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Aprendizado começa antes
da entrada da criança na escola


da Folha de S.Paulo

A educação escolar deve começar bem mais cedo do que aos 7 anos de idade, que é quando a legislação brasileira torna obrigatória a frequência a uma escola.

A pré-escola _ou, como os especialistas chamam, a educação infantil (0 a 6 anos)_ é vista cada vez mais como uma das fases essenciais da aprendizagem, a relação das pessoas com o conhecimento, é sempre a mesma, independentemente da idade. Trata-se de formar um patrimônio", diz a educadora Monique Deheinzelin, autora de vários livros sobre o construtivismo.

Essa idéia põe em xeque boa parte das creches e pré-escolas do país. No Brasil, especialistas chegam a classificar muitas dessas instituições como meros "depósitos de criança". Ou seja, não estão cumprindo seu papel escolar.

Por definição, a escola é o lugar de transmissão de um patrimônio cultural. "A educação infantil já é desde sempre o acesso aos elementos da cultura", afirma Deheinzelin. "O importante é que esse período não é algo preparatório para o que viria depois, é desde o início aquisição de conhecimentos."

Isso não quer dizer que se deve começar a ensinar números ou letras do alfabeto a um bebê. Mas que, compreendendo-se as fases de desenvolvimento da criança, é possível oferecer um ambiente rico para a aprendizagem.

Por exemplo, na convivência com livros e jornais, as crianças constroem um repertório de textos que são usados pela sociedade. Quando se conta ou lê uma história para a criança, mesmo de 1 ano de idade, ela está se alfabetizando.

Filhos de analfabetos têm dificuldade para aprender a ler e escrever porque falta isso em casa. Nos primeiros anos de idade, o mais importante para a criança é um ambiente seguro e afetivo. Seguro quer dizer, por exemplo, não ter em casa brigas físicas entre pai e mãe. Afeto pode-se transmitir com um simples olhar ou ouvindo o que a criança tem a dizer.

Até a forma de se relacionar com as pessoas é aprendida muito cedo. "O convívio é importante para o desenvolvimento e a escola proporciona isso", diz Deheinzelin.

As fases de desenvolvimento determinam como se deve trabalhar a aprendizagem. Até em torno dos 5 anos de idade, isso ocorre essencialmente com brincadeiras.

Os brinquedos educativos são um exemplo de como é possível oferecer às crianças atividades que conduzem a determinadas aprendizagens. Para que se crie uma boa relação com o aprendizado, o básico é que isso seja feito com prazer _da criança e do adulto.

A boa educação infantil segue o mesmo princípio. Simplificando, pode-se dizer que se trata de oferecer brincadeiras educativas adequadas às fases de desenvolvimento (os brinquedos indicam a faixa etária a que se destinam).

"A partir dos 5 anos, a criança já pede para aprender certas coisas, que você tem de dar de forma mais sistematizada", afirma Maria Malta Campos, presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação e coordenadora dos parâmetros curriculares nacionais de educação infantil.

É aí que entra o problema da organização do ensino brasileiro. "O nosso sistema educacional cinde uma fase de desenvolvimento que vai mais ou menos dos 5 anos aos 8, 9 anos", diz Campos, referindo-se ao fato de a 1ª série do 1º grau só começar aos 7 anos.

"As famílias põem o filho em uma escola e depois escolhem outra. Não deixe para mudar a criança de escola na 1ª série. Faça isso no pré (5 ou 6 anos)", aconselha.

Escolas que só começam na 1ª série sentem esse problema. "O que a gente quer é que a criança tenha feito pré-escola. Mas eu preferiria que o Brasil começasse a 1ª série aos 6 anos de idade", diz o diretor do Colégio Santo Américo, Moacir Pinheiro Guimarães.

Algumas instituições reorganizaram a seriação tradicional. A Escola Vera Cruz, por exemplo, atende no mesmo prédio do maternal (3 anos) à 1ª série do 1º grau (7 anos) _o que implica reformulação completa da metodologia.

A Escola da Vila tem um ciclo para crianças de 6 a 8 anos (pré a 2ª série) _que é o momento mais intenso de alfabetização.

A neurologia tem chegado a conclusões semelhantes às dos educadores. O cérebro se forma na relação da criança com o meio. Um ambiente rico leva à formação de um cérebro com mais recursos. O exemplo de como se forma no cérebro a capacidade de enxergar ilustra a importância dessa estimulação do ambiente.

Quando a luz bate no olho do bebê, estimula a formação de "fios" (axônios) que interligam os neurônios (as células do cérebro). Se, por alguma razão, os olhos do bebê ficarem sempre cobertos, os "fios" não se formam e a criança, quando crescer, será cega, mesmo que os olhos sejam descobertos.

Cada coisa aprendida implica a formação de uma "fiação" no cérebro. Quanto mais nova a criança, mais fácil formar essas "fiações". Parte disso é genético. Outra, não.

Até em torno dos 10 anos, os neurônios se interconectam muito rapidamente. Depois, a velocidade vai diminuindo. Um adulto tem maior dificuldade para aprender porque seu cérebro cria "conexões" mais lentamente.

Mas, se a criança não estiver gostando de uma atividade ou de um brinquedo educativo, se a aula de inglês cansar mais do que der prazer, não adianta insistir: o elo com a aprendizagem já estará rompido.
 FRASES
"A tendência é investir cada vez mais em formação. As crianças recebem muita informação fora da sala de aula"
(Sylvio Gomide, presideten do Grupo - associação de escolas particulares)

"Escola forte ou fraca não existe. O que existe são escolas que priorizam o conteúdo e escolas que privilegiam atividades que estiumulam o pensamento autônomo"
(Glaura Fernandes, psicopedagoga)

"Guiar-se pela objetividade e praticidade do mundo moderno e escolher uma escola pela localização é um equívoco"
(Rosely Sayão, psicóloga e colunista da Folha)

"Até a 4ª série uma escola competente instrumentaliza o aluno a ler e entender e, depois, a expressar-se. Depois, na 5ª série, os professores ensinam o conteúdo de cada matéria"
(Aércio Lombardi, diretor do Colégio Rousseau)




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