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09/11/2009 - 13h14

Especialistas fazem balanço do feminismo alemão 20 anos após Muro

da Deutsche Welle

Oficialmente, as mulheres da antiga República Democrática Alemã (RDA), a Alemanha comunista, gozavam de igualdade de direitos. Aparentemente, podiam exercer qualquer profissão, na fábrica, na agricultura como engenheira, médica ou tratorista --a vida profissional era algo indiscutível, mesmo para as que tinham filhos. O Estado lhes permitia combinar família e trabalho. As crianças frequentavam escola de tempo integral e para os mais novos havia jardins-de-infância e creches.

Reprodução
Imagem cedida pela *Deutsche Welle* mostra alemã trabalhando em uma fábrica de motores instalada na antiga Alemanha comunista
Imagem cedida pela Deutsche Welle mostra alemã trabalhando em uma fábrica de motores instalada na antiga Alemanha comunista

No decorrer da década de 80, já antes da queda do Muro, a imagem da camarada emancipada começou a apresentar falhas, como constatou a socióloga Hildegard Maria Nickel em seus estudos. As mulheres estavam cada vez mais descontentes, pois, depois do trabalho, ainda tinham que dar conta de todas as tarefas domésticas. Além disso, em geral, funções políticas e cargos governamentais continuavam fora de seu alcance.

Nesse ponto, a vida feminina na Alemanha Oriental assemelhava à do lado ocidental, onde poucas mulheres participavam do Parlamento. nos anos 1980. Uma legislação que garantisse maior justiça e igualdade, como a exigência de uma quota de participação feminina, ainda era incipiente. O lugar da alemã ocidental era ao lado do seu marido. Como mulher, ela devia se dedicar exclusivamente às crianças, ao marido e aos afazeres domésticos.

Nickel se ocupou de estudos de gênero na Universidade Humboldt, ainda na antiga Berlim Oriental. Renovação na RDA? Dizia-se que somente com a ajuda de quotas de participação seria possível uma participação apropriada em posições de liderança e competência.

Nickel conhecia o desgosto de muitas mulheres alemãs orientais de serem honradas somente uma vez ao ano, em 8 de março, Dia Internacional da Mulher. A partir daí, não foi possível, no entanto, o desenvolvimento de um movimento político enérgico, já que as mudanças de 1989-90 ocorreram rápido demais.

Petra Bläss, política alemã oriental que, após a reunificação alemã, chegou a ocupar o cargo de vice-presidente do Bundestag, câmara baixa do Parlamento alemão, afirma que, por ocasião da queda do Muro, as alemãs orientais tinham claras críticas sobre o que a RDA entendia por igualdade de direitos.

Bläss afirma que, de repente, o movimento feminista da Alemanha Oriental se viu na situação de ter que defender muito daquilo que anteriormente criticara, tornando-se uma espécie de pioneiro na luta pela preservação das conquistas sociais da RDA.

Os meses entre 9 de novembro de 1989 e 18 de março de 1990 são considerados como o apogeu do movimento feminista independente na RDA. Muitas mulheres tomavam a palavra para expressar suas exigências. Manifestos e cartas abertas foram escritos. Foi nesse período que a atual chefe alemã de governo, Angela Merkel, começou a ganhar experiência na política.

Retrocesso

Após 18 de março de 1990, teve início o retrocesso em termos de igualdade de oportunidades entre mulheres e homens, tanto no leste como no oeste. Carola von Braun, política liberal que ocupava na época o cargo de responsável por assuntos da mulher em Berlim Ocidental, afirma que "de repente, de um dia para outro, o movimento feminista ocidental foi decepado --não posso expressar a coisa de outra forma".

Segundo ela, a grande questão passou a ser se a reunificação viria ou não. "E se sim, sob que condições? Estes eram os temas absolutamente dominantes na época. E afirmo que não foi somente a política para a mulher e para a igualdade de direitos que sofreram. A partir de 1989, vivenciamos um retrocesso em todas os grandes setores de reforma. Isso deve ser dito bem claro."

Muitas das mulheres alemãs orientais até então emancipadas perderam seus postos de trabalho, perdendo também sua independência econômica. Para elas, a reunificação não foi uma libertação, mas sim um retorno aos antigos padrões de comportamento.

Outro retrocesso para elas foram as novas regras sobre o aborto contidas no Parágrafo 218 da legislação. Na RDA o aborto tinha uma regulamentação liberal e era financiado pelo Estado. Na Alemanha reunificada, as mulheres têm que arcar com os custos e, mesmo assim, se submeter a um complicado processo de aprovação. Na opinião de Nickel, isso contribuiu para que muitos --não apenas mulheres-- que antes eram politicamente ativos se sentissem frustrados e se retirassem da política.

Comentários dos leitores
Chris Maria (231) 11/11/2009 17h30
Chris Maria (231) 11/11/2009 17h30
"Os 192 Estados-membros da Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) consagraram nesta quarta-feira o dia 18 de julho como Dia Internacional Nelson Mandela"
► Uma pessoa extraordinária. Parabéns!
5 opiniões
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Elton Santos (9) 10/11/2009 17h03
Elton Santos (9) 10/11/2009 17h03
O Muro de Berlim foi brincadeira de criança comparado a outro muro que não separa mais o primeiro do segundo mundo pois este já não existe mais e sim o que separa o primeiro do terceiro. O Muro da fronteira do Estados Unidos com o México representa justamente isso: As classes abastadas devem estar seguras das que servem apenas como consumidoras nessa nova desordem mundial baseada no capital. Nessa fronteira se mata muito mais, as diferenças são muito maiores mas isso não importa não é mesmo? A democracia é um patrimônio que a humanidade não pode abrir mão nunca mais, mas não podemos também justificar com ela o extermínio através da fome e miséria que o mundo presencia causado pelo neo-liberalismo. 9 opiniões
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Juca Bala (84) 10/11/2009 11h33
Juca Bala (84) 10/11/2009 11h33
Foi bonita a festa de comemoração da queda do muro de Berlim e do fim do símbolo de um regime desumano e retrógrado. Será que o Chico vai cantar "Foi bonita a festa pá" rsrsrs. "A queda do muro --escreveu João Paulo 2°-- como a queda de perigosos simulacros e de uma ideologia opressiva, demonstraram que as liberdades fundamentais, que dão significado à vida humana, não podem ser reprimidas nem sufocadas por muito tempo".(Ou viva o neo-liberalismo) Santas palavras... ainda não aprendidas pelos muitos cabeças de bagre por aqui. 5 opiniões
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