Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
22/09/2003 - 02h30

Repetência volta a crescer no ensino médio

Publicidade

ANTÔNIO GOIS
da Folha de S.Paulo, no Rio

O Brasil não está conseguindo vencer, no ritmo desejado, o combate contra o que é considerado por muitos educadores o maior mal de nossa educação: a repetência. Dados recém-tabulados pelo Ministério da Educação por meio do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) mostram que um em cada cinco estudantes dos ensinos fundamental e médio repetiu, em 2002, a mesma série cursada em 2001.

O aumento mais expressivo da taxa de repetência aconteceu no ensino médio --o antigo segundo grau. Na passagem de 1998 para 1999, a taxa de repetência estava em 17,2%, a mais baixa em quase 20 anos. A partir daí, passou a crescer até chegar a 20,2% em 2001/2002. Isso significa, aproximadamente, um universo de 1,7 milhão de alunos reprovados.

No ensino fundamental, os dados mais recentes indicam que houve queda após três anos nos quais a taxa teve pequenos aumentos. Na passagem de 1998 para 1999, o índice estava em 21,3%. Passou, no período seguinte, para 21,6% --depois para 21,7% e, em 2001/2002, recuou para 20%. Em números absolutos, foram 7 milhões de alunos que não conseguiram avançar para a fase seguinte.

Apesar da queda no último ano, as taxas no ensino fundamental ainda podem ser consideradas absurdas se comparadas a índices internacionais. Em 2001, a Unesco comparou 107 países que tinham dados para aquele ano sobre repetência no ensino fundamental. Apenas cinco países, todos eles africanos, apresentaram taxas maiores do que as do Brasil. Outros dois (Burundi e Congo) tiveram taxa semelhante: 25%.

As estatísticas da Unesco e do MEC para o mesmo ano são diferentes porque a primeira, para poder comparar todos os países, calcula a taxa levando em conta os indicadores da 1ª à 6ª série. O MEC leva em conta o período da 1ª à 8ª série.

Custo elevado

Além de prejudicar o aluno, a repetência no Brasil tem também um alto custo para o governo. A conta é simples: se o estudante demora dez anos (em vez de oito) para completar o ensino fundamental, o poder público terá de investir 25% a mais nesse aluno para que ele consiga atingir o nível de ensino desejado.

O consultor em educação João Batista Oliveira, idealizador de um programa de aceleração de aprendizagem e ex-secretário-executivo do MEC, estima em R$ 7 bilhões o gasto anual com repetência no ensino fundamental.

Esse valor leva em conta o número de estudantes com mais de 14 anos --idade esperada para a conclusão do ensino fundamental-- que ainda estão nesse nível de ensino. "Na pior das hipóteses, esse dinheiro serviria para aumentar o salário do professor sensivelmente", afirma Oliveira.

As altas taxas de repetência no Brasil ainda poderiam ser justificadas se os jovens chegassem ao final do ensino médio com um bom nível de ensino. Mas as avaliações internacionais mostram que isso não acontece de fato.

"Somos campeões de repetência e ficamos nos últimos lugares do Pisa [sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Alunos]. O que está acontecendo é que a gente repete, mas não ensina", diz Rose Neubauer, ex-secretária de Educação do Estado de São Paulo e conselheira do Conselho Nacional de Educação.

Para a secretária de ensino infantil e fundamental do MEC, Maria José Feres, o grande desafio é fazer a criança aprender. "Apesar desses índices altos de repetência, o Saeb [exame do MEC que avalia a qualidade de ensino] mostra que 59% das crianças na 4ª série não sabem ler e 52% ainda não sabem fazer operações matemáticas simples", diz Feres.

Disciplina

Para Neubauer, a cultura da repetência resiste no Brasil porque é usada como instrumento de disciplina. "A taxa chegou a um patamar em que, após queda expressiva na década de 90, fica mais difícil de reduzir. Para isso, teremos de continuar com políticas fortes contra a repetência."

Na avaliação de Oliveira, a repetência só vai diminuir significativamente no Brasil quando o país enfrentar a questão do fluxo escolar --alunos estudando nas séries indicadas para a idade-- e da alfabetização infantil: "Não houve nenhuma reforma na educação que melhorasse o sistema a ponto de a taxa cair. Houve apenas tentativas isoladas de atacar a questão do fluxo escolar, mas isso foi diminuindo gradativamente."

Ele critica ainda o método de alfabetização utilizado na maioria das escolas. "Para acabar com a repetência, a primeira coisa que o professor tem de fazer é ensinar a criança a ler. O Brasil adota uma concepção de alfabetização que ninguém mais usa no mundo."

Feres, do MEC, diz que o novo programa Toda Criança Aprendendo deve combater a repetência. "Estamos chamando Estados e municípios para firmar um pacto pela educação de qualidade."

Leia mais
  • Artigo: Os inesperados problemas da educação
  • Evasão escolar aumenta em quatro anos
  • Mães criticam formação insuficiente
  • Escolas que adotam ciclos no Brasil são minoria
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página