participando, mas liderando esse processo.

Folha Online - Qual vai ser a principal prioridade?
Skaf
- A questão da infra-estrutura vai ser talvez a primeira grande preocupação. Porque não há nada que possa atrapalhar mais o desenvolvimento do país do que os gargalos que temos e podemos rapidamente atrair capitais volumosos se tivermos regras claras e a confiança necessária com um cenário confiável.

Folha Online - Então a prioridade será essa?
Skaf
- Sim. Mas a primeira delas é fortalecer a Fiesp politicamente. Porque todas as outras prioridades dependem de sermos ouvidos. Vamos tentar participar e ajudar a definir regras, criar um cenário de confiança. Mas para que tudo isso aconteça, precisamos ser ouvidos. Você pode ter as melhores idéias do mundo, se ninguém vai te ouvir, as idéias não valem nada.

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