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06/02/2005 - 09h48

Acesso à internet muda hábitos de cidade de 7.500 habitantes no interior de SP

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MARCO AURÉLIO CANÔNICO
Enviado especial da Folha a Sud Mennucci (SP)

A cidade tecnológica do futuro, toda interligada pela internet sem fio e gratuita, onde qualquer cidadão pode sentar na praça, abrir um notebook e já começar a navegar na rede, fica a 600 km de São Paulo, no noroeste do Estado. E não tem shopping center, nem comércio variado -qualquer compra mais "sofisticada" precisa ser feita em outras cidades e atualmente é feita em grande parte por encomenda via internet-, nem notebooks, na verdade.

O município é Sud Mennucci, nomeado em homenagem ao jornalista homônimo. A cidade tem 7.500 habitantes, um Orçamento anual de R$ 11,5 milhões e um sistema de acesso à internet semelhante ao que está instalado em partes de cidades como Amsterdã (Holanda), Taipé (Taiwan) e Filadélfia (EUA). Qualquer um de seus moradores que tenha um computador com uma placa wireless (que permite a conexão sem fio) ou uma antena pode se conectar à internet em alta velocidade e gratuitamente, vencendo pela via virtual as estradas esburacadas que dão acesso às cidades vizinhas e ao resto do mundo.

Além das antenas visíveis nos telhados das casas, a maior mudança verificada na cidade com a popularização da internet -anteriormente em conexão discada via interurbano, atualmente em transmissão gratuita via rádio- foi no comércio. O correio local, com seus três funcionários, é o símbolo da abertura da cidade para o resto do mundo -passou a receber quase diariamente encomendas compradas pela internet, entregues até mesmo em fazendas da zona rural da cidade.

Além das compras virtuais e da redução das contas de telefone dos usuários, a cidade também tem comerciantes -de autopeças e roupas- que aproveitaram a internet gratuita para agilizar seus negócios, principalmente as transações bancárias (a cidade possui apenas duas agências), além de um jovem empreendedor que criou um negócio de importação e venda de tênis pela internet (leia texto abaixo).

O prefeito Celso Junqueira (PSDB) explica que a internet de alta velocidade via rádio chegou à Sud Mennucci para resolver o problema da ausência de provedor local, que obrigava os internautas -incluindo a prefeitura e todo o sistema público- a fazer ligações interurbanas para acessar a rede. A prefeitura fez, em 2002 -na administração de Nelson Gonçalves de Assis, quando Celso era vice-prefeito-, um contrato com a Telefônica, pelo qual a empresa instalou um link de acesso na cidade, que custa atualmente R$ 3.200 mensais.

A partir daí, a administração pública investiu R$ 17 mil para instalar uma antena de rádio que distribuísse o acesso para as demais secretarias municipais, além da escola, hospital, delegacia e biblioteca. O passo seguinte foi abrir o serviço para a população, já que tudo que era necessário para se conectar ao provedor da prefeitura era uma antena -cujo preço varia de R$ 300 a R$ 500- para captar o sinal.

O próximo passo, diz Sérgio Soares, chefe do serviço de informática da cidade, é aproveitar a rede de transmissão de dados para fazer ligações telefônicas -pelo sistema de voz sobre IP-, o que transformará Sud Mennucci na cidade com o menor custo de ligação do país. Para isso, basta dispor de celulares modernos -e ainda caros-, equipados com a tecnologia necessária.

Atualmente, o departamento de compras da prefeitura já utiliza o software Skype -que permite fazer ligações telefônicas pelo computador- em suas compras, o que acaba com os custos de ligações interurbanas. Soares estima que em 90 dias a prefeitura já terá os telefones celulares que farão ligações usando a rede de dados.

O avanço que Sud Mennucci espera alcançar em breve é justamente o empecilho que a Filadélfia, nos Estados Unidos, tem tido com a instalação de sua rede de internet sem fio gratuita, patrocinada pela prefeitura.

Grandes operadoras de telefonia dos EUA estão tentando impedir a prefeitura da Filadélfia de realizar seu intento, alegando que haveria concorrência desleal -justamente porque a disponibilização de uma rede de internet sem fio gratuita possibilitaria a disseminação do uso de telefones pelo sistema voz sobre IP, acabando com os custos das ligações.

Semelhante preocupação parece não afligir ainda a Telefônica, operadora de telefonia de Sud Mennucci e também provedora do link por meio do qual a prefeitura dissemina a internet gratuita. A reportagem procurou a empresa, que preferiu não se manifestar.

De qualquer modo, o tamanho da cidade e de sua economia sustentada pela agropecuária -com arrecadação de pouco mais de R$ 5 milhões em ICMS no ano passado- não é de fato indicativo de uma possível revolução das telecomunicações que poderia reduzir o lucro das operadoras.

Contraponto

Se por um lado Sud Mennucci tem o que é possivelmente o mais avançado sistemas de internet sem fio gratuita do país, por outro não tem nem loja de produtos de informática; a prefeitura, que é o provedor local, não tem um site oficial, e, das cerca de 2.000 casas da cidade, só 107 estão ligadas ao servidor da prefeitura.

Mas as mudanças de comportamento graças ao advento da internet de alta velocidade gratuita já atingem muito mais pessoas do que apenas as que têm conexão em casa. Elizabeth Mesquita, coordenadora da biblioteca municipal, único lugar que possui computadores acessíveis a toda a população, explica que, desde que eles foram instalados, a freqüência aumentou em 50%.

Muitos usuários utilizaram o acesso da biblioteca para se inscrever no Prouni (Programa Universidade para Todos), que concede bolsas em instituições particulares de ensino superior a alunos de baixa renda, mas o aumento da freqüência se refletiu também no crescimento da retirada de livros -de uma média de 10 por dia para 25 por dia.

O exemplo da cidade e o potencial desse acesso à internet para a população já despertam a atenção de outros municípios -funcionários das prefeituras do Rio e Curitiba, por exemplo, já procuraram a administração de Sud Mennucci atrás de informações.

Especial
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