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17/10/2002
-
11h23
da Folha de S.Paulo
Há na língua palavras cujo referencial é instável. Isso quer dizer que indicam a situação de seres e de coisas e o momento da ação em relação à pessoa que fala. Essa propriedade de que são dotadas recebe o nome de dêixis e exprime-se, em particular, nos pronomes demonstrativos.
O significado das formas isto, isso, aquilo e de seus correspondentes masculinos e femininos depende inteiramente do contexto. Isto se refere ao que está próximo da primeira pessoa do discurso; isso indica o que está perto do interlocutor, e aquilo, o que se distancia de ambos.
Um exemplo disso está no fragmento do conto "Singular Ocorrência", de Machado de Assis, no qual dois homens estão conversando quando avistam ao longe uma mulher: "- (...) Está vendo aquela dama que vai entrando na igreja da Cruz?". O demonstrativo aquela assinala a distância da mulher em relação aos dois. Na seqüência do diálogo, lemos: "- (...) Esse olhar está dizendo que a dama é uma sua recordação de outro tempo...". Esse aponta o olhar do interlocutor.
Certo jornalista optou pela seguinte construção ao referir-se a si próprio em coluna assinada: "A pesquisa foi divulgada ontem durante a Conferência das Américas, para a qual inadvertidamente foi convidado este repórter".
As idéias de afastamento e de proximidade podem assumir caráter mental, não espacial: "esta minha paixão pela literatura" ou "essa sua mania de falar sozinho".
Os demonstrativos podem ainda fazer remissões a partes do enunciado. É a função anafórica, outra de suas propriedades. No conto "Noite de Almirante", também de Machado de Assis, lemos: "Deolindo prepara uma palavra que lhe diga. Já formulou esta: "Jurei e cumpri", mas procura outra...". A forma esta serve para anunciar o que será dito depois.
Em outro trecho do mesmo conto, Genoveva recebe o par de brincos a ela oferecido por Deolindo: "-Realmente são muito bonitos.- Quero crer que o próprio marujo concordou com essa opinião". O pronome essa retoma o que foi mencionado antes.
Mas, quando se faz menção ao último elemento de uma série anteriormente enunciada, é o pronome este que se usa. Assim: "... Guimarães Rosa, Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Este foi o mais combativo".
Para aludir a dois elementos já citados, empregam-se este (para o último) e aquele (para o primeiro). Assim: "... Magalhães e Capanema, este um dos mais preeminentes nomes do PSD e aquele um representante da UDN".
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha
Leia mais:
Atualidades: Os (des)caminhos da globalização
História: Indústria, colonização e imperialismo
Geografia: Texto retifica informações sobre grupos de rochas
Física: A física e a pressão arterial
Matemática: Uma função de cara curiosa
Português: Pronomes podem indicar posição dos seres no espaço
THAÍS NICOLETI DE CAMARGOda Folha de S.Paulo
Há na língua palavras cujo referencial é instável. Isso quer dizer que indicam a situação de seres e de coisas e o momento da ação em relação à pessoa que fala. Essa propriedade de que são dotadas recebe o nome de dêixis e exprime-se, em particular, nos pronomes demonstrativos.
O significado das formas isto, isso, aquilo e de seus correspondentes masculinos e femininos depende inteiramente do contexto. Isto se refere ao que está próximo da primeira pessoa do discurso; isso indica o que está perto do interlocutor, e aquilo, o que se distancia de ambos.
Um exemplo disso está no fragmento do conto "Singular Ocorrência", de Machado de Assis, no qual dois homens estão conversando quando avistam ao longe uma mulher: "- (...) Está vendo aquela dama que vai entrando na igreja da Cruz?". O demonstrativo aquela assinala a distância da mulher em relação aos dois. Na seqüência do diálogo, lemos: "- (...) Esse olhar está dizendo que a dama é uma sua recordação de outro tempo...". Esse aponta o olhar do interlocutor.
Certo jornalista optou pela seguinte construção ao referir-se a si próprio em coluna assinada: "A pesquisa foi divulgada ontem durante a Conferência das Américas, para a qual inadvertidamente foi convidado este repórter".
As idéias de afastamento e de proximidade podem assumir caráter mental, não espacial: "esta minha paixão pela literatura" ou "essa sua mania de falar sozinho".
Os demonstrativos podem ainda fazer remissões a partes do enunciado. É a função anafórica, outra de suas propriedades. No conto "Noite de Almirante", também de Machado de Assis, lemos: "Deolindo prepara uma palavra que lhe diga. Já formulou esta: "Jurei e cumpri", mas procura outra...". A forma esta serve para anunciar o que será dito depois.
Em outro trecho do mesmo conto, Genoveva recebe o par de brincos a ela oferecido por Deolindo: "-Realmente são muito bonitos.- Quero crer que o próprio marujo concordou com essa opinião". O pronome essa retoma o que foi mencionado antes.
Mas, quando se faz menção ao último elemento de uma série anteriormente enunciada, é o pronome este que se usa. Assim: "... Guimarães Rosa, Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Este foi o mais combativo".
Para aludir a dois elementos já citados, empregam-se este (para o último) e aquele (para o primeiro). Assim: "... Magalhães e Capanema, este um dos mais preeminentes nomes do PSD e aquele um representante da UDN".
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha
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