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20/02/2003 - 03h33

Violência moral pode levar jovem a reações extremadas

ANTÔNIO GOIS
da Folha de S.Paulo, no Rio
ARMANDO PEREIRA FILHO
da Folha de S.Paulo

De repente, R., 4, passou a ficar mudo na frente de pessoas estranhas à família. Nenhum exame apontava causas físicas para a disfunção. Sua mãe, a advogada C., descobriu que o garoto, por ser tímido, quase não falava na sua classe, em uma escolinha de educação infantil em Santos (SP).

A professora e os coleguinhas diziam que ele tinha perdido a língua. A brincadeira, aparentemente inocente, causou o bloqueio na fala. R. foi vítima de um fenômeno que começa a ser estudado no Brasil: a violência moral.

Os resultados dessa violência podem causar desinteresse pelos estudos, depressão ou até reações extremamente violentas.

Como a que Edmar Aparecido Freitas, 18, teve ao se suicidar após ferir seis alunos, uma professora e um funcionário da escola onde estudou em Tiúva (interior de SP), no mês passado. Freitas confidenciou a amigos que se sentia ridicularizado com um apelido e excluído pelos colegas de classe.

No Rio de Janeiro, a ONG (organização não-governamental) Abrapia (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência) começou na semana passada a desenvolver um projeto, com patrocínio da Petrobras, com 11 escolas públicas e particulares. O objetivo é ensinar e debater com professores, pais e alunos formas de evitar que essas situações aconteçam.

A violência moral já é objeto de preocupação de países europeus. Na maioria deles, há normas do Ministério da Educação que obrigam a escola a evitar esses atos. O termo mais usado para definir esse problema é "bullying", que em inglês pode significar tirania, ameaça ou intimidação.

No Brasil, ainda não há uma palavra consensual. O termo violência moral é adaptação do francês assédio moral, mas há quem defenda outros. "Não há ainda uma palavra no Brasil que defina o "bullying". Em geral, são situações de maus-tratos, opressão e humilhação que acontecem entre as crianças", explica Lauro Monteiro Filho, presidente da Abrapia.

O "bullying" resume situações em que o aluno é, com frequência, ameaçado, extorquido, insultado, excluído ou simplesmente apelidado com algum nome preconceituoso ou que não goste.

Em todo o mundo, especialistas concordam que o papel dos pais (de agressores e agredidos) é fundamental para combater a violência moral nas escolas. Eles precisam saber lidar com a situação.

No caso dos pais de agressores, é preciso que se convençam e mostrem aos filhos que esse comportamento é prejudicial a eles.

"Se isso não for combatido desde cedo, a criança agressora vai aprender que esse tipo de comportamento a faz ser líder do grupo, ter ganhos materiais ou atrair atenções. Ela vai usar essas agressões como método e vai reproduzir no futuro esse comportamento na escola, no trânsito e na família", explica Monteiro Filho.

Adrienne Katz, da ONG inglesa Young Voice, diz que a estratégia de entidades daquele país para detectar o problema é tentar criar linha direta com as crianças. Uma vez detectado, pais e escola são orientados a resolver o problema.

"O papel dos pais é muito importante porque eles precisam apoiar a iniciativa da escola. Se um colégio tenta ensinar a criança a não ser violenta, mas os pais mandam seus filhos reagirem quando sofrerem o "bullying", isso só atrapalhará na resolução do problema", diz Katz.

A experiência européia mostra também que quem começou a lidar com o problema teve que convencer pais e escolas de que aquelas situações pesquisadas não poderiam ser consideradas naturais.

"O fenômeno, antes mal conhecido e muitas vezes menosprezado pelos adultos como se fosse coisa de criança, não se limita a conflitos ocasionais ou esporádicos entre alunos. São situações reiteradas que geram mal-estar psicológico e afetam a segurança, o rendimento e a frequência escolar", diz Ana Tomás Almeida, da Universidade do Minho (Portugal) e da Conferência Européia de Combate ao Bullying.
 

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