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22/01/2005 - 09h15

Lula quer mudanças na diretoria do BC

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KENNEDY ALENCAR
da Folha de S.Paulo, em Brasília

A elevação dos juros básicos da economia em 0,5 ponto percentual na última quarta-feira, contrariando previsão que ouvira de Antonio Palocci Filho no final de 2004, levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a pedir ao ministro da Fazenda que articule trocas na diretoria do Banco Central.

Por ora, Lula rechaçou sugestões do PT e da cúpula do governo para deslocar o presidente do BC, Henrique Meirelles, para o Planejamento e substituí-lo por alguém afinado com uma linha mais desenvolvimentista.

O presidente também reabriu a discussão sobre a meta de inflação de 2005, que, por decisão do BC, é na prática de 5,1% ao ano pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Na quinta, Lula convidou o ministro Ciro Gomes (Integração Nacional) e a economista petista Maria da Conceição Tavares, críticos do BC, para debater a política monetária.

Por avaliar que a "queda para cima" de Meirelles pudesse minar a credibilidade da política econômica, Lula prefere uma solução menos arriscada que promova alterações na diretoria do BC. A cúpula do BC é formada por oito diretores mais Meirelles, que formam o Copom (Comitê de Política Monetária), que elevou a Selic na quarta de 17,75% a 18,25%.

As mudanças devem acontecer no médio prazo (ainda em 2005) para evitar turbulências no mercado. Serão vendidas como operações de rotina, aproveitando as insatisfações com críticas já manifestadas por pelo menos três diretores do BC e o desejo de pelo menos dois deles de sair.

A discussão sobre troca de diretores corria de forma reservada no final de 2004. Agora ela deixou de ser desejo de ministros como José Dirceu (Casa Civil) e virou uma decisão de Lula.

Os insatisfeitos no BC são Afonso Sant'ana Bevilaqua, diretor de Política Econômica, Eduardo Henrique de Mello Motta Loyo, diretor de Estudos Especiais, e Alexandre Schwartsman, diretor de Assuntos Internacionais. Schwartsman e Loyo já disseram a interlocutores que têm motivos pessoais para sair. Já Bevilaqua reclama de ser tachado de "o malvado que sobe juros", quando implementa o que julga ser uma política correta contra a inflação.

Dos nove membros do Copom, três são tidos como mais conservadores: justamente Bevilaqua, Loyo e Schwartsman. O diretor de Política Monetária, Rodrigo Azevedo, nomeado faz pouco tempo, também se alia a eles.

Para Lula, há um conservadorismo exagerado no órgão. Ele teme que isso prejudique o crescimento do PIB em 2005. Ao alterar a composição do BC, Lula deseja arejar a discussão e amenizar o suposto conservadorismo. Em debates internos, por exemplo, Meirelles já foi duramente criticado por Bevilaqua, a voz mais respeitada e influente da instituição.

Os atuais diretores, escolhidos por Meirelles, foram todos aceitos por um Lula que teve dificuldade para achar um presidente do BC. No Planalto, diz-se que Meirelles recebeu carta branca e acabou montando uma diretoria linha-dura que agora o governo deseja suavizar. Para efeito público, vale a versão dada por Palocci na quinta: o governo apóia a decisão do Copom como reação "a um mal maior, que se chama inflação".

Nos bastidores, porém, o próprio Palocci desaprovou a decisão. Em reunião com Lula na manhã de quinta, Palocci e Meirelles foram cobrados, como revelou no dia seguinte o jornal "O Globo". O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), o deputado federal Armando Monteiro Neto, crítico do BC, participou da conversa.

Meirelles alegou que, para cumprir a meta de inflação deste ano, é preciso elevar os juros. Lula gostaria que o BC trabalhasse dentro da margem de tolerância de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo, o que limita o teto da meta a 7% ao ano. Meirelles disse que já abandonou o centro da meta (4,5%) e que mira em 5,1% para a inflação não disparar.

Lula, no entanto, tem ouvido opiniões contrárias. Ciro, Maria da Conceição Tavares e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), dizem que o dólar desvalorizado, por volta de R$ 2,70, ajuda a combater a inflação. Avaliam que não adianta subir mais os juros. O governo já perdeu o discurso de que pratica as taxas reais mais baixas dos últimos dez anos. O Brasil tem os juros reais mais altos do mundo, na casa dos 12% ao ano.

A contrariedade de Lula cresceu nesta semana porque, no final do ano passado, Palocci e Meirelles disseram a ele que chegara ao fim o atual processo de alta dos juros. Lula deu a notícia em jantar com senadores do PT, o que desagradou aos membros do Copom, levando-os a mostrar novamente sua independência.

A Folha apurou que houve uma reunião constrangedora em dezembro entre Lula, Palocci e Meirelles. Lula cobrou os motivos da alta dos juros além do esperado mesmo após a decisão de elevar a meta de superávit primário de 2004 de 4,25% do PIB para 4,5%.

Essa elevação do superávit (a economia do setor público para pagar juros de sua dívida) foi vendida como uma forma de atenuar a necessidade de elevar os juros. Na reunião, Meirelles disse que nunca havia se comprometido com isso, deixando mal Palocci, que apresentara tal argumento.

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