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28/11/2004
-
09h50
LEONARDO SOUZA
NEY HAYASHI DA CRUZ
da Folha de S.Paulo, em Brasília
Para atrair (ou não afugentar) clientes e investidores, o Banco Santos adotou prática que coloca em dúvida a credibilidade e o papel das agências de risco de crédito ("rating"). A instituição decidiu trabalhar somente com aquelas que lhe concedessem classificações favoráveis ou não-prejudiciais à sua imagem --o serviço só é contratado a pedido da companhia analisada.
Pelo menos cinco empresas avaliaram o banco de Edemar Cid Ferreira desde dezembro passado. Três deram notas boas ou médias, longe de preverem possibilidade de quebra da instituição. As duas que optaram por conceitos negativos, no começo do ano, foram descredenciadas pelo banco.
Em setembro, dois meses antes de o Banco Central intervir no banco, a novata Austin Rating, divisão da consultoria Austin Asis criada no ano passado, agraciou o Santos com conceito A, descrevendo o seguinte: "O banco apresenta solidez financeira intrínseca boa. São instituições dotadas [as classificadas com A] de negócio seguro e valorizado, [com] boa situação financeira atual e histórica. O risco é muito baixo".
A Riskbank, empresa desconhecida por muitos no mercado financeiro, classificou o Santos, em outubro (um mês antes da intervenção), com a nota 9,36 --"baixo risco no curto prazo".
Juntamente com a Moody"s, segundo a qual o banco demonstrava "capacidade de crédito na média em relação aos outros emitentes locais", a Austin Rating e a Riskbank tiveram seus serviços mantidos pelo Santos.
As agências de "rating" têm um peso grande para o mercado. O grau de risco que atribuem a economias de Estado, empresas, instituições financeiras e fundos influenciam fortemente os juros cobrados sobre empréstimos e o interesse de investidores. Podem acelerar a caminhada de países e companhias em direção à bancarrota e contribuir para que aplicadores percam dinheiro.
Apesar de ter grande impacto sobre o mercado financeiro e a economia, as agências de ""rating" não são fiscalizadas pelo Banco Central. Pela lei que criou a autoridade monetária (n.º 4.595), são fiscalizadas somente as instituições que dependem de autorização do Banco Central para operar, o que não é o caso das agências de risco.
Decisões de investimento
O trabalho das agências de "rating" também serve de desculpa para gestores de recursos de terceiros explicarem aos cotistas por que amargaram prejuízos em determinados fundos de investimento, como no caso dos clientes da Caixa Econômica Federal.
Procurada na semana passada pela Folha, a CEF enviou à reportagem síntese das classificações dadas por Austin Rating, Riskbank e Moody's (transcritas parcialmente acima) ao Banco Santos e que serviram para pautar decisões de investimento tomadas pela instituição.
O fundo Caixa FAC Seleção aplicou 10% dos recursos de seus investidores em CDBs (Certificados de Depósito Bancário) do Santos. Após a intervenção, a Comissão de Valores Mobiliários determinou que os papéis do Banco Santos passassem a ser registrados por valor zero. Conseqüentemente, os 3.300 cotistas do fundo da Caixa tiveram um prejuízo de 10% em questão de dias.
Voltada para um público de classe média e média baixa, a CEF descrevia o FAC Seleção como um fundo de investimento que investe em outros fundos que aplicam, "preferencialmente, em títulos privados de baixo risco".
A assessoria de imprensa da Caixa Econômica Federal informou que o banco utiliza os serviços das agências como "parâmetro de segurança", embora não baseie suas decisões de investimento só nelas.
Acrescentou que, das cinco agências que utiliza, os serviços mais empregados são da Austin Rating e Riskbank. Em dezembro de 2003, a Fitch rebaixou a nota dada ao Banco Santos, devido à "preocupação" com a "deterioração da carteira de crédito", além do "crescente comprometimento de seu capital com a parte não provisionada desses créditos".
Em seu relatório, a agência ressalta ainda que, dado o seu tamanho, o Banco Santos dificilmente seria socorrido pelo governo em caso de dificuldades.
A Standard & Poor's foi pelo mesmo caminho. Em janeiro deste ano, também reduziu o conceito do Santos e escreveu: "O "rating" do Banco Santos reflete a piora na qualidade da sua carteira de empréstimos, marcada por significativa concentração."
A S&P finalizou o relatório assim: Como as análises das empresas desagradaram a Edemar Cid Ferreira e aos executivos do banco, o Santos decidiu cortar seus serviços.
