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09/09/2003 - 08h49

Lula lança plano para alfabetizar 20 milhões

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GABRIELA ATHIAS
da Folha de S.Paulo, em Brasília

Criticando a classe política e a elite brasileira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou ontem, com cerimônia no Palácio do Planalto, o programa que pretende ser a marca do seu governo na educação: a tentativa de erradicar o analfabetismo até 2006.

O ministro da Educação, Cristovam Buarque, comparou o lançamento do programa, chamado de Brasil Alfabetizado, à abolição da escravatura. "A abolição foi incompleta. Ou acabamos com o analfabetismo e com a fome ou com a hipocrisia de dizer que acabamos com a escravidão", disse Cristovam em seu discurso.

A meta do Brasil Alfabetizado --que já foi chamado de Analfabetismo Zero-- é educar, nos próximos quatro anos, 20 milhões de pessoas a partir de 15 anos. Cristovam afirmou ter superestimado em 4 milhões o número de analfabetos em relação aos dados do Censo 2000, já contando com pessoas que, oficialmente, aprenderam a ler e a escrever, mas que de fato não sabem. São os chamados analfabetos funcionais.

Sociedade

Em seu discurso, Lula enfatizou a importância da participação da sociedade para o êxito do programa. Em nenhum momento ele se comprometeu pessoalmente com a meta de erradicar o analfabetismo. "Precisamos assumir a responsabilidade de que essa não é uma tarefa do ministro da Educação, nem do secretário de Estado da Educação ou do secretário municipal. Brasileiros e brasileiras que aprenderam a ler e a escrever precisam socializar seus conhecimentos."

Depois de afirmar que cada cidadão deveria se perguntar o que tem feito para tornar o Brasil mais justo, o presidente afirmou que "não são poucos os casos" em que há empregadas domésticas analfabetas trabalhando para professores de pós-graduação.

Lula disse ainda que não há país que tenha conseguido se desenvolver sem ter investido em educação. Repetindo o que afirmou a empresários na semana passada, na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, ocorrida no Planalto, Lula cobrou uma ação efetiva da iniciativa privada: "Se cada empresário alfabetizasse 10% dos seus funcionários, em um ano acabaríamos com esse problema".

Cristovam Buarque afirmou que o analfabetismo só não foi erradicado no país porque "não é contagioso". Esse é o motivo pelo qual, segundo ele, a elite nunca tratou disso como um problema a ser resolvido em caráter de urgência. Ainda segundo o ministro, a paralisia infantil só foi erradicada no Brasil porque "pega em rico".

"A elite brasileira despreza o povo", afirmou o ministro. Segundo ele, o analfabetismo poderia ter sido erradicado no século 19. A Unesco (braço das Nações Unidas para educação e cultura) considera que um país erradicou o analfabetismo quando sua taxa é de, no máximo, 6% entre a população maior de 15 anos.

Obstáculos

Lula disse que uma das dificuldades a serem vencidas pelo programa é a identificação dos analfabetos, já que muitos têm vergonha de admitir que não sabem ler e escrever.

Ele citou o exemplo de sua família. "Minha mãe morreu com 64 anos sem saber fazer um "O" com o copo", disse, contando em seguida que seu pai ia trabalhar em Santos e comprava sempre um jornal. "Só não via de cabeça para baixo, coitado, porque tinha figura. Mas isso era a demonstração da vontade que ele tinha de ler."

Lula ironizou o fato de não ter diploma universitário. "Pela primeira vez na história a República tem um presidente e um vice-presidente que não têm diploma universitário. Possivelmente, se nós tivéssemos, poderíamos fazer muito mais."

Depoimento

O evento teve a presença de cerca de 300 convidados. Houve um curto depoimento de Roberto Pereira de Araújo, 34, que acabou de se alfabetizar. Ele nasceu no interior do Rio Grande do Norte, mas trabalha como operário em São Carlos, interior paulista.

"Se a gente não começasse a trabalhar às duas horas da madrugada [no Nordeste], até o jegue, que não vai para a escola, morreria de fome", disse ele ao explicar o porquê de não ter estudado.

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