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16/11/2000
-
08h02
DAVID FRIEDLANDER
FELIPE PATURY
da Folha de S.Paulo
Candidatos à compra do Banespa já traçam suas estratégias para amansar os bancários e evitar que eles inviabilizem as demissões previstas na troca de comando na instituição. Dependendo de quem levar o banco, o corte pode chegar a 60% dos 20,5 mil funcionários que o banco emprega hoje.
Um dos bancos mais cotados à compra do Banespa disse à Folha que pretende oferecer um plano de demissão voluntária aos funcionários, caso vença o leilão. Outro forte candidato afirma que estuda a alternativa da estabilidade temporária aos empregados, talvez por seis meses.
O banco paulista é um dos pilares do sindicalismo brasileiro e isso amedronta as instituições que querem comprá-lo. Um dos banqueiros ouvidos pela Folha falou no medo de uma paralisação dos sistemas de informática e de compensação, o que traria um enorme prejuízo financeiro e de imagem.
Por isso, prefere entrar em acordo com os bancários e até atrasar um pouco o retorno do investimento a assumir o Banespa em choque com os sindicalistas.
Estima-se que Bradesco e Itaú demitiriam metade dos funcionários, talvez um pouco mais, enquanto o Unibanco faria um enxugamento de 40% no quadro de pessoal. Os outros concorrentes, menores, demitiriam menos.
"São estimativas realistas", diz o deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP), que presidiu o Sindicato dos Bancários de São Paulo durante 11 anos. "Mas qualquer programa de demissão terá de ser negociado com os funcionários, que estão entre os mais organizados da categoria."
Na opinião de Berzoini, o melhor para os funcionários do Banespa seria que a instituição fosse comprada pelo Bradesco ou pelo Unibanco. O primeiro, segundo o deputado, tem tradição de ser um negociador sincero. Ele acredita que o Unibanco demitiria menos por ter sobreposição menor de agências com o Banespa.
Gratificações
Na média, as agências do Banespa operam com o dobro de funcionários em relação a Bradesco, Itaú e Unibanco. O salário médio no banco público está 40% acima do que pagam as instituições privadas nacionais.
Incorporar uma folha salarial com esse padrão traria, também, sérios aborrecimentos com o pessoal do novo dono do Banespa.
Problemas trabalhistas em privatizações são uma novidade para os banqueiros. Nenhuma das instituições leiloadas até agora tinha um movimento sindical forte, no estilo dos metalúrgicos da Usiminas ou dos mineiro da Companhia Vale do Rio Doce, como é o caso do Banespa.
Essa foi, inclusive, uma das razões que levou o Citibank e o Bilbao Vizcaya a desistir de participar do leilão que está marcado para o próximo dia 20 -embora suspenso por decisão da Justiça Federal em São Paulo.
Outro candidato que já desistiu oficialmente, o BankBoston, avaliam os analistas, nunca esteve seriamente interessado em comprar o banco paulista.
Além disso, os bancos reclamam que não tiveram informações suficientes para avaliar o risco da carteira de crédito da instituição, o perfil da clientela e pendências que correm na Justiça. O medo é encontrar esqueletos no cofre do Banespa.
Até o momento em que o Banespa passou a ser administrado pelo Banco Central, os empregados recebiam gratificações semestrais -na prática, um 14º e um 15º salário.
O BC cortou o benefício, até porque o Banespa não dava lucro. Como o banco voltou ao azul, os funcionários e parte dos aposentados entraram na Justiça para voltar a receber as gratificações semestrais. Segundo um dos bancos que vai ao leilão, se for perdida essa ação poderia custar mais de R$ 1 bilhão.
Bancos estimam demitir até 60% dos funcionários no Banespa
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FELIPE PATURY
da Folha de S.Paulo
Candidatos à compra do Banespa já traçam suas estratégias para amansar os bancários e evitar que eles inviabilizem as demissões previstas na troca de comando na instituição. Dependendo de quem levar o banco, o corte pode chegar a 60% dos 20,5 mil funcionários que o banco emprega hoje.
Um dos bancos mais cotados à compra do Banespa disse à Folha que pretende oferecer um plano de demissão voluntária aos funcionários, caso vença o leilão. Outro forte candidato afirma que estuda a alternativa da estabilidade temporária aos empregados, talvez por seis meses.
O banco paulista é um dos pilares do sindicalismo brasileiro e isso amedronta as instituições que querem comprá-lo. Um dos banqueiros ouvidos pela Folha falou no medo de uma paralisação dos sistemas de informática e de compensação, o que traria um enorme prejuízo financeiro e de imagem.
Por isso, prefere entrar em acordo com os bancários e até atrasar um pouco o retorno do investimento a assumir o Banespa em choque com os sindicalistas.
Estima-se que Bradesco e Itaú demitiriam metade dos funcionários, talvez um pouco mais, enquanto o Unibanco faria um enxugamento de 40% no quadro de pessoal. Os outros concorrentes, menores, demitiriam menos.
"São estimativas realistas", diz o deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP), que presidiu o Sindicato dos Bancários de São Paulo durante 11 anos. "Mas qualquer programa de demissão terá de ser negociado com os funcionários, que estão entre os mais organizados da categoria."
Na opinião de Berzoini, o melhor para os funcionários do Banespa seria que a instituição fosse comprada pelo Bradesco ou pelo Unibanco. O primeiro, segundo o deputado, tem tradição de ser um negociador sincero. Ele acredita que o Unibanco demitiria menos por ter sobreposição menor de agências com o Banespa.
Gratificações
Na média, as agências do Banespa operam com o dobro de funcionários em relação a Bradesco, Itaú e Unibanco. O salário médio no banco público está 40% acima do que pagam as instituições privadas nacionais.
Incorporar uma folha salarial com esse padrão traria, também, sérios aborrecimentos com o pessoal do novo dono do Banespa.
Problemas trabalhistas em privatizações são uma novidade para os banqueiros. Nenhuma das instituições leiloadas até agora tinha um movimento sindical forte, no estilo dos metalúrgicos da Usiminas ou dos mineiro da Companhia Vale do Rio Doce, como é o caso do Banespa.
Essa foi, inclusive, uma das razões que levou o Citibank e o Bilbao Vizcaya a desistir de participar do leilão que está marcado para o próximo dia 20 -embora suspenso por decisão da Justiça Federal em São Paulo.
Outro candidato que já desistiu oficialmente, o BankBoston, avaliam os analistas, nunca esteve seriamente interessado em comprar o banco paulista.
Além disso, os bancos reclamam que não tiveram informações suficientes para avaliar o risco da carteira de crédito da instituição, o perfil da clientela e pendências que correm na Justiça. O medo é encontrar esqueletos no cofre do Banespa.
Até o momento em que o Banespa passou a ser administrado pelo Banco Central, os empregados recebiam gratificações semestrais -na prática, um 14º e um 15º salário.
O BC cortou o benefício, até porque o Banespa não dava lucro. Como o banco voltou ao azul, os funcionários e parte dos aposentados entraram na Justiça para voltar a receber as gratificações semestrais. Segundo um dos bancos que vai ao leilão, se for perdida essa ação poderia custar mais de R$ 1 bilhão.
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