Especial
Leia o que já foi publicado sobre o Banco Santos
Banco Santos põe em dúvida agências de risco
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NEY HAYASHI DA CRUZ
da Folha de S.Paulo, em Brasília
Para atrair (ou não afugentar) clientes e investidores, o Banco Santos adotou prática que coloca em dúvida a credibilidade e o papel das agências de risco de crédito ("rating"). A instituição decidiu trabalhar somente com aquelas que lhe concedessem classificações favoráveis ou não-prejudiciais à sua imagem --o serviço só é contratado a pedido da companhia analisada.
Pelo menos cinco empresas avaliaram o banco de Edemar Cid Ferreira desde dezembro passado. Três deram notas boas ou médias, longe de preverem possibilidade de quebra da instituição. As duas que optaram por conceitos negativos, no começo do ano, foram descredenciadas pelo banco.
Em setembro, dois meses antes de o Banco Central intervir no banco, a novata Austin Rating, divisão da consultoria Austin Asis criada no ano passado, agraciou o Santos com conceito A, descrevendo o seguinte: "O banco apresenta solidez financeira intrínseca boa. São instituições dotadas [as classificadas com A] de negócio seguro e valorizado, [com] boa situação financeira atual e histórica. O risco é muito baixo".
A Riskbank, empresa desconhecida por muitos no mercado financeiro, classificou o Santos, em outubro (um mês antes da intervenção), com a nota 9,36 --"baixo risco no curto prazo".
Juntamente com a Moody"s, segundo a qual o banco demonstrava "capacidade de crédito na média em relação aos outros emitentes locais", a Austin Rating e a Riskbank tiveram seus serviços mantidos pelo Santos.
As agências de "rating" têm um peso grande para o mercado. O grau de risco que atribuem a economias de Estado, empresas, instituições financeiras e fundos influenciam fortemente os juros cobrados sobre empréstimos e o interesse de investidores. Podem acelerar a caminhada de países e companhias em direção à bancarrota e contribuir para que aplicadores percam dinheiro.
Apesar de ter grande impacto sobre o mercado financeiro e a economia, as agências de ""rating" não são fiscalizadas pelo Banco Central. Pela lei que criou a autoridade monetária (n.º 4.595), são fiscalizadas somente as instituições que dependem de autorização do Banco Central para operar, o que não é o caso das agências de risco.
Decisões de investimento
O trabalho das agências de "rating" também serve de desculpa para gestores de recursos de terceiros explicarem aos cotistas por que amargaram prejuízos em determinados fundos de investimento, como no caso dos clientes da Caixa Econômica Federal.
Procurada na semana passada pela Folha, a CEF enviou à reportagem síntese das classificações dadas por Austin Rating, Riskbank e Moody's (transcritas parcialmente acima) ao Banco Santos e que serviram para pautar decisões de investimento tomadas pela instituição.
O fundo Caixa FAC Seleção aplicou 10% dos recursos de seus investidores em CDBs (Certificados de Depósito Bancário) do Santos. Após a intervenção, a Comissão de Valores Mobiliários determinou que os papéis do Banco Santos passassem a ser registrados por valor zero. Conseqüentemente, os 3.300 cotistas do fundo da Caixa tiveram um prejuízo de 10% em questão de dias.
Voltada para um público de classe média e média baixa, a CEF descrevia o FAC Seleção como um fundo de investimento que investe em outros fundos que aplicam, "preferencialmente, em títulos privados de baixo risco".
A assessoria de imprensa da Caixa Econômica Federal informou que o banco utiliza os serviços das agências como "parâmetro de segurança", embora não baseie suas decisões de investimento só nelas.
Acrescentou que, das cinco agências que utiliza, os serviços mais empregados são da Austin Rating e Riskbank. Em dezembro de 2003, a Fitch rebaixou a nota dada ao Banco Santos, devido à "preocupação" com a "deterioração da carteira de crédito", além do "crescente comprometimento de seu capital com a parte não provisionada desses créditos".
Em seu relatório, a agência ressalta ainda que, dado o seu tamanho, o Banco Santos dificilmente seria socorrido pelo governo em caso de dificuldades.
A Standard & Poor's foi pelo mesmo caminho. Em janeiro deste ano, também reduziu o conceito do Santos e escreveu: "O "rating" do Banco Santos reflete a piora na qualidade da sua carteira de empréstimos, marcada por significativa concentração."
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